O espaço sideral em seu vácuo silencioso e
amedrontador. Assim começa um dos grandes sucessos dos anos 1980 que consolidou
a carreira de Arnold Schwarznegger como astro de ação: Entre as estrelas, um
ponto luminoso logo se destaca –num trabalho de computação gráfica um bocado
eficaz e impressionante para a época do filme –uma nave espacial! Dela uma
cápsula se desprende e mergulha no planeta Terra, provavelmente em algum ponto
da América Central; e esta é, por incrível que possa parecer, toda a informação
que receberemos acerca do intrigante e eletrizante antagonista do filme, um
alienígena cuja motivação parece ser tão somente o processo competitivo de
seleção natural embutido na caçada e a nobreza que acarreta o fato de matar
seus adversários com os próprios recursos e em igualdade de condições.
A esse breve prólogo, segue-se a introdução dos
personagens protagonistas de fato, um grupo de elite de fuzileiros liderados
pelo eficiente e gabaritado Dutch (Arnold Schwarznegger, numa atuação carregada
de carisma e autoridade). Composto por uma galeria de figuras marrentas e
peculiares (o brucutu irredutível vivido por Jesse Ventura; o seu melhor amigo
Mac, interpretado por Bill Duke, que depois seguiu carreira como diretor; o
soldado irrequieto e falastrão de Shane Black, que depois também seguiu carreira
de diretor e roteirista; o atirador de Ricardo Chavez; o índio habilidoso em
rastreamento de Sonny Landham), o grupo tem em comum uma habilidade tática
singular em combate –o quê fica logo óbvio quando fazem uma incursão tumultuada
e explosiva contra rebeldes insurgentes no meio da selva –há outra coisa também
em comum em todos eles: Um certo destempero mesclado à desconfiança pela
persona de Dillon (Carl Weathers, o Apollo de “Rocky-Um Lutador”),
representante de seus contratadores em Washington incluído no grupo à força.
Logo após esse primeiro terço, onde os
personagens (ainda que nada profundos) e sua dinâmica foram devidamente
introduzidos, assim como a técnica bastante primorosa do especialista John
McTiernam para cenas de ação e combate (ele dirigiu também o sensacional “Duro
de Matar”), o grupo em regresso para sua base através da selva –acompanhado
ainda de uma prisioneira vivida pela bela latina Elpidia Carrillo –passa a ser
perseguido por um ser misterioso, muito interessado em caçá-los um a um.
Este ser, logo eles percebem, não parece humano
–e o bom entendedor não precisa saber mais para relacioná-lo à rápida seqüência
do começo. Cada cena em que o “predador” aparece é um assombro para o
expectador: Revestido de uma atmosfera enigmática que o diretor McTiernam
sabiamente mantém nebulosa até o fim, o alienígena é amparado num designer
visual hipnótico e arrojado –cortesia dos efeitos de Stan Winston –e guarda
características originais (como o sangue fosforescente, a camuflagem
camaleônica, a visão em infravermelho e as parafernálias tecnológicas) que logo
provocaram um abalo sísmico na cultura pop e nos filmes de ação e ficção
científica.
Sem reviravoltas muito notáveis (e
absolutamente prescindido delas!), “O Predador” segue nesse ritmo movimentado e
envolvente (auxiliado pela trilha sonora instigante e antológica de Alan
Silvestri) até que apenas Dutch reste vivo, como o grande adversário do
“predador”, no formidável duelo que ocupará os vinte minutos finais de filme –e
aonde teremos também uma demonstração prodigiosa de iluminação de sua equipe
técnica.
Vibrante, vertiginoso e bem realizado mesmo nos
dias de hoje, “O Predador” é certamente uma das obras que exemplifica o nível
máximo de qualidade a que eram capazes de chegar os títulos descerebrados de
ação dos anos 1980, quando realizados por artesãos realmente competentes.
A indústria cinematográfica jamais esqueceu o
predador, dando-lhe algumas continuações bem-intencionadas, porém medíocres (“O
Predador 2”, de 1990, e “Predadores”, de 2009) e até mesmo promovendo um
festejado, porém ridículo encontro com outro memorável alienígena do cinema (o
péssimo “Alien X Predador”).
Nenhum, entretanto, foi
capaz de igualar este notável trabalho.
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