domingo, 5 de junho de 2016

Sociedade dos Poetas Mortos

O ótimo e emocionante trabalho do diretor Peter Weir não deixou que o ingênuo público dos anos 1980, que prestigiou (e muito) o filme nos cinemas, percebesse um insuspeito caráter de transgressão disfarçado da mais pura e genuína ode à vida e à liberdade que impregnava esta maravilha da sétima arte.
Avesso à emoções fortes e apelos melodramáticos convencionais (como provam seus equilibrados, austeros e também magistrais “A Testemunha”, de 1985, “O Show de Truman” de 1999, e “Mestre dos Mares”, de 2003), o talentoso diretor australiano entrou numa fase mais emotiva no final daquela década, chegando a realizar até mesmo uma comédia romântica! Mas, uma comédia romântica que era, também ela, uma esmerada obra de cinema, com um roteiro inquestionável e um trabalho narrativo superior à muito drama vencedor de Oscar (e quando se tem Gerard Depardieu no elenco, o filme se torna, no mínimo, livre de críticas quanto às atuações): Tratava-se de “Green Card-Passaporte Para O Amor”, sobre o qual, inclusive já falei aqui.
O curioso é que, aparentemente, Peter Weir vinha planejando a algum tempo essa fase mais leve e agridoce: O roteiro de “Green Card” vinha sendo trabalho a alguns anos, e Weir tinha inclusive escrito especialmente para Depardieu.
Na qualidade de grande astro da França naquele período, o francês estava atarefado (no caso, filmando “Cyrano de Bergerác” que, em 1990, lhe deu uma indicação ao Oscar), e para conseguí-lo, Weir teria de adiar o início das filmagens.
Eis que ele contornou a ansiedade da espera preenchendo o tempo enquanto fazia um outro filme: “Sociedade dos Poetas Mortos”.
É curioso notar, portanto, que não passava pela cabeça de Weir o filme brilhante que ele estava fazendo. Desnecessário dizer que “Green Card”, ainda que ótimo, não teve metade da repercussão que o sensacional filme estrelado por Robin Willians obteve.
“Sociedade...” recebeu inúmeras indicações ao Oscar, inclusive de Melhor Diretor, para Weir, mas ganhou mesmo o de Melhor Roteiro Original, vem laureado uma de suas maiores forças: O script certeiro, enxuto, ponderado e essencial de Tom Schulman.
São meados da década de 1950, e a prestigiada escola norte-americana para meninos de Welton recebe um novo professor de poesia, John Keating (um inspirado Robin Willians), cuja desigual postura em sala de aula –ele inspira os alunos à um pensamento livre e questionador, abrindo mão de manuais e regras –encanta muitos dos alunos na mesma medida em que desperta a intolerância da direção da escola.
Surge então a dita Sociedade dos Poetas Mortos, um grupo composto de alunos que reúnem-se numa caverna para recitar poemas. Os jovens que formam esse grupo são inspirados assim a buscar seus sonhos, sejam eles materializados da forma que for.
Desde a feliz descoberta de um elenco homogêneo e competente de jovens atores até a sacada fantástica de colocar Robin Willians num papel dramático, tudo funciona a favor do filme. As cenas costuradas à medida que a narrativa avança são brilhantes e memoráveis em sua unidade: Os poemas na caverna; as sucessivas aulas de poesia onde Willians enche a boca com os monólogos extraordinários de seu personagem; a cena em que os jovens declamam uma frase e chutam bola; a tensa apresentação de teatro.
Nada, contudo, supera a emoção dos dez minutos finais, um momento que, ao som da sempre eficiente trilha sonora de Maurice Jarre, ouso dizer, está entre os mais tocantes do cinema.

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