Este é, tanto um retrato do rancor, como
também, uma brilhante demonstração de nobreza não nutrir esse mesmo ressentimento.
O diretor Guilhermo Del Toro utiliza temas, imagens e idéias que certamente o
assombravam desde criança, para tecer duas formas narrativas que se colidem: De
um lado, um filme de realismo atroz, cuja crueldade das cenas imediatamente
deixa claro que é, sim, um filme de fantasia, mas não, não é de jeito nenhum
feito para crianças; de outro lado, a pairar por sobre os cantos escuros,
brotando as trevas, ele coloca um conto de fadas, mas daquela espécie que, em
princípio os contos de fadas deviam ser mesmo, com lições preciosas sobre o
equilíbrio tênue entre a vida, a morte, a bondade e a maldade.
Assim, descobrimos criaturas vindas de outro
lugar (lideradas pelo mímico Doug Jones, e sua fascinante expressividade
gestual e corporal), outro mundo, não necessariamente mais seguro e feliz do
que essa Espanha mergulhada na guerra civil em que vive a pequena Ofélia, mas
um mundo que, pelo simples fato de se revelar paralelo a este, já significa uma
alternativa de fuga, um sopro de esperança.
Com sua peculiaridade
formal do diretor de filmes de terror que é, Guilhermo Del Toro não deixa de
lembrar também, com pequeninos e perversos detalhes, que esse outro mundo pode
muito bem ser fruto da loucura dessa criança e, portanto, mantêm suspensa essa
dúvida até o derradeiro desfecho, num equilíbrio nunca menos que admirável.
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