Construído a partir de flashbacks, este último trabalho do grande diretor Bob Fosse (aquele no qual ele permitiu-se afastar um pouco do gênero musical, mas ainda se mostrando interessado nos meandros corrosivos e viciantes do showbizz) é uma obra angustiante, dolorosa, triste e trágica. Muito devido ao fato dele nos conduzir a uma via-crusis real (a da modelo Dorothy Stratten) da qual desde o início ele deixa bem claro o desfecho amargo.
Amparando o expectador nessa atmosfera
inevitável de pesar (que, em alguma medida, evoca o clima decadente criado em “Cabaret”),
ele nos torna testemunhas da trajetória de Dorothy (vivida com equilíbrio
ponderado entre atuação planejada e performance instintiva por Mariel
Hemingway), jovem canadense que, em 1979, aceita se casar com o malandro e
aproveitador Paul Sinder (Eric Roberts, usando e abusando de seu aspecto ‘galã
cafajeste’). Percebendo que a beleza de Dorothy poderia levá-lo ao mundo de
celebridades que sempre almejou, Paul a convence a largar o emprego de
garçonete onde a conheceu e a faz posar para fotos sensuais que, mais tarde,
acabam compradas pela revista masculina Playboy. Após ser escolhida para um
ensaio fotográfico de nudez com imensa repercussão, Dorothy acaba convidada
para a mansão Playboy onde cai nas graças do próprio dono da revista, o
excêntrico magnata Hugh Hefner (Cliff Robertson, capturando alguns elementos
caricaturais do famoso dono da Playboy).
A medida que Dorothy vai se consolidando como
uma estrela, as demais pessoas à sua volta percebem a influência nociva e a
presença parasitária de seu marido, que começa a se mostrar cada vez mais
agressivo e indignado conforme Dorothy vai se afastando dele e se aproximando
do jovem cineasta Aram Nicholas (Roger Rees, de “O Grande Truque”), pseudônimo
do personagem real que envolveu-se com Dorothy Stratten, o diretor de cinema
Peter Bogdanovich, cujo nome foi modificado para evitar processos judiciais.
Os desdobramentos fatídicos dessa trama não são
nenhuma surpresa, visto que desde o princípio, vemos um transtornado Paul
Snider falando com o corpo morto de Dorothy –o que dá origem ao fio narrativo
que conduz todo o filme –assassinada com um tiro de espingarda por ele, pouco
antes de se suicidar, quando ela ainda tinha apenas 20 anos de idade, em 1980.
“Star 80” não foi o primeiro filme a retratar a
trágica história de Dorothy Stratten; ainda em 1981, foi produzido pela NBC, o
telefilme “Death of Centerfold-The Dorothy Stratten Story”, que trazia Jamie
Lee Curtis como Dorothy Stratten, e Bruce Weitz como Paul Snider. Tendo vencido
em 1980, a Palma de Ouro em Cannes por “All That Jazz” –prêmio que ele dividiu
com “Kagemusha”, de Akira Kurosawa –o diretor Bob Fosse incumbiu-se deste
projeto (lançado em 1983), adaptando o livro “The Death Of A Playmate”, de
Teresa Carpenter, vencedor do Prêmio Pulitzer.
A obra que Fosse constrói aqui, ainda que
brilhantemente fotografada (por Sven Nykvist, cinegrafista de muitas obras de
Ingmar Bergman), e primorosa enquanto narrativa cinematográfica, não tem a
intenção de extasiar o público, pelo contrário: No magistral retrato de uma tragédia
anunciada, ele compõe, nesta produção de inquestionável excelência, um reflexo
das celeumas de desilusão dos anos 1980, em contraponto a um fulgor criativo
mais otimista que ele enxergou nos anos 1970.
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