segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Coração Selvagem

Um dos mais lineares trabalhos de David Lynch, o quê não quer dizer muito, já que esta também é uma obra desafiadora, e aberta a infindáveis interpretações. 
Os jovens Saylor e Lula (a efervescência de Nicolas Cage em contraponto à inesperada sensualidade de Laura Dern) se amam, o que não é visto com bons olhos pela maldosa mãe de Lula (já que Saylor conhece alguns segredos do passado que ela quer esconder da filha). Ela chega a contratar homens para dar cabo de Saylor, culminando em cenas de desconcertante violência gráfica.
Ele, ex-presidiário, leva Lula em seu conversível para juntos fugirem de todos em algum lugar dos confins norte-americanos. Mas, para onde quer que vão, os problemas têm a capacidade de achá-los. 
A sinopse não é capaz de dar a dimensão exata deste trabalho de Lynch. Com um clima doentio, como é habitual em seus filmes, ele cria um estranho paralelo entre esta história e o conto do “Mágico de Oz”, com a intervenção das fadas do bem e do mal em diversos momentos, e as cores do arco-íris aparecendo nas ousadas cenas de sexo entre Saylor e Lula (!). Sua obsessão pela luz também se faz presente: aqui, representada quase exclusivamente pelo fogo, registrado em closes extremos, sejam eles incêndios ou fósforos sendo riscados. Como se não bastasse, Lynch povoa o filme com criaturas absolutamente caricatas e surreais, que vão do casal protagonista (Saylor usa uma jaqueta de pele de cobra o filme todo, e é obcecado por Elvis Presley, enquanto Lula é de um incômodo histrionismo cartunesco) até os coadjuvantes como o bizarro Bobby Peru, de Willen Dafoe; e até mesmo a mãe de Lula (com rompantes assustadores da atriz Diane Ladd).
Na filmografia de Lynch, este parece ser mais um exercício de estilo do que um projeto de fato. Todavia, quando se fala de um gênio como David Lynch, isso não é demérito, e "Coração Selvagem" é uma obra das mais fascinantes.

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