Durante os anos 1970, o diretor Sergio
Corbucci, fascinado pela simplicidade objetiva do clássico “Yojimbo-OGuarda-Costas”, de Akira Kurosawa, apropriou-se da mesma premissa –um
desconhecido chega a um vilarejo promovendo, ao seu jeito, uma reviravolta em
uma rixa entre duas gangues –para conceber um de seus faroestes spaghetti,
gênero que proliferou naquele período; o mesmo aconteceu, aliás, com Sergio
Leone, que também inspirou-se diretamente em “Yojimbo” para fazer “Por Um
Punhado de Dólares”.
Havia ao menos uma cena que assombrava a mente
criativa de Corbucci, e que ele vislumbrava como o clímax final do filme: O
herói, com suas mãos quebradas, precisava encarar, num cemitério árido,
meia-dúzia de malfeitores na base do gatilho.
Desse modo, pode-se dizer que o roteiro
elaborava toda a trama e os personagens na intenção de chegar a esse momento: Carregando
um caixão pelo Velho Oeste afora, um estranho e incomum andarilho chamado
Django (Franco Nero, o primeiro e melhor de uma longa lista de atores que
interpretaram o personagem) chega à uma poeirenta cidadezinha onde a perigosa
disputa entre duas facções rivais ameaça tragar a oprimida população.
Não demora muito a Django revelar sua natureza:
é um daqueles tantos pistoleiros durões, calados e misteriosos que infestam as
produções do gênero, e o caixão que ele arrasta, vem a conter não um cadáver,
mas uma infinidade de armas de fogo, às quais ele sabe muito bem dar serventia.
Os planos de Django não incluem escolher um dos
lados dessa pendenga, nem tampouco ajudar propriamente os pobres moradores; ele
quer, antes de qualquer coisa, lucrar e para isso elabora um arrisco meio de
passar a perna nos supostos aliados que arregimenta –que o incluem num plano
audacioso para roubar um carregamento de ouro de seus adversários.
Extremamente bem recebido
pelo público à época de seu lançamento, este faroeste –como muitos exemplares
do período –afastava-se do caráter clássico e romantizado dos trabalho dos
tempos de John Ford, para agregar sanguinolência, desdobramentos psicológicos e
morais, e outras transgressões permitidas pelo período de experimentação que o
próprio cinema atravessava. Um dos mais cultuados títulos desse ciclo,
“Django”, que fez do ator Franco Nero um astro (embora ele realmente não chegue
aos pés da presença poderosa de Clint Eastwood) é um passatempo irreal e
estranho, fruto de certa ebuliência com que o gênero (não só o faroeste) estava
sendo tratado por diretores mais jovens em meados dos anos 1970, mas ainda um
belo trabalho na direção do italiano Sergio Corbucci.
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