Em tempos de Coronavírus, este filme lançado em
2011 (durante a comoção do H1N1, a gripe suína) voltou a ganhar relevância na
lembrança dos expectadores. Trata-se de uma superprodução conduzida por Steve
Sodenbergh com a mesma elegância que ele dedicou à sua obras menores e
independentes.
Vitimada por um vírus desconhecido após uma
viagem internacional, americana moradora de Minnesota (e interpretada por
Gwyneth Paltrow) morre no leito hospitalar sem razões aparentes, logo seguida
de seu filho de sete anos.
Ela deixa viúvo seu marido (Matt Damon,
provavelmente o protagonista em meio à tantos astros) e os médicos com uma
perturbadora interrogação acerca do quê a matou.
Nas cenas simultâneas mostradas por Sodenbergh
fica claro que houve contágio: No aeroporto, uma estagiária em Londres, um
assalariado de Hong Kong e um executivo do Japão também acabam infectados por
ela.
O episódio em solo americano, imediatamente
seguido de vários outros, aciona o Centro de Controle de Doenças dos EUA, cujos
profissionais (entre eles, Laurence Fishburne, Kate Winslet, Bryan Cranston e
Jennifer Ehle) correm para catalogar os efeitos da doença e conter seu rápido
avanço identificando cada uma das pessoas contaminadas –que em poucos dias eles
perceberão ser milhares.
Logo, um digital influencer (Jude Law) passa a
valer-se do fato de ter sido um dos primeiros a noticiar o surto, e gera pânico
com suas declarações bombásticas destituídas de embasamento e senso de
responsabilidade.
São também enviados profissionais (Marion Cotillard
e Chin Han) para investigar a origem do vírus (ao que tudo indica em Macau)
enquanto equipes de geneticistas correm contra o tempo para criar uma vacina
para o que logo se torna uma ameaça de nível global.
É curiosa a forma com que Sodenbergh aborda os
desdobramentos humanos da crise –evidentemente acometida de características
muito mais dramáticas do que os exemplos recentes da vida real –ostentando um
elenco numeroso e estelar, mas, deixando claro em sua narrativa que essas
presenças são, ainda assim, efêmeras diante das implicações ocasionadas de
absurdo que se sucedem: A personagem de Marion é sequestrada por aldeões
interessados em usá-la como refém para barganhar e tornarem-se os primeiros da
fila quando houver uma vacina; o personagem de Jude Law, de olho em lucro
pessoal, passa a coagir a população que segue suas orientações para não
acreditar no Centro de Controle de Doenças, nem mesmo quando uma cura é
finalmente processada; o vírus se alastra com mais intensidade devido à
desorganização logística das autoridades locais que, a partir de determinado
momento, têm de lidar até com uma greve de funcionários da área de saúde;
todavia, nada gera mais caos do que o medo disseminado pela mídia
sensacionalista (não dá uma sensação de déja-vú?), o que leva pessoas a estocar
comida e o exército a fechar fronteiras; e a própria concepção da vacina
(obtida no terço final do filme) se dá pela ação de personagens que desafiaram
as normas e a burocracia (como o médico vivido por Elliott Gould e a sensacional
personagem de Jennifer Ehle) para agilizar o salvamento de vidas humanas.
Com este filme austero e
incisivo, Sodenbergh usa de seu talento para analisar os efeitos de uma
epidemia, não tanto pelo aspecto científico e orgânico da doença em si, mas a
partir das distintas ações e reações flagradas nos diferentes e diversos
personagens que ele bota em cena que, de modo geral, representam os sentimentos
cosmopolitas, evasivos e não raro egoístas do ser humano diante dessas
situações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário