Assimilando com rara compreensão uma série de
regras deixadas por hábeis diretores de filmes de terror ao longo da história,
este filme, um dos mais assustadores dos últimos tempos, não baseia seus sustos
no som, mas, ao contrário, no silêncio.
Ambientado em algum ponto de um desolado futuro
onde o mundo sofreu os ataques de monstros perigosíssimos que não podem
enxergar, mas podem ouvir, “Um Lugar Silencioso” acompanha uma família composta
pelo pai (John Krasinski, também diretor do filme), pela mãe (Emily Blunt,
casada com Krasinski na vida real) e pelos filhos, Noah Jupe (de
“Extraordinário”) e Millicents Simmonds (que interpreta uma surda-muda) –e cuja
deficiência auditiva é trabalhada com notável eficácia dramática pela
narrativa, seja na hábil construção da personagem ou nas situações em que ela
se vê, como os outros, a tentar passar despercebida dos algozes cegos.
Há um terceiro filho mais novo que é atacado
pelos monstros já na primeira cena, na qual fica bem claro o temor onipresente
e completamente justificado que os personagens experimentam o tempo todo.
Nesse mundo dominado por silêncio, cada mínimo
ruído pode ser a diferença entre a vida e a morte: Os monstros identificam os
menores sons.
É necessário andar descalço e sorrateiramente
(e quase sempre sobre trilhas feitas com areia). A comunicação se dá só por
meio de linguagens de sinal –pouco se ouve a voz uns dos outros. Todos os
utensílios e atividades que fazem barulho são abolidos.
É o único meio de sobreviver.
Entretanto, há uma complicação para esta
família em questão: A mãe está grávida. Logo, o bebê irá nascer, e todas as
precauções precisam ser tomadas para que os sons involuntários que disso possam
advir não atraiam as criaturas.
Todavia, os quarenta minutos finais –quando a
família casualmente se separa e as dolorosas contrações do parto se iniciam
–são uma aula de como construir simultâneos momentos aflitivos no cinema (com
destaque para o show de atuação de Emily Blunt na asfixiante cena dentro da
banheira).
Sensato, Krasinski segue fielmente as lições
deixadas por Steven Spielberg em “Tubarão”, e outras por M. Night Shyamalan em
“Sinais”, “A Vila” e “O Sexto Sentido”: A sugestão, mais que qualquer artifício
espalhafatoso ou pirotécnico, é o verdadeiro cerne da apreensão.
Em meio ao silêncio esmagador que predomina na
narrativa –e que promove uma imersão incomum no cinema moderno –os sons, quando
ocorrem, explodem em cena com sobressaltos irreprimíveis.
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