Pela variedade de intenções e de objetivos com
os quais se pode tratar o tema, existem diversos filmes sobre a violência por
aí. Alguns são chocantes, não raro perturbadores, ao levar esse registro da
violência a extremos, ainda usando-a como chamariz do próprio filme enquanto
realização. Outros buscam um viés mais questionador, numa postura
anti-violência; mas, que não deixa de emula-la mesmo assim.
A decisão de pender mais para a segunda
alternativa é algo que define a obra do diretor sul-coreano Park Ki Hyeong, e
baseado na qual ele busca narrar este conto de marginalidade juvenil despido de
contradições.
Se a violência é certamente inerente aos
personagens do filme, e o diretor Hyeong se coloca contra ela, é necessário uma
postura muito bem planejada e ponderada de sua narrativa –e honrando a fama de
grandes realizadores vindos da Coréia do Sul, Hyeong não decepciona, embora por
isso mesmo haja uma atenção demasiada ao tópico abordado e menos à trama que é
contada.
Um grupo de estudantes sul-coreanos une-se
graças a um amigo em comum; eles também compartilham o mesmo apreço por
futebol, e uma afinidade em termos de personalidade que os leva a formar um
time, chamados os Tigres.
O protagonista da trama, Sang Ho, é também quem
se torna presidente do time.
Há, como dito antes, uma agressividade inerente
a todos eles, e que, na maioria das vezes, se vê extravasada no esporte –embora
hajam ocasiões como aquela em que um deles luta com um dos professores a fim de
defender o amigo; e termina expulso.
A partir mais ou menos de sua segunda metade, o
filme ganha ares de intriga adolescente quando uma gangue de violentos
estudantes rivais se coloca como os antagonistas principais.
O líder deles é ex-namorado de Suhee, garota
por quem Sang Ho começa a se apaixonar.
E o filme de Hyeong, nessa opção por
especificar heróis e vilões com ambiguidades menos perceptíveis, deixa o verniz
adulto um pouco de lado para se assumir um pouco mais comercial, a lembrar, em
muitas passagens o juvenil e oitentista “Tuff Turf-O Rebelde”.
Entretanto, ele jamais deixa de condenar a
brutalidade.
Como “Escola da Violência” apresenta embates do
início ao fim, a direção de Hyeong não tarda assim a se ver diante do mesmo
dilema que possivelmente acometeu os grandes diretores que se encarregaram de
levar um ótica distinta à violência; Stanley Kubrick em “Laranja Mecânica”,
David Fincher em “Clube da Luta”, Walter Hill em “Os Selvagens da Noite” ou
Shinya Tsukamoto em “Tokyo Porrada” –enaltece-la, e dela fazer um espetáculo gráfico
para a satisfação dos instintos sádicos e subconscientes do público? Ou
repudia-la, renegando de certa maneira o próprio cerne de sua premissa?
A saída de Hyeong para essa dúvida é
refugiar-se no próprio estilo: As lutas aqui, não são evitadas nem omitidas (e
nem poderiam ser mesmo), elas não possuem coreografias elaboradas (contrariando
a maioria esmagadora de produções dessa temática), em vez disso, desenrolam-se
com todas as imperfeições gestuais muita humanas de seus personagens. Hyeong
deixa claro que não se empolga com tal manifestação, as lutas se deflagram
sempre com um denominador que lhes tira o foco; seja o interesse do diretor pela música, seja pelos
enquadramentos de natureza eliptica ou os movimentos de câmera que exploram
detalhes periféricos –mesmo no sangrento clímax, essa decisão prevalece quando
ele converte a cena do colorido para o preto & branco.
Essa posição convicta e
deliberada provavelmente incomodará aqueles expectadores entusiastas da
pancadaria –não é, de qualquer forma, para eles que Hyeong concebeu esse
trabalho –no entanto, apenas como informação, tal execução não impede este
filme de ter uma tomada (uma quebra do osso da perna) das mais chocantes do
cinema.
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