quinta-feira, 19 de março de 2020

Zumbilândia - Atire Duas Vezes

O primeiro “Zumbilândia” até por seu grau de acerto em tantos níveis de sua proposta de diversão pedia, há tempos, por uma continuação.
O problema é que essa continuação demorou um bocado para sair, como atestam os longos dez anos que separam este e o primeiro filme.
Durante esse período tentou-se emplacar uma mal-fadada (e hoje pouco lembrada) série de TV oriunda do filme, de resultado pífio, os zumbis se tornaram uma presença constante e sob ameaça de defasagem na cultura pop graças ao seriado “The Walking Dead” e o seu elenco, sobretudo Emma Stone e Jesse Eisenberg (ela, vencedora do Oscar por “La La Land-Cantando Estações”; ele, indicado ao Oscar por “A Rede Social”), adquiriu renome e reconhecimento a ponto de ser um pouco estranho vê-los de volta aos seus alucinados personagens de início de carreira.
E é exatamente isso, estranhamento, que mais emana desta sequência: Em parte também pelo humor nem sempre funcional que contamina alguns momentos, tornando evidente uma já esperada incapacidade em recuperar a química precisa do filme original.
No mundo pós-apocalíptico conhecido por Zumbilândia, segundo a narração de Columbus (Jesse Eisenberg, envelhecendo rápido), reencontramos ele, sua namorada Wichita (a maravilhosa Emma Stone), a irmã dela, Little Rock (Abigail Breslin, longe da menininha vista no primeiro filme) e o impagável Tallahassee (Woody Harrelson, sempre fabuloso) ocupando a própria Casa Branca dos EUA, e por lá se estabelecendo como num lar.
Contudo, passado algum tempo, a rotina incomoda as mulheres: Little Rock sente-se sufocada pelo cuidado demasiado de Tallahassee, que ainda a vê como criança, enquanto que Wichita reluta em aceitar o pedido de casamento de Columbus.
Diante dessa inadequação, as duas partem para a estrada, deixando os dois em circunstâncias muito parecidas com as quais começaram o primeiro filme. Columbus, porém, não demora a achar algum consolo; e se envolve com a alienada patricinha Maddison (Zoey Deutch, de “O Artista do Desastre”, entregando uma atuação espantosa) cuja falta de noção soa ocasionalmente irreal no contexto de sobrevivência do filme.
Entretanto, a própria Wichita foi abandonada por Little Rock –que resolveu fugir junto de um hippie pacifista (!) –e agora, precisa do auxílio de Columbus e Tallahassee para seguir sua pista até Graceland (onde cruzam com os personagens de Rosario Dawson, Luke Wilson e Thomas Middleditch) e de lá para a comunidade denominada Babilônia –um lugar criado por uma nova e inacreditável geração de hippies que aboliram os uso de armas de fogo; mesmo que cercados de zumbis (!).
O grupo dos protagonistas chega lá a tempo de salvá-los de uma grande encrenca: Às três categorias conhecidas de zumbis, os Homers (os burros e lerdos), os Hawkings (dotados de inesperada inteligência) e os Ninjas (os silenciosos e ágeis que atacam furtivamente), soma-se uma nova, os T-800s (tal e qual o antagonista de “O Exterminador do Futuro”, mais fortes, mais resistentes e mais robustos, os quais dois tiros usuais na cabeça –como no título! –não são meramente capazes de pará-los!), e é justamente uma horda ensandecida deles que busca invadir a pacífica Babilônia.
Nota-se os esforços contínuos dos roteiristas Rhet Reese, Paul Winnick (ambos do primeiro filme) e Dave Callaham, além de seu elenco, para tornar este segundo filme tão divertido e engraçado quanto o primeiro. As soluções encontradas pelo roteiro podem até envolver e garantir alguma graça durante o tempo de duração do filme, mas ele nunca consegue igualar a inspiração flagrante do original –em parte, porque comédia é algo que se faz com espontaneidade, item escasso na maior parte do filme, substituído por uma histeria que o diretor Ruben Fleischer parece confundir com comicidade.
Não é de todo o ruim: Há alguns momentos realmente engraçados, a sintonia entre os protagonistas (salvo, talvez, o deslocamento de Abigail Breslin) continua afinada e carismática, e um ou outro acréscimo no elenco contribui com novas risadas, porém, há algo de muito errado no filme quando percebemos que sua melhor cena, anos-luz a frente de todas as outras, é a sequência surpresa nos créditos finais com a sensacional participação de Bill Murray.

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