A verdade é que poucas pessoas colocavam fé num projeto que almejava adaptar para o cinema o jogo “Minecraft” –uma simulação onde crianças (pois, o jogo é mais voltado para elas...) constroem casas e edificações afim a partir de cubos feitos de diferentes materiais numa dimensão onde as leis da Física são mais simplificadas –sabendo então que o projeto era dirigido por Jared Hess, diretor do cult “Napoleão Dynamite” e do simplesmente esquisito “Nacho Libre”, decretava de vez a morte comercial da produção. Contudo, eis que numa ironia extraordinária do destino, “Um Filme Minecraft” sagrou-se como a grande bilheteria do primeiro semestre do ano de 2025, esmagando feito um rolo compressor as ambições financeiras de “Branca de Neve”, da Disney –que estreou no mesmo período.
A tônica, como em alguns dos filmes realizados
por Hess, é difícil de ser apreendida: “Um Filme Minecraft” é, sim, uma obra
estranha, e tem orgulho disso. Seus personagens são desajustados, seus
intérpretes são, num primeiro momento, escolhas pouco usuais. Sua trama é non-sense, sem muito propósito ou razão
de ser e, em seus melhores momentos, fragmentada. Ainda assim, “Um Filme Minecraft”
é muito, muito mais que a soma de suas partes.
Essa jornada tortuosa, ainda que sempre
engraçada, começa com Steve (vivido por Jack Black, colaborador de Jared Hess
em “Nacho Libre”) um cara comum que, na narração cheia de intensidade e energia
de Black, afirma desde criança ter sempre nutrido o sonho de... garimpar numa
mina! Quando adulto ele finalmente resolve fazê-lo e, durante uma de suas
garimpagens, encontra uma espécie de cubo cósmico (a lembrar, de fato o Tesseract visto em “Vingadores”) que lhe
permite ir para outra dimensão! –sim, a trama é absurda e, conforme avança,
equilibra uma insanidade sobre a outra e segue em frente.
Essa outra dimensão –chamada Overworld ou Mundo Superior –corresponde
pois ao ambiente do jogo “Minecraft”. É ali que o protagonista descobre que,
usando dos cubos à disposição (lá tudo tem o formato quadrado), pode construir
tudo o que quiser, com a restrição de sua própria imaginação. É ali, também,
que Steve vive por anos, até que acidentalmente acaba indo parar em outro
mundo, o Mundo Inferior, este dominado por porquinhos malignos (tão fofos
quanto hilários!) que almejam chegar ao Mundo Superior para dominá-lo. Prisioneiro,
Steve despacha seu cachorro, Dennis (que também é quadrado, como tudo o mais
naquele lugar!), para o mundo real, onde deve esconder o cubo que abre o portal
para o Mundo Superior.
Anos mais tarde, o ex-campeão de videogame
Garett ‘O Lixeiro’ Garrison (Jason Momoa, engraçadíssimo, vivendo um daqueles
personagens presos ao passado que o diretor Jared Hess tanto ama), Dawn
(Danielle Brooks, da versão musical de “A Cor Púrpura”), uma corretora de
imóveis e os jovens irmãos Natalie (Emma Myers, de “Manual de Assassinato Para Boas Garotas”, a única do elenco a trazer um registro dramaticamente
inapropriado) e Henry (Sebastian Eugene Hansen) acabam encontrando o cubo e
vindo para o Mundo Superior, onde acham Steve e seguem para... bem, não fica
bem claro qual é o objetivo deles (!). Nem o tal Mundo Superior, nem o mundo
real correm qualquer perigo na trama –mesmo os porquinhos, vilões do filme, não
oferecem qualquer ameaça –e durante boa parte da segunda metade de “Um Filme
Minecraft”, o propósito mais sólido do grupo de protagonistas reunidos por
acaso parece ser o de encontrar o cachorro de Steve (!?).
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