quinta-feira, 8 de março de 2018

Gente Como A Gente

Naturalmente, quando optou por aventurar-se atrás das câmeras, o veterano ator Robert Redford (dono de uma ampla carreira onde se destacavam parcerias com o diretor Sidney Pollack, como “Mais Forte Que A Vingança”, “Nosso Amor de Ontem” ou “Um Homem Fora de Série”) o fez com um projeto que salientava aquilo do qual ele presumivelmente mais entendia: O campo da interpretação.
O melodrama “Gente Como A Gente” dedica o olhar de sua câmera à observação cautelosa e atenciosa dos meandros e detalhes profundos acerca de sentimentos de ordem peculiar que surgem inesperadamente em seus personagens a partir da imprevisibilidade do luto, e nisso o trabalho em conjunto da direção de Redford e do roteiro de Alvin Sargent é de um equilíbrio admirável.
É uma atmosfera de vazio e desalento a que cerca a Família Jarret.
Um de seus dois filhos morreu num acidente de barco e esse episódio traumático marca particularmente o dia-a-dia do caçula Conrad (Timothy Hutton, um dos mais jovens vencedores do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante da história).
A direção de Redford trabalha muito com dores reprimidas –e nisso, ele se percebe hábil –deixando claro que será este o caminho adotado para a narrativa: Logo, Conrad vai se tratar com um psiquiatra (Judd Hirsch, espirituoso) e suas sessões pontuam a trama enquanto nos é mostrado seu cotidiano na escola e em casa, onde sua vulnerabilidade oscila entre a dolorosa indiferença da mãe (Mary Tyler Moore, assumindo corajosamente uma personagem definida pela apatia) e a amável atenção do pai (Donald Sutherland, sempre sensacional).
Talvez a grande surpresa proporcionada pelo filme fosse mesmo o fato dele, em sua simplicidade, ter conquistado o Oscar de Melhor Filme e de Melhor Diretor num ano que tinha como candidato um trabalho fenomenal como “Touro Indomável”, de Martin Scorsese.

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