Notável realizador de obras cultuadas pouco
conhecidas do grande público como "O Dia da Besta" e “La Comunidad”, o
espanhol Alex de La Iglesias compõem aqui uma homenagem ao faroeste spaghetti e
a uma espécie de iniciativa de criação que veio junto com esse sub-gênero nos
anos 1960, construindo seu filme em torno de infindáveis referências e
reminiscência de um cinema de outrora que por vezes ganham um gosto agridoce em
suas menções ao longo da narrativa.
O garotinho Carlos (o jovem Luis Castro) pode
ser visto então como um alter-ego do próprio Alex de La Iglesias –alguém que se
vê como uma criança deslumbrada perante espantoso mundo de faz de conta. E é
Carlos (a despeito do protagonismo indiscutível de Julián) quem vivenciará toda
a experiência de descoberta, aprendizado e êxtase proposta aqui pelo diretor.
Consciente de que tem um avô em algum lugar da
Espanha –e um tanto carente de uma figura paterna já que seu pai faleceu num
enigmático acidente muitos anos atrás –o menino Carlos ludibria sua mãe (Carmem
Maura, grande participação) para empreender uma viagem para conhecer Julián
(Sancho Gracia), seu avô que está a muitos anos sem encontrá-lo. Carlos
descobre assim que Julián é um homem que vive do passado, repetindo num parque
temático largado às moscas uma mesma apresentação baseada em filmes antigos de
faroeste pelos últimos quinze anos sempre com a mesma trupe de atores e
malabaristas.
Entretanto, embora a época das vacas gordas a
muito tenha se ido, não há tristeza na rotina de Julián: Ele é cercado de
alegria, de entusiasmo e vivacidade –e muito disso provêm dele próprio! –e está
sempre pronto e disposto para uma nova festa e uma nova apresentação.
Apesar de um ou outro contratempo em seu
primeiro contato (o que inclui o mal resolvido incidente que levou a morte do
pai do garoto), o neto é cativado pela atmosfera de ilusão e sonho que cerca a
vida e a profissão de seu avô.
Na espontaneidade com que faz deste um filme
sobre o processo da descoberta e do amadurecimento, o diretor surpreende, entre
outras coisas, por ilustrar muito da liberdade artística com a qual os europeus
tratam elementos vistos como tabu no nosso continente, como as cenas de nudez,
que aqui incluem uma jovem mulher ao lado do pequeno protagonista.
Certamente uma das obras
mais pessoais e sentimentais de sua filmografia –no que tange à identificação
de seu próprio fascínio pelo cinema e pela encenação –Alex de La Iglesias enche
com saborosa nostalgia esse belo faroeste contemporâneo que é também um drama
sobre delicadas descobertas familiares e um exercício gracioso de metalinguagem
–coroado pela divertida “participação” de Clint Eastwood ao final.
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