sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Aquaman

É comum acontecer de diretores oriundos exclusivamente de filmes de terror fazerem trabalhos espetaculares quando lidam com material hollywoodiano –foi assim, por exemplo, com “O Senhor dos Anéis” que ganhou do diretor Peter Jackson um tratamento que conciliou suas muitas facetas num todo primoroso graças à sua capacidade de enfatizar um insuspeito peso dramático.
Essa mesma percepção se repete em “Aquaman”, que o diretor James Wan, vindo dos bem-sucedidos “Invocação do Mal”, trata de eleger, com seu invulgar domínio narrativo, a melhor produção de um personagem da DC Comics até então, passando a frente do ótimo “Mulher Maravilha” e estabelecendo um belíssimo (e ocasionalmente elevado) padrão de qualidade para os claudicantes “Liga da Justiça”, “Batman Vs Superman” e afins.
Por sinal, fica claro na trama que o longa se passa depois dos eventos relatados em “Liga da Justiça” –onde o Aquaman foi de papel essencial –mas, uma breve menção é tudo que o diretor James Wan se presta a fazer; todo o restante do filme pertence ao seu protagonista e à fascinante mitologia que ele construiu com zelo e empenho em torno dele.
Arthur Curry (Jason Momoa, abraçando o protagonismo com um carisma inquestionável) pertence a dois mundos –por um lado, ele é filho da poderosa rainha Atlana (Nicole Kidman, fantástica), por outro, seu pai vem a ser o humilde faroleiro Thomas Curry (Temuera Morrison). Ambos se encontraram quando Atlana se feriu num combate e, à deriva, foi parar no litoral do chamado “mundo da superfície”. Do amor entre o terráqueo e a atlante, nasceu Arthur, um filho do qual ela teve de abrir mão para que os atlantes –sempre hostis e arredios para com o povo da superfície –não viessem atrás dele.
Arthur cresceu alheio e indiferente à sua herança atlante –usando seus poderes, como pudemos notar no filme da Liga da Justiça, para salvar pescadores aqui e ali –até que o guerreiro Vulko (Willen Dafoe), a pedido de Atlana, aparece para treiná-lo.
Assim, Arthur descobre que tem um irmão, Orm (Patrick Wilson, o ator-assinatura de James Wan) e que na sua ausência, é Orm quem subirá ao trono decretando uma guerra contra a superfície que terminará em prejuízo para ambos os lados.
É a belíssima Mera (Amber Heard, uma aparição aqui tanto quando em “All Boys Love Mandy Lane”, que a revelou) que aparece –depois de seu rápido encontro em “Liga da Justiça” –para lhe afirmar que o único meio de deter Orm é reclamando seu direito, como primogênito, ao trono.
Mas, a impulsividade Arthur o coloca em desvantagem contra Orm (e ainda quase lhe custa a própria vida): Para sobrepuja-lo de uma vez, Arthur deve assim encontrar o lendário tridente perdido do primeiro rei atlante.
Sensato, o diretor James Wan estrutura seu roteiro com base nos mais indiscutíveis e certeiros conceitos da jornada do herói, pontuando a partir de um determinado momento a busca por um artefato precioso quase como uma saga de “Indiana Jones” –há, portanto, em seu enredo, todas as reflexões necessárias a respeito de valor, legado, herança e responsabilidade, e ele amadurece seu personagem principal com base nessas características enquanto emoldura nele um filme de rara beleza épica a aportar nos cinemas: Não é exagero afirmar que as batalhas grandiloquentes que ocupam a tela no terço final ombreiam em refinamento e fulgor visual com as memoráveis sequencias de “O Senhor dos Anéis”!
É, pois, algo até irônico: Vítima constante de piadinhas acerca de sua relação com peixes e suas habilidades aquáticas em comparação com os desprendidos Superman e Batman, o atlante Aquaman ganha aqui um filme majestoso, invulgar e antológico que o põe anos-luz à frente das produções recentes daqueles outros heróis, e cuja excelência fará qualquer um engolir em seco ao tentar fazer alguma piadinha sobre ele no futuro.

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