Os projetos do diretor Bob Fosse sempre
caminharam, cada vez mais, na direção de uma auto-referência: Dono de um estilo
forte e singular na maneira com que assimilava o realismo cinematográfico e o
contrapunha à estrutura do gênero musical –do qual urgiu obras-primas como
“Cabaret” –Fosse inspirava-se, para tanto, em modelos criativos vindos da
Europa, indo de encontro à pecha de elitista: Federico Fellini e Ingmar Bergman
eram, por vezes, influentes em suas obras.
É sobretudo, inspirado pelo primeiro e seu
arrojado “8 e ½” que Fosse moldou também ele uma obra de metalinguagem de
fortes tintas autobiográficas que –ao contrário do bloqueio criativo do filme
de Fellini –focava a aflição de seu protagonista numa quase indefinível e até
perigosa sensação de viver com tal intensidade que a pessoa ameaça se esvair.
Seu filme se debruça então na insistência de um
diretor e coreógrafo (Roy Scheider, no papel do alter-ego de Fosse) em viver e
amar, a despeito das advertências de seus médicos que afirmam que no ritmo em
que vive pode sofrer um ataque cardíaco a qualquer momento.
Por essa razão, não raro ele enxerga o Anjo da
Morte, na forma de uma bela e convidativa mulher (uma presença silenciosa e
lúdica de Jessica Lange), a observá-lo seguir por um caminho inevitável.
Essa via-crusis adquire constantes
características dos próprios musicais que ele elabora, dando às percepções
metafísicas do cotidiano –ainda mais intensificadas em sua indulgência e seu
questionamento pela proximidade da morte –uma névoa intrigante de sombria celebração.
Talvez, a obra de Bob Fosse que resume com maior sinceridade a sua própria
vida, assimilando por isso mesmo muitas das suas influências cinematográficas e
teatrais, e fazendo referência à projetos que ele tocou na vida real como a
biografia "Lenny" (o filme sobre um cômico cheio de histrionismo
mostrado apenas nos bastidores lembra muito o filme com Dustin Hofman) e a
frustrada tentativa de adaptar "Chicago" (cuja linguagem Fosse buscou
adaptar até a morte, sendo materializado em filme somente em 2002, por Rob
Marshall) –o título deste filme, a propósito, é extraído de uma música da peça “Chicago”!
Apesar de todos esses
detalhes que ajudam a tornar mais intrigante e rica sua experiência, “All That
Jazz” não escapa ao fato de que sua dramaticidade algo anacrônica e o excesso
de egocentrismo da parte de seu realizador o fazem um musical bastante datado e
enfadonho para os dias de hoje.
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