O falecimento do astro juvenil Corey Haim, em
2010 devido a uma pneumonia acarretada por uma complicação cardíaca genética,
não chegou a interromper o que poderia ter tido uma bela carreira –antes disso,
seus projetos e filmes realizados nas décadas de 1990 e 2000 já apontavam uma
espécie de decadência deflagrada por vício de drogas e uma vida prejudicada por
abusos.
Ainda assim, a perda de Haim foi tão impactante
que ela afetou também a carreira de Corey Feldman, seu grande amigo e
colaborador em alguns filmes (ao menos aqueles mais lembrados), que após sua
partida entrou num ostracismo hedonista, transformando-se numa caricatura de si
mesmo e deixando completamente de lado a presença em filmes relevantes.
É provável que a produção mais emblemática da
parceria dos dois tenha sido o divertido “Sem Licença Para Dirigir”, que eles
fizeram um ano depois do também marcante “Os Garotos Perdidos” (onde eram
coadjuvantes e mais jovens) e um ano antes do pouco conhecido e pouco
interessante “Um Sonho Diferente”.
Já com a idade ideal para viver o protagonista
jovem e descolado, Corey Haim interpreta Les Anderson, adolescente de 16 anos
cuja meta mais almejada é tirar a carteira de motorista –objetivo este
ilustrado com a ansiedade desesperadora típica da juventude no prólogo surreal,
uma perseguição de carro em que o perseguidor é o opressor motorista do ônibus
escolar (o veículo que aqueles que não dirigem estão fadados a usar para se
locomover).
Numa observação de valores bem
norte-americanos, fica claro para Les e para a plateia que dirigir um carro
significa assim conquistar certa independência em relação aos pais; respeito em
relação aos amigos e alguma mínima atenção em relação às garotas, sobretudo, em
relação à linda Mercedes (Heather Graham, um colírio para os olhos).
Tal chance até aparece de forma inesperada; Em
uma festa (daqueles típicas dos anos 1980, onde os garotos mais jovens não
podiam, sob decreto algum, permitir que fossem vistos chegando de carro com
suas mães), Mercedes tem uma briga com seu atual namorado. A fim de dispensá-lo
em definitivo, ela conta com a ajuda de Les (que estava por perto, por puro
acaso) para confirmar um encontro hipotético que os dois tinham no sábado à
noite.
Com isso em mente, Les ganha uma motivação a
mais para passar no exame para motorista que, além da prova teórica feita por
computador (na qual ele, diferente da irmã gêmea, se dá muito mal), inclui um
teste prático com um instrutor tão hilário quanto ranzinza (ele manda às favas
as normas de trânsito; para ele, Les só passará se ao manobrar o carro não
derrubar uma única gota de seu precioso café!).
Como não passou na prova teórica, Les fica sem
habilitação –e como tentou omitir isso de seu pai (Richard Masur,
engraçadíssimo) e de sua mãe (Carol Kane), ele está de castigo; sem poder
colocar o pé para fora de casa que o diga dirigir um carro!
Entretanto, para sua surpresa a própria
Mercedes lhe telefona indagando sobre seu encontro (!), e Les tem então um
impasse que não demora a se resolver: Ficar em casa onde seus pais dormem
alheios a tudo o mais, ou sair furtivamente com o cadilac de seu avô –deixado
aos cuidados da família devido a uma viagem ao México –ter um encontro com a
garota de seus sonhos e voltar para casa com a possibilidade de fingir para os
pais que nada aconteceu?
Na habilidade insuspeita que muitos artesãos da
época (especialmente os que se encarregavam de filmes adolescentes) tinham para
elevar situações corriqueiras e banais ao patamar de grandes aventuras, o
diretor Greg Beeman conduz com frescor e energia seu protagonista por uma noite
tumultuada em que a aflição de manter o carro intocado e livre de indícios de
sua escapada se mescla com a empolgação lúdica de estar com garota que sempre cobiçou.
Desnecessário dizer que o que começa como um
encontro inocente e provavelmente agradável ganha ares de pesadelo: Mercedes
acaba se embriagando de champagne, o que a leva a dormir dentro do porta-malas
quase todo o restante do filme (!!), e Les precisa assim do auxílio da
malandragem de seu amigo Dean (Corey Feldman, quem mais?).
Sem sombra de dúvidas
nostálgico, “Sem Licença Para Dirigir” ocupa um lugar especial na afeição dos
cinéfilos apreciadores das obras comerciais dos anos 1980, embora a despeito de
sua ingenuidade, continue um entretenimento tão gracioso e encantador quanto o
era em sua época.
Nenhum comentário:
Postar um comentário