O quê o diretor inglês Ken Russel faz é puro
cinema, na sua mais engajada necessidade de transgredir, e em sua exuberante
convicção, sua arte não pode e não deve se prender às amarras de bom
comportamento.
É dessa maneira, consciente de quem esse
diretor controverso é (já vi “A Prostituta” e preparo o espírito para encarar o
famigerado “Os Demônios”), que chego à este “Gothic”, certamente um dos
trabalhos dele que mais gostei. Mas ele não é, de maneira nenhuma, para todos
os públicos. É difícil, denso e provocativo, em níveis que um expectador de
cinema normal definitivamente não está habituado.
Numa noite, em 1816, o poeta Lord Byron recepcionou
o também poeta Percy Shelley, sua noiva Mary e sua cunhada Claire, além do
amigo Dr. John Polidori.
Incitados pela verve niilista e desafiadora de
Byron, os convidados mergulham numa jornada pavorosa e alucinógena noite
adentro.
Como é habitual ao seu estilo e personalidade,
o diretor Ken Russel cria um delirante espetáculo de terror ao reconstituir um
episódio real, do qual teria surgido a inspiração para os clássicos literários
“O Vampiro” de Polidori e, especialmente, “Frankenstein” de Mary Shelley. Os
atores, seguindo uma orientação comum nos filmes de Russel, oscilam entre uma
compenetração comedida e louvável e uma entrega visceral e desconcertante (e o
mais particularmente empenhado nesse objetivo é Gabriel Byrne). Os momentos de
pesadelo, sublinhados pela intrusiva trilha sonora, vão se intensificando numa
progressão incontornavelmente perturbadora, culminando na seqüência final, de
pleno delírio, intercalada pelas mais intensas rimas visuais que Russel já
orquestrou.
Contra ele, pode-se dizer
que as extravagâncias de Ken Russel são de gosto duvidoso (embora “Gothic”,
apesar de tudo isso, continue um filme fascinante), a favor dele, pode-se dizer
que é impossível ficar indiferente aos projetos que escolhe.
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