A idéia até que não era ruim: Dar um prólogo ao
clássico “Alien” que explicasse as eternamente nebulosas circunstâncias em que
a tripulação da nave Nostromo encontrou aquela nave alienígena destruída (com
sua própria tripulação aparentemente aniquilada) e apinhada por ovas de alguma
forma de vida alienígena –forma de vida esta que revela-se, mais tarde, o
grande pesadelo dos personagens a medida que vai se metamorfoseando em uma
máquina orgânica de matar. Melhor ainda se tal prólogo tiver também o mesmo
diretor do filme original, Ridley Scott, cujo refinamento técnico fez falta,
pelo menos, no último filme da série, o equivocado “Alien-A Ressureição”.
Deveras, a idéia era muito boa –e teria ela
rendido um filme também muito bom se tivesse continuado nesse rumo. Porém, em
algum momento da realização de “Prometheus”, essa premissa básica sofreu uma
ligeira transformação; e penso que grande responsável por isso seja o
roteirista, Damon Lindelof (famoso pelos intrincados roteiros da série “Lost”),
chamado para trabalhar a versão final do roteiro: A sugestão de Lindelof para
Scott foi alterar bruscamente o esboço básico da trama –que deveria terminar
rigorosamente no ponto em que o “Alien”, de 1979, começava, tendo unido todas
as pontas soltas –e, a partir daí, dar início a uma nova série de filmes, uma
nova franquia. Por isso, elementos (oriundos certamente da primeira versão do
roteiro) que parecem levar o filme a encaixar tão bem numa explicação de
detalhes vistos no “Alien” original, são deixados gradativamente de lado
conforme “Prometheus” vai enveredando por um novo (e estranho) caminho,
afastando-se de sua proposta e adotando princípios que soam tão pretensiosos e
ambiciosos (um das características negativas do trabalho de Lindelof) quanto
equivocados e lamentáveis.
Após um prólogo solene no qual Scott sugere que
a origem da vida na Terra pode ter sido a conseqüência acidental de uma
tentativa de suicídio alienígena (pretensão, como se pode ver...), passamos
então a acompanhar, já no ano 2093, a nave Prometheus cuja tripulação cruza o
espaço em busca da pista para a origem da vida.
A bordo dela, um seleto grupo de pesquisadores
–entre os quais a cientista Elizabeth Shaw (a sueca Noomi Rapace, da versão
original de “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”), além de outros personagens
interpretados por um elenco que só um grande diretor como Scott é capaz de
reunir –ruma a um planeta cujas coordenadas são achadas em diversos quadros
arqueológicos encontrados na Terra. Eles crêem que a pista pode levá-los à raça
alienígena (denominada ‘Engenheiros’) que originou a humanidade. Ao chegar no
planeta, porém, e ao iniciar suas investigações, eles deparam-se com perigos
que não puderam prever: Especialmente o andróide David (um bom trabalho de
Michael Fassbender) revela-se de uma cruel ambigüidade moral para com seus colegas
humanos –ele dá início às ocorrências trágicas ao tentar inocular um dos
tripulantes com um hospedeiro alienígena para ser levado à Terra; sem falar
que, a partir de determinado ponto, quando o roteiro já tiver se perdido em
suas pretensões, David se mostrará também o gancho de um inesperado plot que,
além de não acrescentar absolutamente nada ao filme, lhe tira muito da
credibilidade.
Assim, o retorno de Ridley Scott ao gênero de
ficção científica neste prelúdio de "Alien" (ambientando a trama
cerca de 30 anos antes do filme original) confere à produção grande esplendor
visual, mas, sua inclinação algo autoral e pouco disposta a arremates
narrativos acaba deixando o filme até com mais perguntas do que respostas.
Falta à “Prometheus”,
sobretudo, a coerência e a simplicidade que faziam de "Alien" uma
experiência única.
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