Um dos mais lineares trabalhos de David Lynch,
o quê não quer dizer muito, já que esta também é uma obra desafiadora, e aberta
a infindáveis interpretações.
Os jovens Saylor e Lula (a efervescência de
Nicolas Cage em contraponto à inesperada sensualidade de Laura Dern) se amam, o
que não é visto com bons olhos pela maldosa mãe de Lula (já que Saylor conhece
alguns segredos do passado que ela quer esconder da filha). Ela chega a
contratar homens para dar cabo de Saylor, culminando em cenas de desconcertante
violência gráfica.
Ele, ex-presidiário, leva Lula em seu
conversível para juntos fugirem de todos em algum lugar dos confins
norte-americanos. Mas, para onde quer que vão, os problemas têm a capacidade de
achá-los.
A sinopse não é capaz de dar a dimensão exata
deste trabalho de Lynch. Com um clima doentio, como é habitual em seus filmes,
ele cria um estranho paralelo entre esta história e o conto do “Mágico de Oz”,
com a intervenção das fadas do bem e do mal em diversos momentos, e as cores do
arco-íris aparecendo nas ousadas cenas de sexo entre Saylor e Lula (!). Sua
obsessão pela luz também se faz presente: aqui, representada quase
exclusivamente pelo fogo, registrado em closes extremos, sejam eles incêndios
ou fósforos sendo riscados. Como se não bastasse, Lynch povoa o filme com
criaturas absolutamente caricatas e surreais, que vão do casal protagonista
(Saylor usa uma jaqueta de pele de cobra o filme todo, e é obcecado por Elvis
Presley, enquanto Lula é de um incômodo histrionismo cartunesco) até os
coadjuvantes como o bizarro Bobby Peru, de Willen Dafoe; e até mesmo a mãe de
Lula (com rompantes assustadores da atriz Diane Ladd).
Na filmografia de Lynch,
este parece ser mais um exercício de estilo do que um projeto de fato. Todavia,
quando se fala de um gênio como David Lynch, isso não é demérito, e
"Coração Selvagem" é uma obra das mais fascinantes.
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