segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O Predador

O espaço sideral em seu vácuo silencioso e amedrontador. Assim começa um dos grandes sucessos dos anos 1980 que consolidou a carreira de Arnold Schwarznegger como astro de ação: Entre as estrelas, um ponto luminoso logo se destaca –num trabalho de computação gráfica um bocado eficaz e impressionante para a época do filme –uma nave espacial! Dela uma cápsula se desprende e mergulha no planeta Terra, provavelmente em algum ponto da América Central; e esta é, por incrível que possa parecer, toda a informação que receberemos acerca do intrigante e eletrizante antagonista do filme, um alienígena cuja motivação parece ser tão somente o processo competitivo de seleção natural embutido na caçada e a nobreza que acarreta o fato de matar seus adversários com os próprios recursos e em igualdade de condições.
A esse breve prólogo, segue-se a introdução dos personagens protagonistas de fato, um grupo de elite de fuzileiros liderados pelo eficiente e gabaritado Dutch (Arnold Schwarznegger, numa atuação carregada de carisma e autoridade). Composto por uma galeria de figuras marrentas e peculiares (o brucutu irredutível vivido por Jesse Ventura; o seu melhor amigo Mac, interpretado por Bill Duke, que depois seguiu carreira como diretor; o soldado irrequieto e falastrão de Shane Black, que depois também seguiu carreira de diretor e roteirista; o atirador de Ricardo Chavez; o índio habilidoso em rastreamento de Sonny Landham), o grupo tem em comum uma habilidade tática singular em combate –o quê fica logo óbvio quando fazem uma incursão tumultuada e explosiva contra rebeldes insurgentes no meio da selva –há outra coisa também em comum em todos eles: Um certo destempero mesclado à desconfiança pela persona de Dillon (Carl Weathers, o Apollo de “Rocky-Um Lutador”), representante de seus contratadores em Washington incluído no grupo à força.
Logo após esse primeiro terço, onde os personagens (ainda que nada profundos) e sua dinâmica foram devidamente introduzidos, assim como a técnica bastante primorosa do especialista John McTiernam para cenas de ação e combate (ele dirigiu também o sensacional “Duro de Matar”), o grupo em regresso para sua base através da selva –acompanhado ainda de uma prisioneira vivida pela bela latina Elpidia Carrillo –passa a ser perseguido por um ser misterioso, muito interessado em caçá-los um a um.
Este ser, logo eles percebem, não parece humano –e o bom entendedor não precisa saber mais para relacioná-lo à rápida seqüência do começo. Cada cena em que o “predador” aparece é um assombro para o expectador: Revestido de uma atmosfera enigmática que o diretor McTiernam sabiamente mantém nebulosa até o fim, o alienígena é amparado num designer visual hipnótico e arrojado –cortesia dos efeitos de Stan Winston –e guarda características originais (como o sangue fosforescente, a camuflagem camaleônica, a visão em infravermelho e as parafernálias tecnológicas) que logo provocaram um abalo sísmico na cultura pop e nos filmes de ação e ficção científica.
Sem reviravoltas muito notáveis (e absolutamente prescindido delas!), “O Predador” segue nesse ritmo movimentado e envolvente (auxiliado pela trilha sonora instigante e antológica de Alan Silvestri) até que apenas Dutch reste vivo, como o grande adversário do “predador”, no formidável duelo que ocupará os vinte minutos finais de filme –e aonde teremos também uma demonstração prodigiosa de iluminação de sua equipe técnica.
Vibrante, vertiginoso e bem realizado mesmo nos dias de hoje, “O Predador” é certamente uma das obras que exemplifica o nível máximo de qualidade a que eram capazes de chegar os títulos descerebrados de ação dos anos 1980, quando realizados por artesãos realmente competentes.
A indústria cinematográfica jamais esqueceu o predador, dando-lhe algumas continuações bem-intencionadas, porém medíocres (“O Predador 2”, de 1990, e “Predadores”, de 2009) e até mesmo promovendo um festejado, porém ridículo encontro com outro memorável alienígena do cinema (o péssimo “Alien X Predador”).
Nenhum, entretanto, foi capaz de igualar este notável trabalho.

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