sábado, 19 de novembro de 2016

Era Uma Vez No Oeste

É, por vezes, complicado apontar o melhor filme de um determinado gênero. Por exemplo: Qual seria o melhor filme já feito de ficção científica? Para uns, certamente “2001-Uma Odisséia No Espaço”, outros diriam “Blade Runner-O Caçador de Andróides”, ou até “Metrópolis”, de Fritz Lang. Há até aqueles que poderiam insistir em “Matrix” ou “Avatar”.
Com relação aos filmes de drama é ainda mais complicado; são tantos sub-gêneros que fica difícil escolher um só entre obras que vão desde “Casablanca” e “E O Vento Levou”, até trabalhos como “Cidadão Kane”, “O Sétimo Selo” ou “Os Incompreendidos”.
Mas, no que diz respeito ao faroeste essa é uma pergunta bem mais fácil de ser respondida: É provavelmente “Era Uma Vez No Oeste”, de Sergio Leone, a grande obra-prima do gênero.
Toda e qualquer afirmação radical encontra uma voz discordante, mas a verdade é que este grande filme de Leone, além de sua excelência inquestionável, reune elementos que convergem de todas as facetas que o gênero já teve: Trás uma série empolgante de grandes referências aos faroestes da Antiga Hollywood –sendo as mais explícitas, as imagens do Monument Valley, tantas vezes usado por John Ford, e a presença poderosa de um grande ator daquele período, o grande Henry Fonda, no único (e espetacular) papel de vilão em toda a sua carreira –além de apreender, em sua complexa trama, todo o significado implícito do gênero, e trazer a herança dos faroestes spaghetti; o italiano Leone, afinal, veio desse sub-gênero, no qual criou a famosa “Trilogia dos Dólares”.
Acompanhamos o desenrolar de sua trama quando um homem misterioso (Charles Bronson, no papel que é sua grande contribuição ao faroeste) surge numa estação de trem no meio do nada. Pistoleiro hábil, ele elimina de pronto os carrancudos homens deixados ali para cuidar dele. Seu objetivo parece ser matar o fora da lei Frank (Henry Fonda), notório mau-caráter que assassinou uma família inteira –numa cena tão brilhante quanto estarrecedora –com o objetivo de se apossar do terreno.
Frank não contava contudo com o aparecimento da jovem viúva (uma assombrosamente linda Claudia Cardinale), esposa do proprietário, e herdeira de tudo o que ele possui, incluindo o terreno cobiçado por Frank e por seu sócio o quase inválido, mas poderoso homem de negócios, Morton (Gabriele Ferzetti).
Frank e o pistoleiro misterioso serão uma espécie de ponto de desequilíbrio na história.
Logo, esses dois homens tão opostos e tão equivalentes se darão conta que são uma raça em extinção, e que o Velho Oeste já não mais existe e em seu lugar começa a surgir uma América industrializada, política e organizada que lhes é inóspita.
Esse é o legado do Velho Oeste que Leone soube tão bem colocar aqui: A de um tempo de transição, rumo à uma América que todos nós, expectadores, conhecemos tão bem. Um tempo que moldou homens sobre os quais contam histórias de bravura, até crueldade, não raro, imbuídas de romantismo, mas sempre impregnadas pelo cheiro forte da pólvora e da morte.
E os duelos, meu Deus! Alguém um dia conseguiu filmar duelos melhor do que Sergio Leone?
Do início ao fim, todos eles são cenas arrepiantes e perfeitas que se sucedem, de maneira espantosa. O destaque, sem dúvidas, fica com o duelo final, quando o personagem de Bronson enfim fica frente a frente com o personagem de Fonda, e descobriremos qual é o grande segredo do primeiro, e que vem a selar então o destino do segundo, num dos grandes momentos da história do cinema.
Leone está para os faroestes como Akira Kurosawa está para os filmes de samurais: Um mestre a ser reverenciado, e nada mais.

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