quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Irmãs Diabólicas

O cinema de Brian De Palma é um deleite de técnica. Suas câmeras são obcecadas pela perscrutação constante de seus personagens, e as tramas nas quais costumam estar inseridos são exercícios de suspense com plots e reviravoltas de um atrevimento tamanho que só podiam ser mesmo elaborados por alguém vindo do auge do inconformismo narrativo da Nova Hollywood, período de seus primeiros filmes.
A fase inicial de De Palma, que durou até os anos 1980, quando ele realizou incursões diferenciadas de gênero, guarda vários títulos lembrados com muito carinho por seus fãs mais ardorosos. É ali que se pode enxergar um cineasta ebuliente e talentoso, descobrindo sua própria voz, ligeiramente diferente do Brian De Palma que teceu grandes trabalhos oitentistas como a vigorosa refilmagem de “Scarface”, ou o clássico moderno “Os Intocáveis”, ou mesmo o infernal e perturbador “Pecados de Guerra”, obras que ainda ratificavam seu brilhantismo, mas que já flertavam com um cinema de estúdio, enquanto que seus trabalhos da década anterior traziam um inédito experimentalismo referencial (por mais irônico que o termo possa parecer).
“Irmãs Diabólicas” foi realizado um ano antes de “O Fantasma do Paraíso” (outra obra de insuspeito atrevimento criativo), e já remete notavelmente à Hitchcoock e à Tourneur, indeléveis inspirações para De Palma.
Danielle é uma linda modelo tentando também a carreira como atriz em meio à obscuros trabalhos televisivos em Nova York, e é curioso que a atriz Margot Kidder faça jus à beleza da personagem, coisa que ela não conseguiu em “Superman-O Filme” no qual ela interpretou Louis Lane de maneira irritante seis anos depois. Em um vulgar programa de televisão, ela flerta com um dos participantes e, logo, eles estão em seu apartamento prestes a transar. Mas, as coisas nunca seguem um rumo convencional quando De Palma brinca de ser Hitchcoock: O rapaz, até então aparentando ser um dos protagonistas do filmes, é descartado numa cena que remete “Psicose” mas que também introduz uma das manobras narrativas que fariam a fama de De Palma: O ‘split screen’, ou seja, a tela dividida, que foi primeiramente empregada por Orson Welles em “A Marca da Maldade”, mas que ganhou fama, e um sem fim de variações, nas mãos de De Palma mesmo.
Desse ponto em diante, a trama se descortina de maneira inusitada –ao menos para os modorrentos padrões atuais –com novos personagens surgindo para dar um enfoque distinto aos rumos escolhidos pelo roteiro.

Um grande trabalho de De Palma, injustamente bem mais desconhecido do que outras de suas obras.

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