O cinema de Brian De Palma é um deleite de técnica.
Suas câmeras são obcecadas pela perscrutação constante de seus personagens, e
as tramas nas quais costumam estar inseridos são exercícios de suspense com
plots e reviravoltas de um atrevimento tamanho que só podiam ser mesmo
elaborados por alguém vindo do auge do inconformismo narrativo da Nova
Hollywood, período de seus primeiros filmes.
A fase inicial de De Palma, que durou até os
anos 1980, quando ele realizou incursões diferenciadas de gênero, guarda vários
títulos lembrados com muito carinho por seus fãs mais ardorosos. É ali que se
pode enxergar um cineasta ebuliente e talentoso, descobrindo sua própria voz,
ligeiramente diferente do Brian De Palma que teceu grandes trabalhos
oitentistas como a vigorosa refilmagem de “Scarface”, ou o clássico moderno “Os
Intocáveis”, ou mesmo o infernal e perturbador “Pecados de Guerra”, obras que
ainda ratificavam seu brilhantismo, mas que já flertavam com um cinema de
estúdio, enquanto que seus trabalhos da década anterior traziam um inédito
experimentalismo referencial (por mais irônico que o termo possa parecer).
“Irmãs Diabólicas” foi realizado um ano antes
de “O Fantasma do Paraíso” (outra obra de insuspeito atrevimento criativo), e
já remete notavelmente à Hitchcoock e à Tourneur, indeléveis inspirações para
De Palma.
Danielle é uma linda modelo tentando também a
carreira como atriz em meio à obscuros trabalhos televisivos em Nova York, e é
curioso que a atriz Margot Kidder faça jus à beleza da personagem, coisa que
ela não conseguiu em “Superman-O Filme” no qual ela interpretou Louis Lane de
maneira irritante seis anos depois. Em um vulgar programa de televisão, ela
flerta com um dos participantes e, logo, eles estão em seu apartamento prestes
a transar. Mas, as coisas nunca seguem um rumo convencional quando De Palma
brinca de ser Hitchcoock: O rapaz, até então aparentando ser um dos
protagonistas do filmes, é descartado numa cena que remete “Psicose” mas que
também introduz uma das manobras narrativas que fariam a fama de De Palma: O
‘split screen’, ou seja, a tela dividida, que foi primeiramente empregada por
Orson Welles em “A Marca da Maldade”, mas que ganhou fama, e um sem fim de
variações, nas mãos de De Palma mesmo.
Desse ponto em diante, a trama se descortina de
maneira inusitada –ao menos para os modorrentos padrões atuais –com novos
personagens surgindo para dar um enfoque distinto aos rumos escolhidos pelo
roteiro.
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