quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O Vingador Silencioso

Influência-mor para Quetin Tarantino e seu “Os Oito Odiados”, o notável “O Vingador Silencioso”, de Sergio Corbucci, é um dos mais sensacionais ‘faroestes-spaghettis’ já feitos.
Seu protagonista, o pistoleiro mudo vivido por Jean-Louis Trintignant, apropriadamente apelidado por seus pares de Silêncio, é um habilidoso caçador de recompensas, norteado por um código de honra muito peculiar e específico: Ele lança mão de sua prodigiosa rapidez no gatilho apenas para se defender; ou seja, somente depois que seu oponente já sacou da arma. Tal postura garante que Silêncio esteja sempre dentro da Lei em suas operações, além de disseminar sua fama.
É um apreço característico que Corbucci parece nutrir por protagonistas que padecem de alguma limitação, como em “Django” (na cena final, Franco Nero tem de enfrentar os bandidões com as duas mãos quebradas!); aqui não só seu herói vem desprovido da fala, como também encontra certos obstáculos em sua própria conduta.
A história –concebida a partir de fatos reais –se ambienta nas montanhas gélidas e cobertas de neve do estado de Utah, o que em si já atribui à obra de Corbucci uma originalidade que a destaca em meio ao seu gênero.
Sabemos quem é Silêncio e como ele teve sua capacidade de falar brutalmente tirada de si num flashback de sua infância, mas é essencialmente em seu tumultuado presente que a trama haverá de concentrar-se; outros caçadores de recompensas, com bem menos escrúpulos, rondam a vasta região de Snow Hill, defendida com esmero e algum jogo de cintura pelo Xerife Burnett (Frank Wolff, de “Era Uma Vez No Oeste”). Um deles é Loco (Klaus Kinski, ameaçador feito uma serpente), cuja última vítima, um morador negro, deixou uma viúva (a bela Vonetta McGee, de “Blacula” e “Repo Man-A Onda Punk”) sedenta por vingança.
Ela vai ao vilarejo de Snow Hill na intenção de vender sua casa para o corrupto (e também vilanesco) banqueiro Policut (Luigi Pistilli, de “A Cauda do Escorpião”) e, usar do dinheiro, para pagar os serviços de Silêncio e acabar com Loco. Mas, Silêncio se apaixona por ela, propondo-se a executar essa tarefa de graça.
Entretanto, Loco é ardiloso: Ele faz o possível para não tocar na arma, impedindo Silêncio, baseado em seu termos pessoais, de atirar nele. Com isso, Loco é preso e, logo depois, levado por Burnett para a cidade mais próxima a fim de aguardar o enforcamento.
Mas, no caminho, Loco trapaceia o xerife e chama seu bando de companheiros caçadores de recompensas para invadir Snow Hill e vingar-se de Silêncio.
Após o desfecho surpreendentemente amargo –no qual o diretor Corbucci deliberadamente contraria as expectativas do público que ele mesmo plantou –um letreiro informa que os eventos deflagrados em Snow Hill levaram à forma reprovável com que a lei vigente no Velho Oeste de então passou a enxergar os caçadores de recompensas e seu ofício propício à torções da ordem.
Esse precedente verídico não chega a amenizar o peso trágico que o filme de Corbucci deixa no expectador, certamente grande responsável por manter este brilhante “O Vingador Silencioso” gravado na memória do público.

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