É certamente entre os grandes que por fim se
coloca Denis Villeneuve neste seu mais recente e extraordinário trabalho.
Vindo daquele ramo da ficção científica onde os
paradigmas do gênero servem para refletir as mais imponderáveis questões em
torno da condição humana, “A Chegada” é mais uma contribuição impecável e
imprescindível de um realizador que a cada projeto se mostra ímpar à uma lista
a qual já não faltam títulos memoráveis: Kubrick e seu “2001”, Tarkovski e seu
“Solaris”, Spielberg e seu “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, Zemeckis e
seu “Contato”, Nolan e seu “Interestelar”.
Todos arriscam uma visão muito particular
–plena de consciência técnica –sobre as elucubrações plausíveis da grande
aventura humana, sob a ótica de nosso possível primeiro encontro com vida
inteligente e consciente.
É nesse absurdo redemoinho de reviravoltas
existenciais que é arremessada Louise Banks (Amy Adams, pronta para um Oscar de
Melhor Atriz!), uma professora especialista em lingüística que, como toda a
humanidade, é pega de surpresa com a aparição de 12 estranhas naves alienígenas
em locais aparentemente estratégicos ao redor do mundo.
Para estabelecer contato com os ocupantes de
uma delas (aquela que se acha nos EUA), ela é requisitada por um arredio e
preocupado coronel do exército (grande presença de Forest Whitaker), ao lado de
um cientista (Jeremy Renner, ótimo).
O processo de comunicação com os alienígenas é
lento, frustrante e tenso –sobretudo, tenso: O grande perigo, logo fica claro,
não são os supostos “invasores”, mas sim a própria humanidade –divergindo entre
si, as nações do mundo têm diferentes idéias de como tratar os visitantes. E
algumas delas, como a China, a Rússia e o Sudão, preferem a hostilidade à
diplomacia.
Embora todos esses embates, filosóficos ou
logísticos, sejam primorosamente filmados por Villeneuve (contando com uma
equipe técnica primordial, em especial, a trilha sonora de Jóhan Jóhannsson e a
fotografia de Bradford Young) é a inesperada jornada íntima da personagem de Adams
que irá revelar-se o grande trunfo de “A Chegada”.
A partir daí, Villeneuve questiona a percepção
de realidade, numa postura que começa semelhante à de Andrei Tarkovski em
“Solaris” –quando o contato com algo de outro mundo parece suscitar lembranças dilacerantes
de um ente querido que se foi –mas, que revela-se surpreendente conforme a
narrativa avança.
Sem revelar demais, é tão emocionante que chega
a ser doloroso.
Por isso, por esse insuspeito encontro de uma
emoção tão plena com um cinema tão espetacularmente irrepreensível que promove,
pela comprovação do mestre inquestionável que Villeneuve é, e por mostrar, à
partir disso, um pouco de fé, nos claudicantes passos que, como humanidade,
buscamos dar nesta terra, “A Chegada” é, até aqui, o grande filme de 2016.
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