segunda-feira, 29 de maio de 2017

Pandora

Ainda que abraçando em diversos de seus momentos, um tom assumidamente melodramático, esta produção sul-coreana se beneficia tão bem da técnica extraordinária dos realizadores daquele país que deslizes de exagero, nesta ou naquela cena, passam batidos diante da boa condução e do fantástico equilíbrio que eles mantêm durante todo o filme.
E olhe que “Pandora”, em sua produção grandiosa e abrangente, poderia muito bem ter se perdido em algum ponto entre suas muitas tramas paralelas, seus personagens numerosos, seu tema catastrófico que, de intimista, vai ganhando ares cada vez mais megalomaníacos, até envolver toda a nação.
O diretor Park Jung-Woo realizou assim um trabalho louvável na administração de uma produção vasta em logísticas complexas, dezenas de unidades e núcleos dramáticos, dando a tudo um equilíbrio, uma ordem narrativa e uma harmonia que, enxergados sob esse ângulo, chegam a surpreender.
Numa cidadezinha de uma ilha sul-coreana é onde está situada a usina nuclear de Hanbyul, cujos sistemas rigorosos de segurança, ainda que antiquados e carentes de uma revisão, visam conter a possibilidade de incidentes radioativos. Toda a comunidade trabalha ao redor da instalação, inclusive Jae-Hyeok (Kim Nam-Gil), que sonha em viajar o mundo, longe do trabalho claustrofóbico como funcionário da usina.
Os percalços dele e de sua família (mas não apenas eles) serão enfocados, quando uma avaria nos sistemas de segurança da usina –o quê compromete a refrigeração de um reator nuclear e leva a uma explosão que contamina toda a região –dará início à uma situação perigosa que irá evoluir até ameaçar a vida de toda a Coréia do Sul.
Não à toa, numa desnecessariamente estendida seqüência final, o filme faz referência a uma cena de “Armageddon” –quando protagonista tem oportunidade de dar adeus aos seus entes queridos por meio de uma transmissão de TV –mostrando claramente que as tendências de exagero do filme não são mera impressão. A sorte é que os realizadores sul-coreanos são muitos mais hábeis e talentosos que Michael Bay e a grande maioria dos artesãos americanos.
Isso salva “Pandora” de ser o filme catástrofe apelativo e escandaloso que, em muitos momentos, ele parece querer ser.

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