É, por vezes, complicado apontar o melhor filme
de um determinado gênero. Por exemplo: Qual seria o melhor filme já feito de
ficção científica? Para uns, certamente “2001-Uma Odisséia No Espaço”, outros
diriam “Blade Runner-O Caçador de Andróides”, ou até “Metrópolis”, de Fritz
Lang. Há até aqueles que poderiam insistir em “Matrix” ou “Avatar”.
Com relação aos filmes de drama é ainda mais
complicado; são tantos sub-gêneros que fica difícil escolher um só entre obras
que vão desde “Casablanca” e “E O Vento Levou”, até trabalhos como “Cidadão
Kane”, “O Sétimo Selo” ou “Os Incompreendidos”.
Mas, no que diz respeito ao faroeste essa é uma
pergunta bem mais fácil de ser respondida: É provavelmente “Era Uma Vez No
Oeste”, de Sergio Leone, a grande obra-prima do gênero.
Toda e qualquer afirmação radical encontra uma
voz discordante, mas a verdade é que este grande filme de Leone, além de sua
excelência inquestionável, reune elementos que convergem de todas as facetas
que o gênero já teve: Trás uma série empolgante de grandes referências aos
faroestes da Antiga Hollywood –sendo as mais explícitas, as imagens do Monument
Valley, tantas vezes usado por John Ford, e a presença poderosa de um grande
ator daquele período, o grande Henry Fonda, no único (e espetacular) papel de
vilão em toda a sua carreira –além de apreender, em sua complexa trama, todo o
significado implícito do gênero, e trazer a herança dos faroestes spaghetti; o
italiano Leone, afinal, veio desse sub-gênero, no qual criou a famosa “Trilogia
dos Dólares”.
Acompanhamos o desenrolar de sua trama quando um
homem misterioso (Charles Bronson, no papel que é sua grande contribuição ao
faroeste) surge numa estação de trem no meio do nada. Pistoleiro hábil, ele
elimina de pronto os carrancudos homens deixados ali para cuidar dele. Seu
objetivo parece ser matar o fora da lei Frank (Henry Fonda), notório
mau-caráter que assassinou uma família inteira –numa cena tão brilhante quanto
estarrecedora –com o objetivo de se apossar do terreno.
Frank não contava contudo com o aparecimento da
jovem viúva (uma assombrosamente linda Claudia Cardinale), esposa do
proprietário, e herdeira de tudo o que ele possui, incluindo o terreno cobiçado
por Frank e por seu sócio o quase inválido, mas poderoso homem de negócios,
Morton (Gabriele Ferzetti).
Frank e o pistoleiro misterioso serão uma
espécie de ponto de desequilíbrio na história.
Logo, esses dois homens tão opostos e tão
equivalentes se darão conta que são uma raça em extinção, e que o Velho Oeste
já não mais existe e em seu lugar começa a surgir uma América industrializada,
política e organizada que lhes é inóspita.
Esse é o legado do Velho Oeste que Leone soube
tão bem colocar aqui: A de um tempo de transição, rumo à uma América que todos
nós, expectadores, conhecemos tão bem. Um tempo que moldou homens sobre os
quais contam histórias de bravura, até crueldade, não raro, imbuídas de
romantismo, mas sempre impregnadas pelo cheiro forte da pólvora e da morte.
E os duelos, meu Deus! Alguém um dia conseguiu
filmar duelos melhor do que Sergio Leone?
Do início ao fim, todos eles são cenas
arrepiantes e perfeitas que se sucedem, de maneira espantosa. O destaque, sem
dúvidas, fica com o duelo final, quando o personagem de Bronson enfim fica
frente a frente com o personagem de Fonda, e descobriremos qual é o grande
segredo do primeiro, e que vem a selar então o destino do segundo, num dos
grandes momentos da história do cinema.
Leone está para os
faroestes como Akira Kurosawa está para os filmes de samurais: Um mestre a ser
reverenciado, e nada mais.
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