segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Shazam!

Nesta nova tentativa da Warner/DC de emplacar um sucesso (sobretudo, de execução), o escolhido foi um super-herói que não gozava do amplo reconhecimento de Batman ou Superman (bom sinal, sem pensarmos que isso traz mais despretensão e menos expectativa para o projeto) e que, a sua maneira, protagonizou um pequeno conflito de interesses entre as famosas editoras DC Comics (a qual pertence) e Marvel Comics (que certamente dispensa apresentações): Batizado Capitão Marvel, tal super-herói (que se transforma, de um garoto adolescente num herói de corpo adulto e super-poderes à menção da palavra ‘Shazam’), entrou em controvérsia já que a Marvel possuía seu próprio Capitão Marvel, assim como sua “Capitã Marvel” –cuja adaptação cinematográfica da Marvel Studios estreou nos cinemas em uma data bastante aproximada da deste daqui.
Com esse conflito, a editora DC optou por deixar de lado aquela alcunha original em prol do título “Shazam!”; e a piada em torno de não haver um nome definido para o herói protagonista acaba sendo tão recorrente aqui que às vezes se arrisca a ficar repetitiva.
Entretanto, não há como negar que “Shazam!” faz mais bem do que mal.
A Warner/DC, se fracassou de forma homérica em tentar estabelecer um universo como o da Marvel no cinema, ao menos deu sinais de recuperação quando “Aquaman” provou que aquele panteão de heróis podia render filmes de qualidade.
Aqui não só esse objetivo é novamente atingido como também trata-se do mais bem-humorado e descontraído filme a envolver esses personagens até então, normalmente marcados por um tom soturno e sombrio que remete aos filmes de Zack Snyder.
E há uma razão para isso: O personagem principal, Billy Batson (Ashel Angel), é um garoto de 14 anos. Apesar de orfão e obcecado em encontrar a própria mãe que dele perdeu-se quando tinha poucos anos de idade –e que o levou assim a uma vida em lares de adoção –Billy, como todo garoto de sua idade, se empolga com os vislumbres ocasionais das pessoas superpoderosas que surgem no universo em que vive (sem saber que está prestes a se tornar uma delas).
No mais recente lar de acolhimento no qual foi parar, Billy conhece Freddy (Jack Dylan Grazer, de “It-A Coisa”), jovem portador de poliomilite fixado por super-heróis, cujo amplo conhecimento teórico nesse quesito vem bem a calhar: Numa ocasional viagem de metrô, Billy acaba transportado para os domínios de um certo mago (Djimon Hounsou) que a ele transfere grandes poderes –basta falar seu nome e um relâmpago transforma o garoto normal num adulto (interpretado com entusiasmo transbordante por Zachary Levi), trajado nas vestes fantásticas de um herói e dotado dos mesmos poderes de um (superforça, invulnerabilidade, capacidade de voar e de emitir raios das mãos).
Na evidência de sua premissa, não é preciso fazer muito esforço para perceber a grande influência cinematográfica que o diretor David F. Sandberg usará a partir daí: O clássico oitentista “Quero Ser Grande”, com Tom Hanks, que tanto lhe serve de modelo para o tom de sua comédia quanto para a abordagem de seu personagem principal; e ainda, caso não tivesse ficado bem óbvio, ganha um referência absolutamente explícita à cena de dança sobre o piano num trecho do filme.
Porém, “Shazam!” também pertence ao universo DC (ou ao que dele restou após tantos equívocos), e as referências ao Batman e ao Superman (e a outros heróis e personagens aqui e ali) são também elas constantes.
É um deleite constatar que apesar disso, o diretor Sandberg não esquece a própria trama: Outrora uma criança desprezada na seleção pelos poderes realizada pelo mago Shazam, o maquiavélico Dr. Silvana (Marc Strong) elabora um plano para adquirir aliados sobrenaturais na forma dos demoníacos Sete Pecados (as monstruosidade que o mago tentava manter aprisionadas) e usurpar os poderes do próprio Shazam.
O que vem a colocar Billy, o herói, em rota de colisão com Silvana, o vilão.
Está longe de ser uma fórmula original (a origem do herói; a descoberta dos poderes e sua gradual aprendizagem de como emprega-los, assim como a conscientização de seus deveres), e seu diretor sabe disso: Hábil, Sandberg imprime o máximo de humor leve e aventura escapista a fim de tornar essa uma obra fluida, divertida e agradável.
Não escapa de alguns excessos inerentes de quem quer muito agradar: “Shazam!” frequentemente exagera nas piadinhas juvenis e na ingenuidade destrambelhada de seus protagonistas, além de se exceder na duração (não casa bem a uma produção que almeja ser tão descontraída ou despretensiosa ultrapassar as duas horas).
No entanto, graças à euforia contagiante de seus personagens, à empatia predominante de todo o elenco e a outras escolhas pertinentes de sua direção, “Shazam!” troca a densidade saturada e o pessimismo lúgubre de “O Homem de Aço” ou “Batman Vs Superman” por uma bem-vinda leveza.

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