sábado, 24 de maio de 2025

Um Filme Minecraft


 A verdade é que poucas pessoas colocavam fé num projeto que almejava adaptar para o cinema o jogo “Minecraft” –uma simulação onde crianças (pois, o jogo é mais voltado para elas...) constroem casas e edificações afim a partir de cubos feitos de diferentes materiais numa dimensão onde as leis da Física são mais simplificadas –sabendo então que o projeto era dirigido por Jared Hess, diretor do cultNapoleão Dynamite” e do simplesmente esquisito “Nacho Libre”, decretava de vez a morte comercial da produção. Contudo, eis que numa ironia extraordinária do destino, “Um Filme Minecraft” sagrou-se como a grande bilheteria do primeiro semestre do ano de 2025, esmagando feito um rolo compressor as ambições financeiras de “Branca de Neve”, da Disney –que estreou no mesmo período.

A tônica, como em alguns dos filmes realizados por Hess, é difícil de ser apreendida: “Um Filme Minecraft” é, sim, uma obra estranha, e tem orgulho disso. Seus personagens são desajustados, seus intérpretes são, num primeiro momento, escolhas pouco usuais. Sua trama é non-sense, sem muito propósito ou razão de ser e, em seus melhores momentos, fragmentada. Ainda assim, “Um Filme Minecraft” é muito, muito mais que a soma de suas partes.

Essa jornada tortuosa, ainda que sempre engraçada, começa com Steve (vivido por Jack Black, colaborador de Jared Hess em “Nacho Libre”) um cara comum que, na narração cheia de intensidade e energia de Black, afirma desde criança ter sempre nutrido o sonho de... garimpar numa mina! Quando adulto ele finalmente resolve fazê-lo e, durante uma de suas garimpagens, encontra uma espécie de cubo cósmico (a lembrar, de fato o Tesseract visto em “Vingadores”) que lhe permite ir para outra dimensão! –sim, a trama é absurda e, conforme avança, equilibra uma insanidade sobre a outra e segue em frente.

Essa outra dimensão –chamada Overworld ou Mundo Superior –corresponde pois ao ambiente do jogo “Minecraft”. É ali que o protagonista descobre que, usando dos cubos à disposição (lá tudo tem o formato quadrado), pode construir tudo o que quiser, com a restrição de sua própria imaginação. É ali, também, que Steve vive por anos, até que acidentalmente acaba indo parar em outro mundo, o Mundo Inferior, este dominado por porquinhos malignos (tão fofos quanto hilários!) que almejam chegar ao Mundo Superior para dominá-lo. Prisioneiro, Steve despacha seu cachorro, Dennis (que também é quadrado, como tudo o mais naquele lugar!), para o mundo real, onde deve esconder o cubo que abre o portal para o Mundo Superior.

Anos mais tarde, o ex-campeão de videogame Garett ‘O Lixeiro’ Garrison (Jason Momoa, engraçadíssimo, vivendo um daqueles personagens presos ao passado que o diretor Jared Hess tanto ama), Dawn (Danielle Brooks, da versão musical de “A Cor Púrpura”), uma corretora de imóveis e os jovens irmãos Natalie (Emma Myers, de “Manual de Assassinato Para Boas Garotas”, a única do elenco a trazer um registro dramaticamente inapropriado) e Henry (Sebastian Eugene Hansen) acabam encontrando o cubo e vindo para o Mundo Superior, onde acham Steve e seguem para... bem, não fica bem claro qual é o objetivo deles (!). Nem o tal Mundo Superior, nem o mundo real correm qualquer perigo na trama –mesmo os porquinhos, vilões do filme, não oferecem qualquer ameaça –e durante boa parte da segunda metade de “Um Filme Minecraft”, o propósito mais sólido do grupo de protagonistas reunidos por acaso parece ser o de encontrar o cachorro de Steve (!?).

Entretanto, da forma como o filme é conduzido, isso não importa. Cada cena é simplesmente um deleite, graças à sintonia do elenco reunido em cena –sobretudo, Jack Black e Jason Momoa que formam um par imbatível na manutenção de um humor improvável e contagiante –e às cenas estranhamente curiosas engendradas pelo diretor –artesão desacostumado com produções desse porte e com efeitos digitais, Jared Hess usa de sua inadequação com o material para benefício próprio e compõe um filme onde cada cena se sustenta com um propósito distinto; ainda que, no fim das contas, o objetivo cristalino seja sempre o de divertir.

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