quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Mama

No papel principal, a sempre excelente (e com frequência, maravilhosa) Jessica Chastain conduz o filme com graciosidade, ainda que isso não impeça a constatação de que ela parece um pouco mais deslocada do que de costume. Chamada pelo produtor Guilhermo Del Toro depois que este viu seu desempenho singular em “Árvore da Vida”, de Terence Malick, em 2011 (este filme é de 2013), Jessica teve a irônica incumbência de dar vida a uma personagem completamente diferente daquele trabalho: Uma jovem guitarrista sem o menor jeito para lidar com crianças (e confrontada, justamente, com a tarefa de ter que fazê-lo).
Baseado num eficiente curta-metragem de terror, realizado pelo mesmo jovem diretor Andy Muschietti, “Mama” –não confundir com o ótimo melodrama praticamente homônimo dirigido pelo espanhol Julio Medem e estrelado por Penélope Cruz –conta a história de duas meninas pequenas (as jovens Megan Charpentier e Isabelle Nélisse), desaparecidas a cerca de cinco anos e reencontradas vivendo num casebre em meio a uma floresta abandonada. Como elas sobreviveram por tanto tempo é, para as autoridades e especialistas envolvidos, um mistério.
As duas crianças são encaminhadas ao parente mais próximo, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau, da série “Game Of Thrones”), irmão de seu falecido pai, e devem ficar aos cuidados dele e de sua namorada, Annabel, interpretada por Jessica Chastain.
A conclusão para o enigma em torno das duas meninas e da aura de amedrontadora fantasia que sempre as cerca é um bocado previsível: Algo sobrenatural esteve cuidando delas esse tempo todo. E, o quê quer que seja, foi para casa junto com as crianças.
As primeiras noites já enunciam toda a parafernália de elementos do gênero que o diretor Muschietti parece exercer com pouco critério, mas com muita empolgação. Uma aparição faz Lucas cair de uma escada, providenciando para que Annabel fique sozinha com as meninas.
A partir daí, o filme busca descortinar as facetas dessa personagem através da evolução de sua relação com as duas meninas (que diferem entre si em termos de afeto), da conscientização dela de seu novo papel de mãe e da descoberta gradativa –em oposição à incredulidade típica –da mirabolante circunstância que é o cerne do filme: A de que um fantasma macabro e assustador ocupou o papel de mãe das crianças, e que agora vai voltar a ocupar seu habitual papel, o de assombração.
Se a premissa, um tanto implausível, funciona muito melhor no formato encapsulado de curta-metragem, ao menos a construção deste terror fantasmagórico, como longa-metragem, é felizmente mais sugerida do quê explícita (o quê lhe confere uma qualidade maior que a média). A grande mancada dos realizadores foi não insistir até o fim com coragem na ambigüidade emocional sugerida em seu enredo e, em vez disso, ceder à todas as condições mercadológicas possíveis, revelando nos vinte minutos finais que o fantasma, de fato, oferece perigo às duas meninas: Acaba sendo um desserviço à trama (que perde bruscamente em originalidade), aos personagens (convertendo o fantasma em um mero vilão espectral e, por conseqüência, a personagem de Jessica em um mera mocinha heróica) e à coerência do próprio filme (prejudicada por esse desfecho contraditório).

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