quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Escola da Violência

Pela variedade de intenções e de objetivos com os quais se pode tratar o tema, existem diversos filmes sobre a violência por aí. Alguns são chocantes, não raro perturbadores, ao levar esse registro da violência a extremos, ainda usando-a como chamariz do próprio filme enquanto realização. Outros buscam um viés mais questionador, numa postura anti-violência; mas, que não deixa de emula-la mesmo assim.
A decisão de pender mais para a segunda alternativa é algo que define a obra do diretor sul-coreano Park Ki Hyeong, e baseado na qual ele busca narrar este conto de marginalidade juvenil despido de contradições.
Se a violência é certamente inerente aos personagens do filme, e o diretor Hyeong se coloca contra ela, é necessário uma postura muito bem planejada e ponderada de sua narrativa –e honrando a fama de grandes realizadores vindos da Coréia do Sul, Hyeong não decepciona, embora por isso mesmo haja uma atenção demasiada ao tópico abordado e menos à trama que é contada.
Um grupo de estudantes sul-coreanos une-se graças a um amigo em comum; eles também compartilham o mesmo apreço por futebol, e uma afinidade em termos de personalidade que os leva a formar um time, chamados os Tigres.
O protagonista da trama, Sang Ho, é também quem se torna presidente do time.
Há, como dito antes, uma agressividade inerente a todos eles, e que, na maioria das vezes, se vê extravasada no esporte –embora hajam ocasiões como aquela em que um deles luta com um dos professores a fim de defender o amigo; e termina expulso.
A partir mais ou menos de sua segunda metade, o filme ganha ares de intriga adolescente quando uma gangue de violentos estudantes rivais se coloca como os antagonistas principais.
O líder deles é ex-namorado de Suhee, garota por quem Sang Ho começa a se apaixonar.
E o filme de Hyeong, nessa opção por especificar heróis e vilões com ambiguidades menos perceptíveis, deixa o verniz adulto um pouco de lado para se assumir um pouco mais comercial, a lembrar, em muitas passagens o juvenil e oitentista “Tuff Turf-O Rebelde”.
Entretanto, ele jamais deixa de condenar a brutalidade.
Como “Escola da Violência” apresenta embates do início ao fim, a direção de Hyeong não tarda assim a se ver diante do mesmo dilema que possivelmente acometeu os grandes diretores que se encarregaram de levar um ótica distinta à violência; Stanley Kubrick em “Laranja Mecânica”, David Fincher em “Clube da Luta”, Walter Hill em “Os Selvagens da Noite” ou Shinya Tsukamoto em “Tokyo Porrada” –enaltece-la, e dela fazer um espetáculo gráfico para a satisfação dos instintos sádicos e subconscientes do público? Ou repudia-la, renegando de certa maneira o próprio cerne de sua premissa?
A saída de Hyeong para essa dúvida é refugiar-se no próprio estilo: As lutas aqui, não são evitadas nem omitidas (e nem poderiam ser mesmo), elas não possuem coreografias elaboradas (contrariando a maioria esmagadora de produções dessa temática), em vez disso, desenrolam-se com todas as imperfeições gestuais muita humanas de seus personagens. Hyeong deixa claro que não se empolga com tal manifestação, as lutas se deflagram sempre com um denominador que lhes tira o foco; seja o interesse do  diretor pela música, seja pelos enquadramentos de natureza eliptica ou os movimentos de câmera que exploram detalhes periféricos –mesmo no sangrento clímax, essa decisão prevalece quando ele converte a cena do colorido para o preto & branco.
Essa posição convicta e deliberada provavelmente incomodará aqueles expectadores entusiastas da pancadaria –não é, de qualquer forma, para eles que Hyeong concebeu esse trabalho –no entanto, apenas como informação, tal execução não impede este filme de ter uma tomada (uma quebra do osso da perna) das mais chocantes do cinema.

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