Hoje em dia seria inconcebível ver atores
consagrados e reconhecidos como Tom Cruise e Sean Penn serem coadjuvantes do pouco
lembrado Timothy Hutton (ganhador do Oscar por “Gente Como A Gente”), porém, em
projetos de início de carreira, tais curiosidades se sucedem, e “Toque de
Recolher”, a exemplo de diversos filmes daquele período com elencos numerosos
de novos talentos emergentes reunia um time de jovens atores que incluía também
Giancarlo Esposito (de “Maze Runner”) e Evan Handler (da série “Californication”).
Na Escola Militar Bunker Hill, onde são
formados cadetes ingressos na carreira militar desde muito cedo –alguns com
pouco mais de 12 anos de idade –o jovem Brian Moreland (Timothy Hutton) é
nomeado com honras cadete major, faltando um ano para formar-se e prestar
testes para a tão sonhada West Point. Motivo de orgulho para seu mentor, o
General Harlan Bache (George C. Scott) e de admiração para seus colegas, entre
eles seu melhor amigo, o cadete capitão Alex Dwyer (Sean Penn).
Contudo, rumos dramáticos e inesperados mudam
as coisas.
A Academia é vendida pelo governo e seu
iminente fechamento anunciado para dali um ano –quando seu terreno cercado de
longa tradição servirá para as dependências de um condomínio –termina por
deixar seus estudantes perplexos.
Cuidadosamente, o filme dirigido por Harold
Becker (de “Vítimas de Uma Paixão”) manipula os elementos com calma acirrando
lentamente suas circunstâncias: Além da situação a um só tempo injusta e
improvável, os jovens (sobretudo, Moreland) têm de lidar com a perda abrupta de
sua figura principal de autoridade; o General Bache acaba acusado de atirar num
civil durante um incidente ocorrido entre os cadetes e um grupos de jovens
provocadores. Ele é levado sob custódia e, pouco depois, internado com problemas
cardíacos.
Sem adultos para lhes instruir com algum bom
senso prático, os jovens precisam tomar suas próprias decisões e, diante da
arrogância de burocratas dispostos a acelerar ainda mais o processo já
acelerado de fechamento da escola, o cadete major Moreland toma uma decisão
radical; ele confisca os armamentos e coloca os rapazes de prontidão.
A escola está, portanto, de portas fechadas
para todo o mundo lá fora.
Suas exigências: Rever todo o procedimento
legal que levará ao fechamento da escola.
Entretanto, esses apelos sequer são ouvidos
pelas autoridades externas –tudo o que eles enxergam é um grupo de jovens
rebelados usando de seu treinamento militar para viabilizar uma atitude que
enxergam como terrorista.
Curiosamente, o próprio filme que protagonizam
não se furta de enfatizar uma certa reprimenda: O perfil dos realizadores
hollywoodianos de hoje e de sempre, como se sabe, é majoritariamente
anti-militarista, e é assim que se posiciona o filme de Becker. Embora o
diretor ostente aquela paciência para construir a premissa e as motivações de
seus personagens que diretores atuais não têm, ele vai aos poucos revelando sua
inclinação, na forma de personagens de discursos ora inquisitivos (o personagem
de Sean Penn vai adquirindo uma conduta e uma verve cada vez mais democrata),
ora paternalistas (o personagem de Ronny Cox, de “Amargo Pesadelo”,
presunçosamente sereno), terminando por não esconder uma faceta bastante
tendenciosa: A circunstância tão bem construída ao longo do filme –e que gera
momentos de notável suspense –só se perde na conclusão quase redundante na qual
aqueles que não cedem em suas convicções surgem como truculentos e obcecados; e
nesse sentido, o personagem de Tom Cruise chama mais a atenção que os demais
por um trabalho bastante competente do ator.
Adaptado do livro “Father
Sky”, de Devery Freeman, o bom filme de Harold Becker se sobressai por um clima
fascinante de tensão que consegue manter e aprimorar do início ao fim, mas se
prejudica por uma postura de negligência aos próprios valores com uma conclusão
que banaliza a iniciativa de seus protagonistas.
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