quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Fonte da Juventude


 Diretor peculiar e prolífico, Guy Ritchie já adentrou quase todos os gêneros desde que iniciou sua carreira com o cultuado “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”; e o mais impressionante é que ele mantém um ritmo de praticamente um filme por ano. Seria algo normal se fossem filmes ao estilo de Woody Allen (embora também nisso haja mérito), intimistas, dialogados e em baixa voltagem, no entanto, os filmes de Ritchie são cheios de energia, dinâmicos, atrevidos para com a narrativa e inconformistas para com a técnica cinematográfica.

“A Fonte da Juventude”, como tantos antes dele, vale-se da influência quintessencial de “Os Caçadores da Arca Perdida” em particular, e das aventuras de Indiana Jones em geral, para trazer uma produção elaborada em suas cenas de ação aventurescas e intrincada nas investigações arqueológicas que a norteiam. O casal de irmãos, Luke (John Krasinski, diretor e ator de “Um Lugar Silencioso”) e Charlotte Purdue (Natalie Portman) tem maneiras diferentes de honrar o legado do pai, um lendário caçador de relíquias: Enquanto Charlotte trabalha na curadoria de um museu de antiguidades –acomodação que lhe permite levar uma vida doméstica, mas não privada de aborrecimentos (como atesta seu iminente divórcio) –Luke viaja ao redor do mundo envolvendo-se em encrencas arriscadas para pôr a mão em tesouros inestimáveis em nome da História e da Ciência. O caminho dos dois se cruza quando o milionário Owen Carver (Doomnhall Gleeson) contrata Luke, sob a condição de ter também o gênio dedutivo de sua irmã, para encontrar a mítica fonte da juventude: Owen padece de câncer e a fonte, ele supõe, deve conter as propriedades curativas que haverão de salvá-lo. E Owen tem dinheiro de sobra pra financiar a empreitada com toda a sorte de bugiganga tecnológica à disposição.

E aí entra, nesse diferencial estilístico, outra característica que visa afastar um pouco a obra de Guy Ritchie da comparação um tanto constrangedora com a obra-prima de Steven Spielberg: Em “A Fonte da Juventude”, o fato da trama se situar no tempo presente está visível em cada detalhe, sobretudo, no vasto aparato digital do qual os protagonistas e seus genéricos coadjuvantes lançam mão para decifrar a quase indecifrável trilha de pistas dispostas ao redor do mundo, nas mais diversas preciosidades históricas, que levarão à dita fonte da juventude. E isso, consequentemente, aproxima o filme de “O Código Da Vinci” no desenrolar quase inverossímil de pistas absurdamente eruditas e elaboradas que se sucedem –inclusive, Luke, o protagonista vivido por John Krasinski tem, sim, muito de Indiana Jones (o desembaraço quase sobrehumano nas cenas de ação e –vá lá –o carisma do ator), mas tem muito de Robert Langdom também (o vasto conhecimento acadêmico em simbologias e relíquias antigas que convenientemente vem sempre a calhar).

Em algum momento, a fim de tornar mais interessante e conflituoso esse caminho, surge um grupo de mercenários instruídos a impedir qualquer avanço de investigadores ocasionais na aproximação da fonte da juventude, esses mercenários são liderados pela habilidosa Esme (Eiza González, de “Em Ritmo de Fuga”) que, ao longo das idas e vindas e dos percalços nada tranquilos de seu embate com Luke, vai estabelecendo com ele uma relação algo ambígua –e que já se vê posicionada para ser melhor desenvolvida nas potencialmente vindouras continuações do filme.

“A Fonte da Juventude” traz elementos de sobra para agradar aqueles que não se incomodarem tanto com sua falta de originalidade: Do início ao fim, vem adornado com o dinamismo característico de Guy Ritchie na direção, é uma produção farta na pirotecnia das cenas de ação, e seu elenco, no mais, dá conta do recado (sem falar que o foco principal em dois irmãos ao invés do usual casal romântico é bem curioso), contudo, ainda não foi dessa vez que o cinema conseguiu capturar aquela magia presente nas realizações espetaculares que Spielberg entregou nos anos 1980. E essa falha não é exclusividade dos imitadores: O próprio Indiana Jones, em sua produção mais recente, “Indiana Jones e A Relíquia do Destino”, não foi capaz de resgatar o mesmo encanto e fascínio com que fez nascer, no passado, todo um subgênero de aventura arqueológica à moda antiga.

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