Um misto de fantasia e comédia romântica dos
mais satisfatórios já lançados nos anos 1980, “Splash” beneficia-se muito da
adequação inconteste de seu elenco às características dos personagens: Daryl
Hannah, no auge da beleza, cai como uma luva no papel da apaixonante sereia que
dá uma colher de chá a um reles humano da superfície e por ele se apaixona. E
como ‘reles humano’, Tom Hanks empolga, agrada e conduz o filme de forma
impecável –não é a toa que ele foi sempre considerado o ator norte-americano mais
perfeito para interpretar um ‘cara normal’.
Com a impecável química ostentada por esse
fabuloso par central, o filme já tem metade de seu caminho andado, mas a trama
ainda é hábil e certeira e o diretor Ron Howard sabe dosar a comédia, o romance
e a movimentação com perfeição.
Numa nebulosa memória de infância (mostrada no
início, em preto & branco), Allen Bauer tem a recordação de uma interação
breve, ainda que afetiva, com uma menininha nas águas do mar. A menininha vinha
a ser uma sereia que, anos depois, quando ele volta àqueles litorais para uma
averiguação, já adulto (e devidamente interpretado pelo simpático Tom Hanks), o
reencontra quando ele quase se afoga em alto-mar.
Contudo, agora a sereia –convertida
naturalmente nas formas do mulherão Daryl Hannah –também crescida, tem
iniciativa o suficiente para ir atrás dele, em plena Nova York onde mora.
Quando seu corpo seca ela adquire magicamente a
forma terrena de mulher com duas pernas (embora quando ele é molhado volte a
ser, sem seu controle, uma sereia) e, nessa condição, vai atrás dele, sem
sequer saber falar a linguagem da superfície –e vez disso, tem uma poderosa voz
estridente de sereia que espatifa todos os televisores de uma loja (!).
Logo, Allen a encontra e vagamente se recorda
dela –a quem dá o nome de Maddison –passando a hospedá-la em seu apartamento e
a lhe mostrar as maravilhas do mundo da superfície, ainda que completamente
ignorante do fato dela ser uma sereia; e funciona muito bem a narrativa deste
filme oitentista no sentido de distrair o público do fato de que o protagonista
abriga uma completa estranha (ainda que deslumbrante) em sua casa, sem maiores
informações a respeito dela.
Alguma tensão –entretanto,
das mais inofensivas e pasteurizadas –é introduzida com a inserção paralela de
um cientista (vivido por Eugene Levy, mais conhecido como o ator-assinatura da
série “American Pie”) empenhado em capturar a sereia. Tão gaiata é sua
participação que ele funciona como alívio cômico de modo muito mais eficiente
que o alívio cômico de fato, o falecido ator John Candy, no papel de irmão de
Allen.
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