segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Missão Impossível 3

O fecho da primeira trilogia –a partir deste, os filmes posteriores deixaram de apresentar numeração em seu título optando por derivações –com a qual Tom Cruise se aventurou a levar a famosa série televisiva aos cinemas é provavelmente a produção a partir da qual finalmente a estrutura e o tom narrativo foi enfim acertado: Superando as incompatibilidades autorais dos diretores como nos dois filmes anteriores e a pretensão de mesclar inteligência ostensiva e ação imposta num produto comercial, este filme se harmoniza com a fórmula que já estava lá nos episódios da antiga série de TV e com os valores de produção que fazem dele cinema de verdade.
Muito dessa fidelidade às características originais da série e a sua boa mistura de ação, trama de espionagem e suspense se deve pelo ótimo diretor J.J. Abrahams –cuja produtora Bad Robot, não por acaso, passou a co-produzir os filmes da série a partir daqui –que conferiu à narrativa uma empatia, uma urgência e uma percepção comercial de espetáculo que já existia em sua bem-sucedida série “Alias-Codinome Perigo”, também ela, uma série de espionagem –e por isso mesmo, um molde ideal para uma produção hollywoodiana não afundar no anacronismo inerente à sua fonte (a série de TV data dos anos 1960).
Faz-se perceber assim todo um processo de humanização do protagonista Ethan Hunt –algo deixado de lado até mesmo do segundo filme onde ele chega a se apaixonar (!) –quando vemos que, no início do filme ele está prestes a se casar com uma jovem médica (a bela Michelle Monagham) que sequer faz idéia do perigo de sua profissão –e já nisso há uma forte proximidade das características que norteavam a tensão do seriado “Alias”.
Naturalmente dadas as circunstâncias, Ethan Hunt (que finalmente começa aqui a tirar proveito do carisma de Tom Cruise) busca uma forma de se aposentar das suas peripécias no departamento das "missões impossíveis".
Pela primeira vez na série, portanto, o protagonista é confrontado com escolhas e dilemas emocionais –pela primeira vez (salvo uma menção muito breve quase prolixa feita no primeiro filme) descobrimos que ele tem entes queridos, um lugar para o qual voltar ao fim das missões.
É justamente isso que torna as atribulações surgidas neste filme mais intensas que as bem elaboradas (mas, no fundo pouco eficientes) enrascadas nos filmes anteriores: E o filme de Abrahams ainda por cima entrega um dos melhores vilões da série quando surge um perigoso e inescrupuloso milionário (Philip Seymour Hoffman, brilhante e ameaçador), que financia uma série de operações ilícitas e terroristas ao redor do mundo para obter um artefato tecnológico, misteriosamente conhecido apenas como "pé-de-coelho".
Outra contribuição do filme –ou melhor dizendo, outra recuperação de uma característica da série televisiva –foi a de tirar um pouco (mas, só um pouco) do peso dos ombros do protagonista Ethan e distribuí-lo em outros personagens que passaram a aparecer com freqüência nas continuações: Além do personagem de Ving Rhames (o único que acompanhava Ethan em todos os filmes), este filme introduz Benji (Simon Pegg, do festejado “Todo Mundo Quase Morto”) que não faltou em nenhum filme desde então, e a esporádica presença de Julia, a noiva de Ethan vivida por Michelle.

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