quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Os Oito Odiados

Desde o inaugural “Cães de Aluguel” ninguém está seguro em um filme de Quentin Tarantino. E as coisas continuam inóspitas neste seu novo trabalho, “Os Oito Odiados”, ele próprio guardando imensas similaridades com “Cães de Aluguel”: Lá estão os mesmos personagens violentos e perigosos, confinados num único ambiente (uma cabana nas montanhas que serve de refúgio para uma nevasca que irá durar dias); e lá também estão as suspeitas de que alguém dali é um traidor prestes a matar a todos.
Comparar os dois filmes é constatar o acentuado aprimoramento técnico que, como diretor, ele ganhou ao longo dos anos, mas salvo essa desenvoltura para com o acabamento, ele manteve-se o mesmo, preservando aquela fúria idiossincrática, a contundência moral e o senso de observação afiado para com as facetas mais brutais do ser humano.
E permanece um grande entusiasta do cinema.
Entre as muitas referências que transitam neste irônico e monumental faroeste (irônico e monumental em todos os sentidos, inclusive na exuberante captura visual da fotografia em Ultra Panavision 70), a combinação do ator Kurt Russel, do cenário tomado por neve, do ambiente claustrofóbico, bem como da descoberta de um inimigo mortal infiltrado entre eles, remete imediatamente ao clássico “Enigma do Outro Mundo”, de John Carpenter.
A narrativa episódica de Tarantino tem início nas pradarias extensas, cobertas de neve do Wyoming, onde os caminhos aparentemente levam todos os personagens à cidade de Red Rock. Como o caçador de recompensas John “O Enforcador” Ruth e a sua prisioneira, a indomável criminosa Daisy Domergue (a ótima Jennifer Jason Leigh).
À eles junta-se de imediato, o Major Marquis Warren (um imponente Samuel L. Jackson), também ele um caçador de recompensas em direção à Red Rock, e logo mais o duvidoso Chris Mannix (Walton Goggins), afirmando ser, por sua vez, o novo xerife do lugar. A nevasca que os persegue chega à alcançá-los já no isolado “Armazém da Minnie”, cuja dona não está; em seu lugar está um certo mexicano Bob, cheio de explicações esfarrapadas. Os outros membros ali confinados são: O carrasco Oswaldo Mobray (Tim Roth), o escorregadio Joe Gage (Michael Madsen) e o taciturno veterano da Guerra Civil, General Sanford Smithers (Bruce Dern).
Todos têm lá suas histórias nebulosas para contar. E todos são interpretados por atores magníficos.
Quando ainda estamos impressionados com o protagonismo poderoso de Samuel L. Jackson e Kurt Russel, logo somos arrebatados pela presença cheia de timbres de Tim Roth, ou pela desenvoltura sibilante de Walton Goggins, ou pela intrigante postura erradica de Demian Bichir, ou pelas atuações mais silenciosas, porém ressonantes e latentes de Michael Madsen e Bruce Dern.
Pensando melhor, por pouco a alucinada e magnífica composição de Jennifer Jason Leigh não rouba o filme para ela não fosse tanta gente boa em cena.
Com seu roteiro sensacional, pontuado por reviravoltas, e uma admirável técnica cinematográfica que evita magnificamente as armadilhas de um teatro filmado, Quentin Tarantino faz com que seu elenco majestoso seja o coração de mais este trabalho brilhante.

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