Das tantas referências que povoaram a obra de
Brian De Palma, uma das mais incomuns certamente foi Michelangelo Antonioni e
seu “Blow Up-Depois Daquele Beijo”.
Não que o suspense não fosse um dado expressivo
na filmografia do italiano; mas, De Palma parecia muito mais a vontade com as
obras abertamente comerciais e populares de Alfred Hitchcock do que com o teor
existencial de Antonioni.
Todavia, ele extraiu de “Blow Up” exatamente
aquilo que o ancorava no gênero –o básico de sua premissa –e transfigurou-o num
filme inteligível, nada hermético e despido de devaneios mais artísticos,
batizado de “Blow Out” a título de homenagem.
Se em “Blow Up” a dúvida do crime deflagrado ou
não gira em torno de um fotógrafo, aqui De Palma contrapõe o video ao audio e
faz protagonista um técnico sonoplasta de filmes B de terror interpretado por
um jovem John Travolta ainda na inércia de sua indicação ao Oscar de Melhor
Ator por “Embalos de Sábado À Noite” –ele é Jack Terry, cujo hábito mais
incomum é sair pela cidade à noite captando sons aleatórios com sua
aparelhagem; tais sons podem vir a ser uteis na concepção dos efeitos sonoros
nos filmes em que trabalha.
Numa dessas ocasiões, Jack registra o audio de
um acidente: Um pneu de carro estoura fazendo o veículo cair em um rio, matando
um de seus ocupantes (um senador americano) e por pouco não levando também a
acompanhante dele, a prostituta Sally (Nancy Allen, namorada de De Palma na
época).
Não bastasse ser testemunha de uma morte
acidental que causa alvoroço no cenário político, Jack também descobre que, na
análise obcecada da fita que gravou no momento do acidente, existem pistas que
podem converter o imprevisto em um assassinato: Sobretudo, o som de um tiro que
fura o pneu do carro, um detalhe que o próprio Jack, como técnico de som, é
perfeitamente capaz de esclarecer em um tribunal.
Essas circunstâncias colocam Jack na mira do
soturno Burke (vivido com brilho sucinto por John Lithgow), um matador de
aluguel inicialmente contratado para a tarefa simples de dar cabo do senador.
Manipulando esses elementos
com uma competência que sempre deixou evidente que tinha, De Palma concebe um
de seus mais eletrizantes trabalhos do início dos anos 1980, pródigo no uso de
técnicas que ele já havia empregado com propriedade em realizações dos anos
1970, mas repleto de observações de natureza cinematográfica, de uma astúcia
narrativa e de um viés metalinguístico que certamente soavam inovadores.
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