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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

10 Livros que poderiam render grandes filmes

Anos atrás elaborei uma lista de “10 Histórias em Quadrinhos que poderiam render grandes filmes”, agora, inspirado por aquela ocasião e pela constante fonte de material que a literatura fornece ao cinema, cito uma dezena de obras literárias que, francamente, não sei como um produtor ainda não se deu conta dos filmes sensacionais que poderiam se tornar.

Série Buchanan, de Julie Garwood –Famosa entre os escritores best-sellers dos EUA, Julie Garwood especializou-se em romances de época, no entanto, a ‘Serie Buchanan’ como é chamada representou uma de suas bem-sucedidas incursões em tramas contemporâneas.
São doze livros que acompanham os diferentes membros da família Buchanan, além de outros formidáveis personagens, em tramas que mesclam aventura policial, mistério e romance; e todas tão incrivelmente extasiantes e envolventes que chega a ser um absurdo até hoje uma adaptação cinematográfica não ter ganhado a luz do dia.
Houveram rumores, anos atrás, de que seria adaptado o primeiro livro da série, “Heartbreaker” (“A Confissão”, aqui no Brasil, onde foi publicado pela extinta editora Landscape), mas não surgiram quaisquer notícias desde então.

Nas Montanhas da Loucura, de H.P. Lovecraft –uma das melhores obras de um dos melhores escritores de literatura fantástica (a favorito de inúmeros diretores), que chegou até a inspirar indiretamente diversos outros filmes, até hoje não ganhou uma versão cinematográfica.
Um dos últimos esforços nesse sentido, partiu do diretor Guilhermo Del Toro, aliado ao astro Tom Cruise, que desejavam ver o filme feito, entretanto, as filmagens do longa “Prometheus”, de Ridley Scott, comprometeram a viabilização do projeto, já que o roteiro daquela produção foi abertamente baseado em elementos de “Nas Montanhas da Loucura”.

Vivian Contra O Apocalipse/Vivian Contra A América, de Katie Coyle –quando as adaptações de séries literárias ao estilo ‘young adult’ tornaram-se febre entre os estúdios hollywoodianos, com trabalhos como “Jogos Vorazes” e “Crepúsculo” ganhando as telas, esta curiosa, eletrizante e pertinente duologia escrita por Katie Coyle, cheia de ação e personagens sensacionais, estranhamente foi deixada de lado, embora ostentasse qualidade o bastante para render dois excelentes filmes.
O motivo? Provavelmente seu teor controverso, polêmico e delicado ao falar abertamente sobre a manipulação das massas pela religião, um assunto quase sempre explosivo que os puritanos estúdios norte-americanos morrem de medo da abordar.

Ruínas do Tempo, de Jess Walter –uma trama maravilhosa, que vai e volta no tempo, com personagens envolventes, uma mescla apetecível de romance, drama e comédia, além de graciosas e pontuais referências ao cinema americano em geral (e ao ator Richard Burton em particular!), poderia ser um daqueles filmes de cabeceira dos adeptos de um bom romance.
Mas o belamente construído texto do escritor Jess walter não chegou a virar um projeto de cinema, muito por conta da forma primorosa com que funde ficção com realidade –as celebridades reais envolvidas no âmago da história fictícia (como Burton e Elizabeth Taylor) poderiam confundir o público e fazê-lo crer que a deliciosa trama engenhada aqui fosse real; algo que poderia render um incômodo processo da parte dos familiares.

Piquenique Na Estrada, de Arkádi e Boris Strugátski –embora este livro já tenha sido, por assim dizer, adaptado no grandioso “Stalker”, de Andrei Tarkovski, o cineasta polonês lhe aproveita apenas o seu conceito básico e inicial (no qual uma ‘Zona’ onde alienígenas descarregaram material desconhecido, é sistematicamente invadida por humanos almejando lucro); todos os desenlaces, sub-tramas e personagens principais do livro não chegam a serem usados no filme, o que é uma pena diante do quão interessantes eles são.
Uma nova adaptação, bem mais fiel ao conteúdo do livro de fato, renderia não apenas um ótimo filme, como também um resultado bastante diferente do obtido na obra-prima de Tarkovski.

Carte Blanche, de Jeffery Deaver –a série “007” sempre foi de vento em popa nas telas de cinema, contudo, a partir de algum ponto entre os filmes de Roger Moore e de Timothy Dalton os livros de Ian Fleming (e de outros autores) deixaram de ser aproveitados em prol de roteiros originais, cada vez mais mirabolantes e menos densos.
As coisas só mudaram brevemente quando “Cassino Royale” foi adaptado na explosiva estréia de Daniel Craig no papel.
Se os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson quisessem uma nova e vigorosa aventura de Bond –propícia de repente para introduzir outro intérprete diante da inevitável aposentadoria de Craig –o livro escrito por Jeffery Deaver, “Carte Blancche” (dentre os dois que escreveu com o personagem), seria perfeito: Uma aventura de James Bond com todas as letras, com personagens enigmáticos, trama de ação e espionagem, um vilão memorável e megalomaníaco, e belíssimas mulheres, todos elementos orbitando seu fenomenal protagonista.

O Apanhador No Campo de Centeio, de J.D. Salinger –um dos livros mais célebres da literatura norte-americana (leitura obrigatória nas suas escolas) é também o título mais notório a engrossar a lista das obras inexplicavelmente sem uma versão cinematográfica digna.
Na segunda metade da década de 2000, surgiram rumores de que o recluso e autoral diretor Terence Malick (dono de características que refletiam adjetivos do próprio escritor da obra, J.D. Salinger) faria uma tão aguardada adaptação. Então, veio o premiado “A Árvore da Vida” e nada mais foi falado.

O Clube do Filme, de David Gilmour –a divertida e comovente história real de um pai que tenta se reconectar com o filho adolescente à beira da rebeldia e da delinquência através do cinema é um ‘few good movie’ pedindo para ser feito.
Um dos possíveis impedimentos para um projeto cinematográficos ganhar vida seriam as inúmeras menções, referências e citações aos diversos filmes que eles assistem (fundamentais à história) cujos direitos autorais, talvez, fossem complicados de serem obtidos.

Porque Ela Pode, de Bridie Clark –imagine “O Diabo Veste Prada” ambientado no universo editorial. Pois é exatamente essa a proposta deste livro divertidíssimo que poderia tranquilamente render uma produção mais modesta, mais viável e mais despojada da famosa comédia estrelada por Meryl Streep.
Para o papel da diabólica patroa que inferniza sua editora-assistente com mandos e desmandos abusivos e inacreditáveis é difícil não pensar em Isabella Rossellini.

Na Minha Pele, de Kate Holden –Que “Cinquenta Tons de Cinza”, que nada! Se há uma obra que reúne com excelência o sexo, o drama humano e uma autêntica relevância é esta daqui.
Trabalho autobiográfico da escritora australiana Kate Holden, “Na Minha Pele” relata sua via crusis de usuária de drogas à prostituta nas ruas de Melbourne narrada com contundência e raro lirismo.
Tão cativante é seu resultado que ele já rendeu uma continuação literária, “Noites Italianas”, que sinaliza desembocar numa trilogia com um terceiro capítulo ainda vindouro.
Quem sabe um produtor não se interessa?

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Círculo de Fogo

Não confundir este filme com o épico de guerra realizado por Jean-Jacques Annaud em 2001.
Após a aclamação mundial experimentada por “Labirinto do Fauno”, o mexicano Guilhermo Del Toro realizou esta ambiciosa tentativa de saltar do cinema artístico para o comercial empregando elementos que, em tese, eram infalíveis junto ao público: Embates monumentais entre monstros (uma especialidade de Del Toro como todas as suas realizações são capazes de comprovar) e robôs gigantes, numa obra que não fazia questão nenhuma de esconder sua influência completa em obras oriundas da cultura pop japonesa.
A mitologia que Del Toro criou em torno desse conceito tão simples, por sua vez, não tinha nada de modesta: Em algum momento do futuro, a Humanidade se vê assolada por ataques sistemáticos de monstros gigantescos, chamados ‘Kaijus’, saídos de uma falha no Oceano Pacífico conhecida por “Pacific Rim” –o título original do filme, à propósito –e, em seu enfrentamento da calamidade, surgem os ‘Jaeggers’, robôs equivalentes aos ‘Kaijus’ em suas agigantadas proporções e, por isso mesmo, capazes de se opor a eles e proteger as cidades costeiras, alvos iniciais na sua invasão antes do resto do mundo.
Seguem-se embates ferozes.
Com o passar dos anos, o Projeto Jaegger se torna um orgão de recrutas como a marinha ou a aeronáutica –a diferença é que os operadores dos ‘Jaeggers’ precisam encontrar um parceiro (ou parceira) de raciocínio absolutamente compatível. Os ‘Jaeggers’, máquinas imensuráveis controladas mentalmente por seus usuários, têm programação deveras pesada para e mente de um único piloto, necessitando de dois para que os comandos mentais não subjuguem a mente de uma só pessoa.
De volta à ativa após a perda de seu co-piloto e melhor amigo, o controlador de ‘Jaegger’, Raleight Becket (Charlie Hunnam) escolhe entre tantos  candidatos, a jovem Mako Mori (Rinko Kikuchi), sobrevivente de um ataque de ‘Kaiju’, para pilotar com ele seu ‘Jaegger’.
Isso ocorre bem a tempo: As pesquisas desengonçadas e um tanto intuitivas dos cientistas Newton Geiszler e Hermman Gottlieb (Charlie Day e Burn Gorman, dois alívios cômicos pra lá de forçados!) apontam que uma incursão de ‘Kaijus’ sem precedentes está prestes a acontecer, com monstros em número muito maior que antes e em tamanhos ainda mais assombrosos.
Comparado com diretores como Joss Whedon e Zack Snyder, que em anos imediatamente pregressos também entregaram filmes que, cada qual ao seu estilo, ofereciam cenas hipnóticas e retumbantes de destruição (“Os Vingadores” e “Homem de Aço”, respectivamente), o diretor Guilhermo Del Toro foi mais acarinhado pela crítica por sua postura dramaticamente mais centrada de tais sequências, o que não significa que deveras ele tenha alcançado alguma perfeição com “Círculo de Fogo”: Se Del Toro é (e, de fato, sempre foi) um esteta dotado de refinada percepção visual para com o espetáculo que rege (e “Círculo de Fogo” é um exemplar vibrante dessa sua faceta), ele também acredita ocasionalmente que tal assombro basta para fazer de sua obra um grande filme em si, e parece se esquecer (deliberadamente até em alguns momentos) que roteiro e personagens precisam caminhar num acabamento igualmente harmonioso para que tudo funcione.
Pois, “Círculo de Fogo” tem um roteiro que, se constrói com zelo e esmero o universo específico dentro do qual sua trama irá desenvolver-se, ao mesmo tempo avança com desleixo e até uma sucessão de clichês nas situações que determinam seu arco narrativo (parece até que Del Toro abraça essa visão unilateral e convencionalista de cinema); e seus personagens, ainda que muitos deles sejam dotados de carisma e interpretados por atores capazes e admiráveis (sendo Idris Elba, talvez, seu exemplo mais salutar), carecem de motivações reais e plausíveis, preenchendo suas trajetórias com momentos quase constrangedores de tão mal planejados (caso do lapso desmedido que ocorre à personagem de Rinko Kikuchi quando entra pela primeira vez num ‘Jaegger’).
É uma aventura possível de ser apreciada, sobretudo, pelos expectadores que se focarem em seu espetacular aparato técnico e visual, pois no que diz respeito a todo o resto (dramaturgia, história e caracterização), Del Toro mostrou-se bastante descuidado e indiferente, indícios da confiança desmesurada que ele certamente nutria pelo material.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

A Forma da Água


O diretor Guillermo Del Toro sempre afirmou que os monstros nunca o decepcionaram. Com efeito, ele dedicou toda sua curiosa filmografia em lançar sobre eles um olhar completamente distinto do que tantos outros fizeram –distinto, inclusive, de outros grandes diretores do gênero de terror.
Se “Espinha do Diabo” enxergava sofrimento e tristeza no sobrenatural, e “O Labirinto do Fauno” justapunha o mundo fantástico que cerca os monstros como uma alternativa aos desabonos da realidade –ambos, seus maiores trabalhos até então –em “A Forma da Água”, Del Toro utiliza uma apaixonada homenagem à “O Monstro da Lagoa Negra” para falar sobre as sensações da exclusão, sobre a maldade inerente à natureza humana e sobre o amor.
E na visão singular que ele dedica à tudo que é monstruoso, não poderia ser outro senão Del Toro a conceber tal história, tão incrivelmente insólita quanto universalmente tocante.
A protagonista Elisa (numa interpretação absolutamente brilhante de Sally Hawkins) é muda e trabalha como faxineira numa instalação militar em Baltimore. Seu vizinho e melhor amigo é Giles (Richard Jenkins, também ele brilhante), um artista homossexual, amargurado pela chegada da meia-idade sem que antes experimentasse a plenitude da vida.
A melhor amiga de Elisa é Zelda (Octavia Spencer, com sua excelência habitual), sua colega de trabalho que conhece sua própria parcela de discriminação e descaso.
A instalação que as duas cuidam de limpar diariamente é um local turbulento na década de 1960 de então: A Corrida Espacial e a Guerra Fria acirraram os nervos normalmente acirrados dos militares e eles exigem, sem o menor tato, progressos de seus cientistas em relação aos avanços dos soviéticos.
É quando surge um espécime inusitado num dos tanques de água: Uma criatura aquática capturada na América do Sul (incorporada com fascinante expressividade gestual por Doug Jones) que desperta maravilhamento nos cientistas em geral, e a necessidade de destruição no perverso chefe de segurança em particular, vivido com corajoso rigor por Michael Shannon.
Furtivamente e sem que mais ninguém perceba, Elisa e a criatura se encontram dia após dia, e passam a cultivar uma identificação que nasce a partir do fato de não haver (e não poder haver) palavras entre eles (Elisa é, afinal, muda, e a criatura não compreende a linguagem humana). O silêncio torna a relação recíproca e igualitária (e Del Toro derrama encantamento no modo preciosista com que registra o nascimento do amor) e logo os dois estabelecem uma espécie de vínculo que começa como assombro, prodrige para a ternura, e em seguida para a atração sexual!
Porém, a criatura sofre pois os militares que o têm sob seu julgo estão dispostos a matá-lo em breve, o quê obriga Elisa a elaborar um arriscado plano para tirá-lo de lá.
Há infindáveis definições para o grande vencedor do Oscar 2018 de Melhor Filme e Melhor Direção (que divide com “OSenhor dos Anéis-O Retorno do Rei” a honraria de serem os dois únicos filmes de fantasia do cinema premiados na categoria principal): ele é, antes de mais nada, uma história de amor; um amor sexual, com erotismo e tudo o mais (com direito a cenas de nudez e sexo lindamente filmadas). Mas, ele é também uma ode ao desajuste, ao valor humanista de se abraçar a diferença e despir-se de preconceitos –e, nesse sentido, não apenas a atenção de Del Toro recai sobre o inusitado e encantador casal protagonista, mas, também sobre o personagem de Giles, e o do Dr. Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), um caso raro de um soviético retratado com carinho e gentileza num filme americano ambientado na Guerra Fria (deve ser porque o diretor é mexicano...).
“A Forma da Água” também é outra coisa: Uma homenagem ao cinema.
No clima fantasiosamente embriagante que empresta à narrativa, nas sucessivas referências que pontuam as cenas –que vão desde o evidente “A Bela e A Fera” até “Splash-Uma Sereia Em Minha Vida”, com direito à um desconcertante momento musical que converte a fotografia maravilhosamente colorida em um filme preto & branco –e no carinho singular que confere a cada um dos personagens (detalhe esse que eleva este filme um degrau acima de todas as outras obras de sua filmografia) Del Toro realizou assim um dos mais poderosos manifestos em favor da tolerância no cinema.
Um filme digno de aplausos que expulsa o ódio da alma encantando o coração.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Os Indicados Ao Globo de Ouro 2018

Saíram o nome de todos os indicados ao Globo de Ouro, um dos prêmios mais importantes da temporada que pavimenta o caminho para o prêmio maior, o Oscar.
Vamos às indicações e às considerações (lembrando que aqui só serão mencionados os indicados de cinema):

Melhor filme dramático
"Me chame pelo seu nome"
"Dunkirk"
"The post"
"A forma da água"
"Três anúncios para um crime"

De imediato já se lamenta a ausência de Denis Villeneuve e seu primordial “Blade Runner 2049”. Mas os cinco indicados até que resumem bem o supra-sumo qualitativo do ano, com o elogiado filme de Guillermo Del Toro surpreendentemente superando em indicações os trabalhos de Nolan e Spielberg.

Melhor ator em filme dramático
Timothée Chalamet, "Me chame pelo seu nome"
Daniel Day Lewis, "Trama fantasma"
Tom Hanks, "The post: A guerra secreta"
Gary Oldman, "O destino de uma nação"
Denzel Washington, "Roman J. Israel, Esq."

Com a exceção do jovem Timothée Chalamet por "Me Chame Pelo Seu Nome", esta categoria vem dominada por veteranos: Daniel Day Lewis, no seu alardeado último filme da carreira, Tom Hanks, no que parece ser mais uma colaboração vencedora com Steven Spielberg, Denzel Washington, em mais uma costumeira amostra de seu brilhantismo. Todos já possuem mais de um Globo de Ouro debaixo do braço, o único que jamais conquistou o prêmio é Gary Oldman, espero que este seja o seu ano.

Melhor atriz de filme dramático
Jessica Chastain, "A grande jogada"
Sally Hawkins, "A forma da água"
Frances McDormand, "Três anúncios para um crime"
Meryl Streep, "The post: A guerra secreta"
Michelle Williams, "Todo o dinheiro do mundo"

Os rumores apontam um possível domínio de Frances McDormand nesta temporada: Ao que parece, seu trabalho em “Três Anúncios Para Um Crime” iguala sua premiada atuação em “Fargo”. Mas, ainda dá para torcer por Jessica Chastain, impecável como sempre no primeiro filme dirigido pelo prestigiado roteirista Aaron Sorkin, por Sally Hawkins, maravilhosa interpretando uma surda-muda na bizarra história de amor de Del Toro e até por Michelle Williams no filme de Ridley Scott.
Em meio à todas, ela, sempre ela, Meryl Streep, desta vez sob a direção de ninguém menos que Steven Spielberg, o quê deve pesar e muito na decisão de quem premiar...

Melhor diretor
Guillermo del Toro, "A forma da água"
Martin McDonagh, "Três anúncios para um crime"
Christopher Nolan, "Dunkirk"
Ridley Scott, "Todo o dinheiro do mundo"
Steven Spielberg, "The Post"

Por alguma estranha razão, as premiações revelam-se rabugentas com as obras de Christopher Nolan nesta categoria –ele aparece aqui, com a esperança de um reconhecimento pairando no ar, mas certamente terá de superar a elogiada produção de Spielberg e mais ainda, o favoritismo que parece estar se construindo em torno de Del Toro.
Curiosa também a lembrança de Ridley Scott por um filme que está sendo mais falado pelo fato de terem removido a participação de Kevin Spacey –trocado por Christopher Plummer –já durante a pós-produção, em razão de denúncias de assédio sexual.

Melhor filme de comédia ou musical
"O artista do desastre"
"Corra!"
"O rei do show"
"I, Tonya"
"Lady Bird: é hora de voar"

Uma vez que relevamos o detalhe ridículo de terem indicado numa categoria reservada para filmes de comédia uma obra de terror (o ótimo “Corra!”), dá para dizer que os filmes indicados aqui até superam os da categoria de drama.
Ao menos no fator curiosidade: Quer algo mais interessante que um filme elogiadíssimo inspirado nos bastidores do pior filme de todos os tempos (o infame “The Room”, de Tommy Wiseau), uma traquinagem notável cortesia do ator James Franco.
A cotação dos demais, “O Rei do Show”, “I, Tonya” e “Lady Bird” não poderia ser melhor.
Resta saber qual deles irá despontar como favorito. Por ora, muito se fala de “O Rei do Show”, mas minha aposta vai para James Franco e seu “O Artista do Desastre”.

Melhor atriz em filme de comédia ou musica
Judi Dench, "Victoria e Abdul: o confidente da rainha"
Helen Mirren, "The Leisure Seeker"
Margot Robbie, "I, Tonya"
Saoirse Ronan, "Lady Bird"
Emma Stone, "A guerra dos sexos"

A ganhadora do ano passado, Emma Stone surpreendeu emplacando mais uma indicação, agora por um filme muito bem avaliado dos mesmos diretores de “Pequena Miss Sunshine”. Aparentemente, suas maiores concorrentes são a linda Margot Robbie, que surpreendeu meio mundo com a força de sua atuação em “I, Tonya” e a sensacional dama inglesa Judi Dench por “Victoria e Abdul”.
Emma e Margot que me perdoem, mas minha torcida é dela!

Melhor ator em filme de comédia ou musical
Steve Carell, "A guerra dos sexos"
Ansel Elgort, "Em ritmo de fuga"
James Franco, "O artista do desastre"
Hugh Jackman, "O rei do show"
Daniel Kaluuya, "Corra!"

Adorei a indicação de Ansel Elgort –esse garoto vai longe! –como também a do sempre carismático Hugh Jackman (num papel que tem bem a cara dele, de ‘showman’) e, vá lá, a do talentoso Daniel Kaluuya (embora eu insista: O filme dele não é comédia!!!).
No entanto, por uma série de razões é James Franco, pelo já memorável “O Artista do Desastre” quem merecia a supremacia nesta temporada de prêmios.

Melhor atriz coadjuvante
Mary J. Blige, "Mudbound"
Hong Chou, "Pequena grande vila"
Allison Janney, "I, Tonya"
Laurie Metcalf, "Lady Bird: É hora de voar"
Octavia Spencer, "A forma da água"

Melhor ator coadjuvante
Willem Dafoe, "Projeto Flórida"
Armie Hammer, "Me chame pelo seu nome"
Richard Jenkins, "A forma da água"
Christopher Plummer, "Todo o dinheiro do mundo"
Sam Rockwell, "Três anúncios para um crime"

Há um comentário subliminar na indicação de Christopher Plummer por um filme no qual ele entrou aos quarenta e cinco do segundo tempo, substituindo o ator original Kevin Spacey. Mas, Plummer é um ator fenomenal e não tenho dúvidas de que merece a lembrança.
No mais há uma certa tendência em reconhecer o trabalho de Willem Dafoe que pode se sair bem na temporada de premiações, seu maior concorrente é, sem duvidas, Armie Hammer.

Melhor animação
"O Poderoso Chefinho"
"The Breadwinner"
"Viva: A vida é uma festa"
"O touro Ferdinando"
"Com amor, Van Gogh"

“Viva-A Vida É Uma Festa”, da Pixar, ainda não estreou aqui no Brasil, mas vem arrebatando público e crítica mundo afora, como é habitual do estúdio, o que já fez dele o favorito da categoria contra obras curiosas como o lírico “Com Amor, Van Gogh” ou a recriação nos tempo de hoje (leia-se, em computação gráfica) do cultuado curta animado “O Touro Ferdinando”, pelo brasileiro Carlos Saldanha.

Melhor canção original
"Home", "O touro Ferdinando"
"River", "Mudbound"
"Viva: a vida é uma festa"
"The star", "The star"
"This is me", "O rei do show"

Melhor trilha sonora
Carter Burwell, "Três anúncios para um crime"
Alexander Desplat, "A forma da água"
Johnny Greenwood, "Trama fantasma"
Hans Zimmer, "Dunkirk"
John Williams, "The post: a guerra secreta"

Melhor filme estrangeiro
"Uma mulher fantástica" (Chile)
"First they killed my father" (Camboja)
"In the fade" (Alemanha)
"Loveless" (Rússia)
"The square" (Suécia)

Por aqui, pelo menos, nada do nosso “Bingo-O Rei das Manhãs”... Dentre estes cinco, os mais falados e comentados são “First They Killed My Father”, dirigido por Angelina Jolie e com todo o engajamento que se espera dela, e “The Square”, o filme sueco estrelado por Elizabeth Moss (da série “Mad Men”) e vencedor da Palma de Ouro no último festival de Cannes.

Melhor roteiro
"A forma da água"
"Lady Bird"
"The Post: a guerra secreta"
"Três anúncios para um crime"
"A grande jogada"

Agora é só esperar e especular. Os vencedores serão anunciados na cerimônia do dia 7 de janeiro.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Mama

No papel principal, a sempre excelente (e com frequência, maravilhosa) Jessica Chastain conduz o filme com graciosidade, ainda que isso não impeça a constatação de que ela parece um pouco mais deslocada do que de costume. Chamada pelo produtor Guilhermo Del Toro depois que este viu seu desempenho singular em “Árvore da Vida”, de Terence Malick, em 2011 (este filme é de 2013), Jessica teve a irônica incumbência de dar vida a uma personagem completamente diferente daquele trabalho: Uma jovem guitarrista sem o menor jeito para lidar com crianças (e confrontada, justamente, com a tarefa de ter que fazê-lo).
Baseado num eficiente curta-metragem de terror, realizado pelo mesmo jovem diretor Andy Muschietti, “Mama” –não confundir com o ótimo melodrama praticamente homônimo dirigido pelo espanhol Julio Medem e estrelado por Penélope Cruz –conta a história de duas meninas pequenas (as jovens Megan Charpentier e Isabelle Nélisse), desaparecidas a cerca de cinco anos e reencontradas vivendo num casebre em meio a uma floresta abandonada. Como elas sobreviveram por tanto tempo é, para as autoridades e especialistas envolvidos, um mistério.
As duas crianças são encaminhadas ao parente mais próximo, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau, da série “Game Of Thrones”), irmão de seu falecido pai, e devem ficar aos cuidados dele e de sua namorada, Annabel, interpretada por Jessica Chastain.
A conclusão para o enigma em torno das duas meninas e da aura de amedrontadora fantasia que sempre as cerca é um bocado previsível: Algo sobrenatural esteve cuidando delas esse tempo todo. E, o quê quer que seja, foi para casa junto com as crianças.
As primeiras noites já enunciam toda a parafernália de elementos do gênero que o diretor Muschietti parece exercer com pouco critério, mas com muita empolgação. Uma aparição faz Lucas cair de uma escada, providenciando para que Annabel fique sozinha com as meninas.
A partir daí, o filme busca descortinar as facetas dessa personagem através da evolução de sua relação com as duas meninas (que diferem entre si em termos de afeto), da conscientização dela de seu novo papel de mãe e da descoberta gradativa –em oposição à incredulidade típica –da mirabolante circunstância que é o cerne do filme: A de que um fantasma macabro e assustador ocupou o papel de mãe das crianças, e que agora vai voltar a ocupar seu habitual papel, o de assombração.
Se a premissa, um tanto implausível, funciona muito melhor no formato encapsulado de curta-metragem, ao menos a construção deste terror fantasmagórico, como longa-metragem, é felizmente mais sugerida do quê explícita (o quê lhe confere uma qualidade maior que a média). A grande mancada dos realizadores foi não insistir até o fim com coragem na ambigüidade emocional sugerida em seu enredo e, em vez disso, ceder à todas as condições mercadológicas possíveis, revelando nos vinte minutos finais que o fantasma, de fato, oferece perigo às duas meninas: Acaba sendo um desserviço à trama (que perde bruscamente em originalidade), aos personagens (convertendo o fantasma em um mero vilão espectral e, por conseqüência, a personagem de Jessica em um mera mocinha heróica) e à coerência do próprio filme (prejudicada por esse desfecho contraditório).

sábado, 1 de julho de 2017

A Espinha do Diabo

No cinema de Guilhermo Del Toro algumas regras inerentes aos filmes de terror sofrem uma ligeira alteração –não são, nem de longe, as aparições sobrenaturais e fantasmagóricas, os agentes do mal, muito pelo contrário: O mal na concepção insistente de Del Toro é uma patologia que os seres humanos, os vivos, trazem junto de si.
Não significa, porém, que as aparições em seus trabalhos não assustem: Como bom aficionado do gênero, Del Toro é hábil em compor imagens tétricas, propensas a tirar o máximo de pavor gráfico da morbidez, embora tal elogio caiba mais às categorias de maquiagem e efeitos visuais de seus filmes do que à sua capacidade na direção e no roteiro.
“A Espinha do Diabo” começa e inicia com breves considerações de um personagem morto –o mesmo arremate narrativo pelo qual começa e termina seu mais recente “A Colina Escarlate” –dando uma idéia bastante clara da visão emotiva que ele tem: São os vivos que detonam o sofrimento no mundo, e não os mortos.
A Guerra Civil espanhola devasta o mundo ao redor do pequeno Carlos (Fernando Tielve), de 12 anos, quando este é deixado no orfanato de Santa Lúcia.
Lá, ele deve lidar com a inevitável hostilidade das demais crianças e com algo mais: As aparições do fantasma de um menino, outrora assassinado naquela instituição, desejoso de que seja executada uma vingança contra quem o matou.
São, portanto, os personagens, bons e eventualmente maus, engrenagens por meio das quais a narrativa trabalha uma redenção às avessas –atribuindo certo caráter lúdico a elementos aos quais são reservadas normalmente as facetas unilateralmente macabras.
A ratificar tal pensamento, recorrente de Del Toro, suas obras mais poderosamente ilustrativas vêem a ser as duas produções que compõem uma ainda inacabada “Trilogia da Guerra Civil” –que, além deste filme, conta também com o aclamado “Labirinto do Fauno”.
Em comum, além da ambientação histórica, os dois trabalhos mostram crianças às voltas com a tragédia, com a orfandade (iminente ou consumada) e com elementos fantásticos que, se em princípio, parecem ser o manancial de seu temor, logo, se revelam recursos inesperados na tentativa de se desvencilhar do perigo de fato: O mundo adulto que insistirá em tragá-los.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A Colina Escarlate

Dizer que Guilhermo Del Toro é um gênio sempre me pareceu precipitado, por mais que eu tenha adorado “A Espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”, provavelmente seus melhores trabalhos até então. Parece sempre haver um empecilho em seus filmes, algo que os impede de atingir a excelência.
E isso torna a acontecer em “A Colina Escarlate”, o filme no qual Del Toro homenageia o terror gótico italiano em geral, e o diretor Mario Bava, em particular.
Na trama, ambientada no século XIV, uma jovem aristocrata americana cai de amores por um jovem nobre inglês. Após se casarem, ela muda-se para sua residência, uma mansão decadente localizada em uma colina remota, imersa numa lama vermelha como sangue, onde ele vive com sua taciturna irmã mais velha. A medida que as noites vão se passando, a jovem presencia estranhos e alarmantes acontecimentos enquanto vai elucidando alguns segredos que envolvem os dois irmãos, e que podem significar uma ameaça à sua vida.
Na verdade, Del Toro faz um trabalho todo ele referencial, remetendo aos filmes da produtora inglesa Hammer (especializada nos filmes de terror que fizeram a alegria de sua infância) e, especialmente, à “Queda da Casa de Usher” de Roger Corman, envolvendo tudo isso num acachapante acabamento visual, de tal beleza que chega a oprimir a narrativa. Não obstante, há momentos de relapso, nos quais o realizador se deixa seduzir pelos traquejos de um gênero que ele ama incondicionalmente.

E este é mesmo um problema: Os fantasmas, quando aparecem, vêem tão cheios de detalhes digitais que parecem caprichados demais para causar medo. Some a isso o fato de que a protagonista, Mia Wasikowska, não tem carisma, nem empenho e nem solidez interpretativa para dar conta do recado. Tudo isso, quem tem é Jessica Chastain como a antagonista, o quê acaba criando um desequilíbrio prejudicial na dinâmica entre as personagens.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Labirinto do Fauno

Este é, tanto um retrato do rancor, como também, uma brilhante demonstração de nobreza não nutrir esse mesmo ressentimento. O diretor Guilhermo Del Toro utiliza temas, imagens e idéias que certamente o assombravam desde criança, para tecer duas formas narrativas que se colidem: De um lado, um filme de realismo atroz, cuja crueldade das cenas imediatamente deixa claro que é, sim, um filme de fantasia, mas não, não é de jeito nenhum feito para crianças; de outro lado, a pairar por sobre os cantos escuros, brotando as trevas, ele coloca um conto de fadas, mas daquela espécie que, em princípio os contos de fadas deviam ser mesmo, com lições preciosas sobre o equilíbrio tênue entre a vida, a morte, a bondade e a maldade. 
Assim, descobrimos criaturas vindas de outro lugar (lideradas pelo mímico Doug Jones, e sua fascinante expressividade gestual e corporal), outro mundo, não necessariamente mais seguro e feliz do que essa Espanha mergulhada na guerra civil em que vive a pequena Ofélia, mas um mundo que, pelo simples fato de se revelar paralelo a este, já significa uma alternativa de fuga, um sopro de esperança. 
Com sua peculiaridade formal do diretor de filmes de terror que é, Guilhermo Del Toro não deixa de lembrar também, com pequeninos e perversos detalhes, que esse outro mundo pode muito bem ser fruto da loucura dessa criança e, portanto, mantêm suspensa essa dúvida até o derradeiro desfecho, num equilíbrio nunca menos que admirável.