segunda-feira, 29 de maio de 2017

John Wick - Um Novo Dia Para Matar

Deve ser terrível para os críticos intelectualóides de plantão, que detestam filmes de ação em detrimento às obras mais herméticas, constatar a brilhante homenagem ao cinema que é “John Wick-Chapter 2”.
Seu pôster já remete à uma obra dos tempos áureos estrelada por Harold Loyd e, se isso ainda ficar dúbio, ele ainda confirma isso já na primeira cena, quando vemos uma cena exatamente de um filme de Harold Loyd, ser refletida em um prédio, para então mostrar um carro passando em perseguição –o fato dos efeitos sonoros estarem sincronizados ao filme indica o quanto aqueles trabalhos de antigamente, construídos de notável virtuosismo físico, interferem profundamente na concepção deste filme.
O novo filme dá o mais natural dos segmentos ao que se passa em “De Volta Ao Jogo” quando vemos o lendário John Wick perpetrar os últimos arremates na exuberante vingança que ele realizou no primeiro filme, para em seguida, a trama desta continuação propriamente se iniciar: No complexo mundo de assassinos a que pertencia, John Wick tinha uma dívida antiga que lhe possibilitou a aposentadoria da qual antes aproveitava.
Mas, a dívida foi cobrada na forma de Santino (Riccardo Scamarcio), herdeiro italiano da Gamorra que espera um favor de Wick: Matar-lhe a irmã mais velha (Claudia Gerini) e com isso torná-lo o sucessor direto do império do pai.
Nada neste filme é tão simples quanto parece e, a tentativa de Wick em deixar tudo para trás fará com que uma ingrata quantidade de assassinos voltem sua atenção para ele.
Tal e qual o primeiro, este trabalho admirável ao extremo do diretor Chad Stahelski mergulha nos meandros curiosos do universo ambíguo que registra, analisando suas regras e as conseqüências brutais para aqueles que as dobram (mostrando com habilidade, estilo e requinte as maneiras refinadas com que esse mesmo universo se esconde debaixo do nariz do cidadão comum que vive no mundo real), potencializando tudo o que havia antes funcionado, e dando mais uma oportunidade de Keanu Reeves mostrar o ator completo, em termos de recursos dramáticos e vitalidade física, que ele é –e, no magnífico papel de John Wick, ele não deixa tal oportunidade passar.
Ao fim, esse segundo filme (tão logo se encerra com uma cena numa casa de espelho que é, não somente uma referência ao clímax do cultuado “A Dama de Shangai”, de Orson Welles, mas também uma amostra do quanto o cinema moderno é capaz de repaginar e aperfeiçoar tais cenas clássicas) o roteiro e a direção –ao contrário, do primeiro que se concluía com simetria louvável –entregam um gancho explícito e pulsante para uma terceira parte que, se prosseguir nesta continuidade qualitativa, deve transformar “John Wick” numa série tão incrivelmente relevante e marcante para o gênero de ação quando a “Trilogia Bourne” o foi na década de 2000.

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