quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

007 - A Fase Roger Moore

Para toda uma geração o rosto de James Bond foi o de Roger Moore, não apenas porque ele foi o ator que mais fez filmes de 007 (foram sete! Ninguém fez mais filmes que ele, embora isso seja, de certa forma, um demérito já que Moore demorou muito para ser substituído), mas também porque seus filmes foram os mais reprisados na TV nas décadas de 1980 e 1990.
Substituindo Sean Connery no papel icônico depois de uma mal-sucedida tentativa de emplacar o australiano George Lazenby em “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”, o Bond de Roger Moore agregava mais humor à mistura, abraçando de uma vez o caráter de diversão infanto-juvenil das aventuras do espião.
Como conseqüência disso, seus filmes oscilam entre saborosos e divertidos passatempos lembrados com muito carinho pelo público e produções vergonhosas que –na opinião de alguns –chegavam a manchar a reputação do mito criado por Ian Fleming.

Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973) –A prova de fogo! Ainda sob a tensa possibilidade de não encontrar um intérprete à altura de Sean Connery (George Lazenby, não havia convencido o público, o quê levou-os a bancar um cachê recorde para Connery regressar em “007-Os Diamantes São Eternos”), os produtores resolveram ir por um caminho mais seguro contratando um ator que havia emplacado na TV com um personagem com muitas características em comum com Bond: Essa personagem era “O Santo” e o ator, o inglês Roger Moore.
Para sua sorte, Roger Moore estrelou justamente uma das mais inspiradas produções de James Bond, beneficiada por elementos como a inebriante e ágil música-tema executada por Paul McCartney, e a bondgirl interpretada pela belíssima Jane Seymour (de “Em Algum Lugar do Passado”), até hoje lembrada como uma das mais apaixonantes parceiras do herói.
Dirigido por Guy Hamilton, que já havia capitaneado a aventura anterior, este filme trás uma trama que envolve 007 colocando-se em oposição à uma organização criminosa sediada no Caribe, cujo vilão (Yaphet Kotto, de “Alien-O 8º Passageiro” e alguns filmes da blaxploitation) usa um braço mecânico como arma.

007 Contra O Homem da Pistola de Ouro (1974) –Para a segunda aventura de Roger Moore no papel, foi escolhido um antagonista no capricho: O imponente Christopher Lee, àquela altura da carreira já bastante especializado em interpretar vilões, no papel de Scaramanga.
O par romântico da vez era a bela sueca Britt Ekland (que havia sido casada com Peter Sellers e pôde ser vista, um ano antes, em “O Homem de Palha”, também ao lado de Christopher Lee).
O aspecto mais marcante de “O Homem da Pistola de Ouro”, porém, foi a ruptura entre o produtor Albert Brocolli (que prosseguiu sozinho com os direitos da franquia) e seu sócio Harry Saltzman, o quê provavelmente ressaltou ainda mais o caráter de “filme-pipoca” das produções. Ele insistiu no inglês Guy Hamilton como diretor, tendo também realizado os dois filmes anteriores (além daquele que é, para muitos, o molde com o qual todos os filmes de Bond são comparados, “007 Contra Goldfinger”).

007 O Espião Que Me Amava (1977) –Em seu terceiro filme como Bond (já bastante à vontade no papel), ficou claro que o humor inofensivo e leve era a grande contribuição (se é que se pode chamar assim...) de Roger Moore para o papel, substituindo a ironia de Connery, por deboche. Este “Espião Que Me Amava” tanto é prova cabal disso que, em muitos aspectos, sua trama lembra os desdobramentos de uma comédia romântica (!), ao colocar James Bond em meio à um hesitante e relutante romance com uma agente russa (interpretada pela bela Barbara Bach); vale lembrar que, nessa época, a Guerra Fria ainda era uma realidade, e o antagonismo entre os dois agentes criava uma circunstância ao estilo “Romeu & Julieta”.
Para que esses elementos funcionassem a contento, o produtor chamou Lewis Gilbert para dirigir, que tinha feito um bom trabalho em “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, ainda na fase Sean Connery.

007 Contra O Foguete da Morte (1979) –O mais fraco filme protagonizado por Roger Moore e, provavelmente, o mais fraco dentre todos os filmes oficiais de James Bond (quis o destino que o pobre Lewis Gilbert encerrasse sua boa passagem pela série com esta mancha em sua carreira...), a trama pega carona na febre de “Star Wars” que tomava o mundo de assalto. Disposto a acompanhar tais “tendências de mercado”, o produtor Albert Brocolli coloca Bond no espaço sideral, naquele que deve ser o mais irrisório dos roteiros da série.
Um milionário francês, com pretensões maquiavélicas envolvendo a apropriação indevida de um satélite ao redor da Terra, faz com que Bond, em sucessivas investigações venha para o Brasil, antes de acabar indo para o espaço.
Várias más decisões simultâneas ainda sabotam o projeto: O retorno de Richard Kiel –que havia feito sucesso como o capanga de vilão, Jaws, no filme anterior –parece somente uma forma picareta de capitalizar em cima de algo que deu certo por acaso; sua participação no filme é mal explicada e aleatória.
Para piorar: A seqüência em terras brasileiras, onde é encenada uma festa de carnaval pelo qual Bond acaba perambulando, é pífia e mal feita.

007 Somente Para Seus Olhos (1981) –Com a chegada dos anos 1980, chegava também um certo desgaste ao então intérprete de James Bond: É mais ou menos a partir deste filme que percebe-se que Roger Moore (talvez, mais ocupado em sua função na vida real como embaixador da U.N.I.C.E.F.) tinha menos tempo de cena do que seus próprios dublês!
De qualquer maneira, ainda havia algo de interessante neste filme inesperadamente mais voltado para seus lances de roteiro do que para a pirotecnia de seus efeitos visuais, talvez uma inclinação no novo diretor John Glenn.
Acompanhamos as conseqüências do ato de um vilão oportunista (Topol, de “Um Violinista No Telhado”) que rouba uma máquina decodificadora das mãos da Inteligência Inglesa e se dispõe a passá-la para os russos.
Aqui, a bondgirl é a angelical Carole Bouquet (de “Esse Obscuro Objeto do Desejo”) e o diretor, o tarimbado Glenn. A outra bondgirl, curiosamente, é interpretada pela falecida Cassandra Harris, casada na época (veja só!), com Pierce Brosnan que viria a ser 007, catorze anos depois.

007 Contra Octopussy (1983) –O produtor Brocolli pareceu apreciar o trabalho do diretor John Glenn na produção anterior, tanto que, além de comandar este daqui, Glenn seria o diretor dos próximos três filmes de James Bond (incluindo dois que não mais contariam com Roger Moore, mas sim com o novo escolhido, Timothy Dalton). A única ocasião em que um diretor tornaria a ser chamado para trabalhar simultaneamente na franquia ocorreria trinta anos depois, quando Sam Mendes iria realizar “007-Operação Skyfall”, em 2012 e “007 Contra Spectre”, em 2015 (Claro, sem contar Martin Campbell que dirigiu o primeiro filme de Pierce Brosnan, “007 Contra Goldeneye”, em 1995, e onze anos depois, em 2006, realizou o primeiro de Daniel Craig “Cassino Royale”).
Voltando ao filme em questão, a trama mostra Bond às voltas com uma ladra sofisticada e engenhosa que roda a Europa perseguindo tesouros escondidos do último czar russo, a ardilosa Octopussy (interpretada por Maud Adams). São evidentes aqui as inspirações –não só para a trama e seus desdobramentos, como também para as cenas de ação –dos produtores nos filmes de grande sucesso de Indiana Jones (que, por sua vez, foram inspirados nas primeiras aventuras do próprio James Bond, como reconheceu em entrevistas o diretor Steve Spielberg!).
Ainda que divertido, “Octopussy” tem o infortúnio de trazer Roger Moore sem um pingo de constrangimento naquele que é um dos momentos mais degradantes para Bond na opinião dos fãs: Quando 007, para se disfarçar, pinta a cara e se veste de palhaço!

007 Na Mira dos Assassinos (1985) –O último filme de Roger Moore no papel trazia, uma vez mais o diretor John Glenn, cuja postura de trabalho parecia estar em sintonia com a do produtor Albert Brocolli.
Buscando uma pegada mais atual, distanciando-se assim dos conceitos clássicos de filmes de espionagem que nortearam sobretudo os primeiros títulos, protagonizados por Sean Connery, este filme acompanha as tentativas de Bond em deter a sanha de um terrorista (Christopher Walken, mais um especialista em vilões) que quer destruir o Vale do Silício, e monopolizar assim o emergente mercado mundial de informática.
Duas bondgirls bem interessantes marcam presença: A exótica e carismática Grace Jones, e a esplêndida Tanya Roberts –ambas, roubando completamente a cena do já combalido Roger Moore.
Talvez, tenha sido por esses (e certamente, por outros) motivos que este foi seu último filme como 007, encerrando os doze anos em que ele interpretou Bond e, para o bem e para o mal, definiu uma nova característica ao personagem para toda uma geração.

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