Em 1978, quando as grandes obras
cinematográficas a abordarem o conflito no Vietnam ainda estavam por serem
feitas, o diretor Ted Post (de “A Marca da Forca”, “Magnum 44” e outros filmes
com Clint Eastwood) saiu-se com este libelo eletrizante sobre a natureza da
guerra e as estranhas ironias que se repetem em todas as batalhas como estrofes
numa poesia macabra, amparando seu trabalho muito vagamente num caso real.
No início da década de 1960, a Guerra do
Vietnam ainda não era exatamente uma realidade para os EUA: Após a fracassada
incursão das tropas francesas nessas colônias, dez anos antes, o Vietnam do
Norte declarou guerra ao Vietnam do Sul. A função do exército norte-americano
por lá, até então, tinha mera função de consultoria militar –para tanto, apenas
patentes graduadas estavam em atividade no país; seus subordinados se resumiam
às truculentas tropas vietnamitas que se opunham aos vietcongues.
Um desses consultores é o Major Asa Baker (Burt
Lancaster), oficial cujo comportamento desregrado interrompeu suas promoções
estagnando-o naquela patente –e que assim amarga o comando de um entreposto no
meio da selva.
Numa leva de oficiais recém-chegados, o Major
Baker recebe em seu destacamento o ansioso e afoito Tenente Hamilton (Joe Unger,
de “Matador de Aluguel” e “Fuga de Nova York”), o calejado e austero Sargento
Oleonowski (Jonathan Goldsmith, de “Mamma Mia-Lá Vamos Nós de Novo”) e o
idealista Cabo Courcey (Craig Wasson, astro de “Dublê de Corpo”).
Os três acabam enviados pelo Maj. Baker como
oficiais para um posto avançado em Muc Wa, o qual Baker acreditar ser um fim de
mundo incapaz de despertar interesse dos inimigos.
Contudo, relatórios de inteligência e
ocorrências simultâneas dizem o contrário: Indicam que mais e mais vietcongues
estão se somando para atacar sistematicamente Muc Wa.
Em princípio o Tnt. Hamilton –cuja liderança já
era frouxa e irresponsável –termina morto por uma série de decisões equivocadas
em meio a um ataque. Líder de fato do local, o Sgt. Oleonowski sofre um colapso
pouco depois e se suicida.
Com apenas o Cabo Courcey administrando a
situação cada vez mais caótica, o Maj. Baker começa a observar na situação de
Muc Wa em particular, e em todo o Vietnam do Sul em geral, semelhanças muito
grandes entre os apuros de seus militares e os experimentados pelos franceses
antes deles, além de um paralelo vislumbrado pela narrativa entre a resistência
em Muc Wa e a Batalha das Termópilas (retratada, à propósito, no filme “300”),
como atesta seu título original, “Go Tell The Spartans”.
Com um embasamento histórico que pode passar
despercebido aos expectadores acostumados a ver o aspecto bélico e unilateral
dos filmes sobre a Guerra do Vietnam, o filme de Ted Post joga luz sobre as
engrenagens de natureza política que deflagaram a guerra como ela passou a ser
conhecida, expondo as circunstâncias que
foram se construindo debaixo dos narizes dos militares perplexos cuja vasta
experiência em batalhas pregressas não serviu de nada na hora de preveni-los
contra a logística e o absurdo daquela batalha que então se aproximava –e que
sabemos, cobrou um alto preço ao subconsciente coletivo norte-americano.
É um filme
anti-militarista, como o são praticamente todos que abordaram a Guerra do
Vietnam. Seu diferencial está na construção surpreendentemente eficaz e bem
executada de todo o suspense em torno do cerco de Muc Wa, de como os militares
americanos foram conduzidos pelas circunstâncias à decisões catastróficas e de
como, em perspectiva, tudo isso levou a uma insanidade histórica.
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