2054. Los Angeles,bem como toda a Terra, é um
caos superpopuloso e anárquico. Os ricos rumam para colônias especiais fora do
planeta deixando a Terra para excluídos e classes inferiores. Nesse cenário, os
replicantes (robôs biológicos feitos a imagem e semelhança do homem) criados
para servir aos humanos nas colônias fogem para se infiltrar na fauna de
habitantes terrestres. A caça a esses fugitivos é tarefa dos ‘blade runners’.
Deckard, um recém-demitido ‘blade runner’ é incorporado ao distrito novamente
quando surgem quatro replicantes a serem caçados. Mas há mais, muito mais
revelações a serem descobertas por trás dessa investigação.
Este cult-movie absoluto é um filme que vem
sendo estudado e analisado por diversos críticos e especialistas por sua fascinante
complexidade visual e temática. E todo esse culto é, por incrível que possa
parecer, merecidíssimo.
O argumento, oriundo do conto de Philip K.
Dick, “Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas”, vai muito além de sua fonte
literária, gerando infindáveis especulações e teorias, inclusive no que diz
respeito à versão final da trama. Dúvida que o diretor Ridley Scott manteve
sempre insolúvel com inúmeras versões lançadas ao longo dos anos. A grande
pergunta que incomoda e ao mesmo tempo fascina os fãs é: Richard Deckard é ou
não um replicante?
Na versão de 1982, lançada nos cinemas e que,
em geral, é a versão mais conhecida (e que sabe-se ser a versão de estúdio) a
resposta é simples: Não!
É essa a versão que conta com a narração em off
de Harrison Ford, e quê serve como explicação para muitos pontos nebulosos do
roteiro. Essa narração é deixada de lado em quase todas as outras versões que
adotam sempre um clima ainda mais seco e desolador. Mas, a maior mudança é o
final, extraído de partes não aproveitadas das tomadas aéreas vistas em “O
Iluminado” de Kubrick, e que em “Blade Runner” servem para simular o vôo de uma
nave, levando o casal protagonista rumo à um final feliz que, se pensarmos
melhor, não se encaixa mesmo em nenhum aspecto do filme e da história.
A mesma pergunta a respeito de Richard Deckard
ganha uma nova resposta, assim, nas outras versões: Sai completamente o final
feliz imposto pelo estúdio (e que Ridley sempre fez questão de repudiar) e a
narração em off, e entram pequenas cenas (mínimas, na verdade, com poucos
segundos de duração) que mudam totalmente a percepção que se tinha do filme
inteiro. A principal delas é, sem dúvida, a cena do sonho com o unicórnio, que
remete ao próprio livro de K. Dick (e, também ao seu título). Como Ridley é um
diretor de inquestionável bom gosto visual, ele deve ter achado que um
unicórnio é muito mais interessante, em termos cênicos, do que uma ovelha
elétrica. Mas, o que importa é que essa cena de sonho leva a uma nova
interpretação da cena final, em que Deckard encontra um origame de unicórnio
deixado no apartamento de Rachel por seu outro colega ‘blade runner’, e também
dá um novo enfoque à frase que ele mesmo havia falado pouco antes: “É uma pena
que ela não vá viver. Mas, afinal, quem vive?”
Todo o fardo da existência, resumido em uma
frase.
Particularmente, acho brilhantes as versões de
Ridley Scott, e concordo com ele: O futuro distópico que ele constrói não tem
espaço para finais felizes e viagens de fins de semana. Mas me dói ver que a
maioria de suas versões não inclui a narração em off de Harrison Ford, que eu
gosto demais, e que dá à “Blade Runner” um reforço ao seu clima referencial de
film noir.
Na dúvida, dá pra assistir à todas as versões,
e conferir qual lhe parece a mais aceitável e confortável. O filme não deixa de
ser magistral em nenhuma delas, e em todas, aquela fascinante questão sobre a
humanidade e suas barreiras, sobre o que é humano e o quê não é (a morte da
andróide que adestrava cobras não somente é um momento clássico do cinema, mas
também coloca em cheque a insistente postura dos ‘blade runners’ de que os
replicantes não eram pessoas –nunca um andróide pareceu tão aflitivamente
humano ao morrer!), permanece brilhante.
Richard Deckard pode ser ou
não um replicante, mas as implicações de sua história dizem respeito a todos
nós.
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