terça-feira, 30 de maio de 2017

Prometheus

A idéia até que não era ruim: Dar um prólogo ao clássico “Alien” que explicasse as eternamente nebulosas circunstâncias em que a tripulação da nave Nostromo encontrou aquela nave alienígena destruída (com sua própria tripulação aparentemente aniquilada) e apinhada por ovas de alguma forma de vida alienígena –forma de vida esta que revela-se, mais tarde, o grande pesadelo dos personagens a medida que vai se metamorfoseando em uma máquina orgânica de matar. Melhor ainda se tal prólogo tiver também o mesmo diretor do filme original, Ridley Scott, cujo refinamento técnico fez falta, pelo menos, no último filme da série, o equivocado “Alien-A Ressureição”.
Deveras, a idéia era muito boa –e teria ela rendido um filme também muito bom se tivesse continuado nesse rumo. Porém, em algum momento da realização de “Prometheus”, essa premissa básica sofreu uma ligeira transformação; e penso que grande responsável por isso seja o roteirista, Damon Lindelof (famoso pelos intrincados roteiros da série “Lost”), chamado para trabalhar a versão final do roteiro: A sugestão de Lindelof para Scott foi alterar bruscamente o esboço básico da trama –que deveria terminar rigorosamente no ponto em que o “Alien”, de 1979, começava, tendo unido todas as pontas soltas –e, a partir daí, dar início a uma nova série de filmes, uma nova franquia. Por isso, elementos (oriundos certamente da primeira versão do roteiro) que parecem levar o filme a encaixar tão bem numa explicação de detalhes vistos no “Alien” original, são deixados gradativamente de lado conforme “Prometheus” vai enveredando por um novo (e estranho) caminho, afastando-se de sua proposta e adotando princípios que soam tão pretensiosos e ambiciosos (um das características negativas do trabalho de Lindelof) quanto equivocados e lamentáveis.
Após um prólogo solene no qual Scott sugere que a origem da vida na Terra pode ter sido a conseqüência acidental de uma tentativa de suicídio alienígena (pretensão, como se pode ver...), passamos então a acompanhar, já no ano 2093, a nave Prometheus cuja tripulação cruza o espaço em busca da pista para a origem da vida.
A bordo dela, um seleto grupo de pesquisadores –entre os quais a cientista Elizabeth Shaw (a sueca Noomi Rapace, da versão original de “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”), além de outros personagens interpretados por um elenco que só um grande diretor como Scott é capaz de reunir –ruma a um planeta cujas coordenadas são achadas em diversos quadros arqueológicos encontrados na Terra. Eles crêem que a pista pode levá-los à raça alienígena (denominada ‘Engenheiros’) que originou a humanidade. Ao chegar no planeta, porém, e ao iniciar suas investigações, eles deparam-se com perigos que não puderam prever: Especialmente o andróide David (um bom trabalho de Michael Fassbender) revela-se de uma cruel ambigüidade moral para com seus colegas humanos –ele dá início às ocorrências trágicas ao tentar inocular um dos tripulantes com um hospedeiro alienígena para ser levado à Terra; sem falar que, a partir de determinado ponto, quando o roteiro já tiver se perdido em suas pretensões, David se mostrará também o gancho de um inesperado plot que, além de não acrescentar absolutamente nada ao filme, lhe tira muito da credibilidade.
Assim, o retorno de Ridley Scott ao gênero de ficção científica neste prelúdio de "Alien" (ambientando a trama cerca de 30 anos antes do filme original) confere à produção grande esplendor visual, mas, sua inclinação algo autoral e pouco disposta a arremates narrativos acaba deixando o filme até com mais perguntas do que respostas.
Falta à “Prometheus”, sobretudo, a coerência e a simplicidade que faziam de "Alien" uma experiência única.

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