Diretor peculiar e prolífico, Guy Ritchie já adentrou quase todos os gêneros desde que iniciou sua carreira com o cultuado “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”; e o mais impressionante é que ele mantém um ritmo de praticamente um filme por ano. Seria algo normal se fossem filmes ao estilo de Woody Allen (embora também nisso haja mérito), intimistas, dialogados e em baixa voltagem, no entanto, os filmes de Ritchie são cheios de energia, dinâmicos, atrevidos para com a narrativa e inconformistas para com a técnica cinematográfica.
“A Fonte da Juventude”, como tantos antes dele,
vale-se da influência quintessencial de “Os Caçadores da Arca Perdida” em
particular, e das aventuras de Indiana Jones em geral, para trazer uma produção
elaborada em suas cenas de ação aventurescas e intrincada nas investigações
arqueológicas que a norteiam. O casal de irmãos, Luke (John Krasinski, diretor
e ator de “Um Lugar Silencioso”) e Charlotte Purdue (Natalie Portman) tem
maneiras diferentes de honrar o legado do pai, um lendário caçador de
relíquias: Enquanto Charlotte trabalha na curadoria de um museu de antiguidades
–acomodação que lhe permite levar uma vida doméstica, mas não privada de
aborrecimentos (como atesta seu iminente divórcio) –Luke viaja ao redor do
mundo envolvendo-se em encrencas arriscadas para pôr a mão em tesouros
inestimáveis em nome da História e da Ciência. O caminho dos dois se cruza
quando o milionário Owen Carver (Doomnhall Gleeson) contrata Luke, sob a
condição de ter também o gênio dedutivo de sua irmã, para encontrar a mítica
fonte da juventude: Owen padece de câncer e a fonte, ele supõe, deve conter as
propriedades curativas que haverão de salvá-lo. E Owen tem dinheiro de sobra
pra financiar a empreitada com toda a sorte de bugiganga tecnológica à
disposição.
E aí entra, nesse diferencial estilístico,
outra característica que visa afastar um pouco a obra de Guy Ritchie da
comparação um tanto constrangedora com a obra-prima de Steven Spielberg: Em “A
Fonte da Juventude”, o fato da trama se situar no tempo presente está visível
em cada detalhe, sobretudo, no vasto aparato digital do qual os protagonistas e
seus genéricos coadjuvantes lançam mão para decifrar a quase indecifrável
trilha de pistas dispostas ao redor do mundo, nas mais diversas preciosidades
históricas, que levarão à dita fonte da juventude. E isso, consequentemente,
aproxima o filme de “O Código Da Vinci” no desenrolar quase inverossímil de
pistas absurdamente eruditas e elaboradas que se sucedem –inclusive, Luke, o
protagonista vivido por John Krasinski tem, sim, muito de Indiana Jones (o
desembaraço quase sobrehumano nas cenas de ação e –vá lá –o carisma do ator),
mas tem muito de Robert Langdom também (o vasto conhecimento acadêmico em
simbologias e relíquias antigas que convenientemente vem sempre a calhar).
Em algum momento, a fim de tornar mais
interessante e conflituoso esse caminho, surge um grupo de mercenários instruídos
a impedir qualquer avanço de investigadores ocasionais na aproximação da fonte
da juventude, esses mercenários são liderados pela habilidosa Esme (Eiza
González, de “Em Ritmo de Fuga”) que, ao longo das idas e vindas e dos
percalços nada tranquilos de seu embate com Luke, vai estabelecendo com ele uma
relação algo ambígua –e que já se vê posicionada para ser melhor desenvolvida
nas potencialmente vindouras continuações do filme.
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