segunda-feira, 9 de junho de 2025

Amor À Primeira Vista


 Melodrama dos anos 1980 cuja abordagem soa inversa à, por exemplo, do romântico “Amor À Flor da Pele”, de Won Kar Wai, no qual acompanhávamos a via-crusis das contrapartes traídas de dois casais envolvidos em adultério. Aqui é incontornável a romantização de um ato que, no fim das contas, é uma traição –ainda que o filme, com elegância, sutileza e parcimônia vá mascarando isso diante do expectador. Não à toa, houveram críticas, na época de seu lançamento, direcionadas exatamente à essa postura. Filmado na Estação Central de Nova York e aproveitando essencialmente o hype da reunião entre de Meryl Streep e Robert De Niro (saídos, respectivamente das produções “Silkwood-Retrato de Uma Coragem” e “Era Uma Vez Na América”), o filme dirigido por Ulu Grosbard (que havia realizado, em 1981, o drama policial “Liberdade Condicional”, com De Niro) parece se beneficiar exatamente desses detalhes para se impor, no mais, contentando-se em ser um romance ameno, sem rompantes e de baixa voltagem. Características que não o impedem de ser um bocado encantador aos olhos de seu público-alvo.

 Arquiteto, morador do subúrbio de Westchester, Nova York, Frank Raftis (Robert De Niro) é casado com Ann (Jane Kaczmarek, de “Morto Ao Chegar” e “A Vida Em Preto & Branco”), com quem tem dois filhos pequenos. Moradora nas mesmas redondezas, a artista plástica Molly Gilmore (Meryl Streep) também é casada, com Brian (David Clennon, de “Inferno Sem Saída” e “Muito Além do Jardim”). Ambos tomam o mesmo percurso de trem diariamente, porém, sem nunca se encontrar: Frank, para ir e voltar do trabalho; Molly, para visitar constantemente seu pai (George Martin, de “Sociedade dos Poetas Mortos”) que está internado num hospital em Manhattan. É durante a véspera de Natal que eles se encontram pela primeira vez, ao trombarem um com o outro acidentalmente e, sem querer, acabar trocando os livros que haviam comprado. Alguns meses depois, eles tornam a se reencontrar na estação, se reconhecem e a partir daí, adquirem o hábito de todos os dias, fazerem companhia um ao outro durante a viagem, conforme vão se conhecendo melhor. Embora saibam que ambos são casados, isso não impede que um sentimento pouco a pouco comece a nascer entre eles.

A medida que o enredo de "Falling In Love" progride é impossível não lembrar de “Desencanto”, do mestre David Lean, que aparentemente o diretor Ulu Grosbard quis refilmar muito disfarçadamente e por baixo dos panos. Ele possui a mesma premissa básica, a mesma estrutura dramática, o mesmo subtexto a envolver adultério e uma perspectiva através da qual se humaniza o casal de amantes –sem julgamentos morais que seriam suscitados com mais insistência nos tempos de hoje. Certamente, o grande trunfo desta produção até que modesta (ainda que plenamente eficaz em sua proposta) é ter Meryl Streep e Robert De Niro, dois verdadeiros monstros sagrados em cena –De Niro inclusive venceu o prêmio Sant Jordi 1986 de Melhor Ator Estrangeiro, enquanto Meryl, por sua vez, foi agraciada com o prêmio David di Donatello de Melhor Atriz Estrangeira do mesmo ano do lançamento do filme, 1984, num desempenho intimista com elementos que ela revisitou, anos mais tarde, em  "As Pontes de Madison".

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