A cada filme, o diretor Gore Verbinski foi
escancarando mais e mais sua paixão pelos faroestes spaghetti, em especial, pelas
obras concebidas pelo mestre italiano Sergio Leone, como a “Trilogia dos
Dólares” e a obra-prima “Era Uma Vez No Oeste”: Em “Piratas do Caribe-No Fim do
Mundo” já se nota uma cena poderosamente referencial inclusive ao emular a
trilha sonora de Ennio Morriconne.
Mas, a homenagem mais explícita –e com a qual
terminou vencendo um Oscar de Melhor Longa de Animação –é este “Rango”, cujos
flertes com o faroeste já começam pelo seu título, fazendo lembrar a pronúncia
de “Django”, clássico de Sergio Corbucci.
A própria ambientação do deserto, arenosa e
escaldante, remete ao gênero, inclusive, com suas cidadezinhas desoladas e seus
saloons carregados de tensão. É para um lugar assim que vai parar o
protagonista, um pequeno camaleão (na voz de Johnny Depp) até então animalzinho
de estimação de uma família que por acidente extravia sua caixa no deserto.
Absolutamente perdido, o perplexo e
artisticamente inventivo Rango chega à pouca hospitaleira cidadezinha de Poeira
fazendo aquilo que melhor aprendeu a fazer: Interpretar.
Como bom camaleão, ele assimila de tal forma a
truculência e a rispidez dos moradores locais que logo é tomado por eles como
um forasteiro valentão, quem sabe, o herói que esperam um dia vir para
livrá-los da opressão dos mandatários da cidade que controlam a água e têm, na
folha de pagamento, um grupo amedrontador de foras-da-lei.
É bastante interessante o
imenso cuidado visual dedicado por Gore Verbinski aqui –sua animação é
prodigiosa em incorporar as impressões do deserto, do calor sufocante e de uma
paleta de cores tão ocasionalmente relacionada aos filmes de Leone e seus
conterrâneos. Esse empenho na busca por estilo se reflete na concepção dos
personagens, animais do deserto incorporados com elementos fortemente
provincianos, mas acima de tudo definidos por características freqüentemente
repulsivas como a textura da pele quebradiça, pelos vastos, e aspecto sempre
maltratado e feio; esses elementos por sinal podem afastar o interesse de
crianças pequenas.
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