Uma das críticas mais comuns (e válidas) à
“Shazam!” afirmava que o ‘garoto em corpo de adulto’ interpretado por Zachary
Levi era mais infantil do que sua contraparte jovem de fato, o que colaborava
para tornar questionável sua atuação.
É interessante notar que esse lapso não ocorre
à grande inspiração daquele filme: O contagiante clássico oitentista “Quero Ser
Grande”.
Provavelmente o primeiro passo de Tom Hanks
rumo ao estrelato absoluto que ele passou a experimentar nos anos 1990, “Quero
Ser Grande” deu-lhe sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator.
Sempre incomum à Academia indicar ao Oscar
obras de comédia, a atuação que Tom Hanks entrega aqui é daquelas difíceis de
serem ignoradas: Ao incorporar um garoto que, por magia, se vê num corpo adulto
–Hanks, no caso, interpretando a predominante versão adulta do personagem –o
ator vale-se de maneirismos bem colocados, humor pueril em perfeita sintonia
com sua caracterização e uma serenidade em cena que faz parecer que, para ele,
tão sensacional composição foi feita com facilidade.
Antes vivido pelo pequeno David Moscow, Josh
Baskin é um moleque de doze anos de idade igual a qualquer outro a crescer num
subúrbio nova-iorquino dos anos 1980.
As coisas mudam quando a magia dá um jeito de
tumultuar sua vida: Durante uma noite num parque de diversões, após uma forte
desilusão com seu tamanho mirrado –ele foi impedido de entrar num brinquedo por
ser muito pequeno em frente à garota com quem flertava! –Josh encontra uma
máquina de desejos chamada “Zoltar” e, ao custo de 25 centavos, seu pedido é
crescer de uma vez! Contudo, na manhã seguinte, Josh já não é mais o mesmo
garotinho –ao menos, não por fora: Embora conserve a mentalidade, a
personalidade e a vivacidade de um garoto de doze anos, ele agora tem o corpo
de trinta ostentado por Tom Hanks.
Uma versão sua adulta.
Do jeito como está –incapaz de provar à própria
mãe (Mercedes Ruehl, de "O Pescador de Ilusões") o feitiço mágico do qual foi vítima –Josh tem de
encontrar, na cidade, um lugar para ficar até resolver aquela enrascada. Precisa também encontrar
emprego e manter-se nesse período.
E aí surge uma oportunidade de trabalhar numa
empresa fabricante de brinquedos. Numa sacada cheia de espirituosidade dos
roteiristas Gary Ross (diretor de “Jogos Vorazes”) e Anne Spielberg, é
justamente o fato de ser uma criança em seu interior que beneficia Josh e o
ajuda a prosperar profissionalmente em meio aos executivos implacáveis de
ideias corporativas: Ele compreende brinquedos como ninguém e suas sugestões
práticas acabam caindo nas graças do todo poderoso presidente da empresa
(Robert Loggia, de "A Estrada Perdida").
Ele também conquista o coração de uma executiva
impiedosa e cínica (a muito bonita Elizabeth Perkins) que termina contagiada
por sua transparência pueril e se torna mais afetiva e amorosa deixando de lado
a frieza empresarial.
Dirigido com insuspeita sensibilidade por Penny
Marshall, “Quero Ser Grande” justamente nessa pressuposição irônica da
ingenuidade prevalecendo sobre o cinismo acaba se irmanando tematicamente à
outro filme, em princípio de tom e tema distinto, embora, no final das contas,
nem tanto, o delicado “Muito Além do Jardim”, onde um homem alienado em sua
simplicidade convence a todos de que é um gênio. Sob esse prisma, ele
certamente se assemelha também ao bem posterior “Forrest Gump-O Contador de Histórias”, que deu ao mesmo Tom Hanks, o segundo Oscar de sua carreira. A
concepção de que nenhum outro ator conseguiria capturar com tanta autenticidade
as características verdadeiramente ingênuas e sinceras de uma criança tão bem quanto
Hanks, porém, surgiu mesmo com este filme.
E ele o fez com inimitável
precisão.
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