Alguns casos de clássicos dos anos 1980 são de
filmes que registram, com nostalgia, uma época cheia de elementos incomuns, e
que ficou na memória afetiva de muita gente. Outros são filmes de qualidade
mesmo, para os quais o tempo não passou.
Mas, há outros casos de filmes que ficaram,
sim, datados, e o passar do tempo deu-lhes um novo sabor. E acontece que
“Warriors” ficou delicioso.
O diretor, Walter Hill, nunca gozou de
prestígio irrestrito, embora tenha feito uma quantidade considerável de bons
filmes naquele período, a maioria deles pulsando testosterona, onde a violência
era a forma de expressão não só dos bandidos, mas dos mocinhos também. Na
realidade, Walter Hill, em mais de um de seus filmes –mas, principalmente neste
–valia-se muito dessa indiferença ao politicamente incorreto que persistia no
período, para criar filmes, não raro aventuras revestidas de verniz
barra-pesada, onde os heróis e vilões tinham sua distinção um pouco borrada.
No dançante “Ruas de Fogo”, por exemplo, o
herói da história, contratado para reaver uma estrela do rock seqüestrada por
uma gangue de motoqueiros (anos 1980, sabe como é...), é um personagem sombrio
e amargo, capaz de golpes baixos, tão perigoso quanto os bandidos que enfrenta.
Esse conceito aparece ainda mais explícito em
“Warriors”, onde acompanhamos uma gangue de Coney Island, indo à uma espécie de
reunião de todas as gangues de Nova York (o figurino homogêneo com que cada uma
se apresenta é um show à parte, e ameaça transformar o filme em comédia
involuntária). Acontece que Cyrus, uma espécie de messias, responsável por essa
reunião, é assassinado, e a culpa recai sobre os oito integrantes dos Warriors,
que têm de fugir e atravessar Nova York com todas as outras gangues em seu
encalço para chegar ilesos em Coney Island.
No quesito ação, o diretor Walter Hill sempre
foi um mestre: O ritmo, impecável, é mantido o filme inteiro, de maneira enxuta
e eficaz, despertando até raiva nos trabalhos incongruentes que se fazem
atualmente. A atmosfera, de perigo à cada esquina, também é sensacional,
justifica plenamente o culto que o filme possui até hoje.
É na questão da história e da caracterização
dos personagens que chegamos onde seria o suposto ponto fraco do filme, mas é
aí que “Warriors” beneficia-se justamente dessa perspectiva, de ser um filme
pertencente à outro tempo: Não existe uma distinção maior entre os Warriors e
outras gangues que também aparecem no filme (e o roteiro não se preocupa nem um
pouco em aprofundar qualquer um deles), na verdade, eles ganham nossa torcida
porque foram injustamente acusados, e porque efetivamente ganham mais tempo de
cena do que as outra gangues. Contudo, essa aridez não gera antipatia ao filme,
pelo contrário, é divertido e envolvente acompanhar todos os desenlaces que
acontecem e, se hoje em dia, o registro brutal e violento que o filme quer
fazer não existe mais, ele foi substituído por uma sensação de descontração e,
por que não, até por uma ingenuidade que passariam longe de um filme com este
tema feito mais recentemente.
O tempo transformou
“Warriors-Os Selvagens da Noite” num entretenimento cativante.
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