Projeto do diretor Christopher Nolan ensanduichado entre “Batman Begins” e “Batman-O Cavaleiro das Trevas”, este “O Grande Truque” pode ter sido encarado por ele como um respiro da imersão no universo de histórias em quadrinhos, imergindo, em contrapartida, nos meandros nebulosos e enigmáticos do mundo dos ilusionistas.
Curiosamente, na mesma época, outro trabalho
brilhante, “O Ilusionista”, de Neil Burger, com Edward Norton, também dividiu
com ele o mesmo tema, os louros da crítica e algum sucesso de bilheteria. Na
comparação com a aventura mais singela estrelada por Edward Norton, “O Grande
Truque” é logística e narrativamente ambicioso lançando mão de muitas
aspirações cerebrais que Nolan só iria amplificar em obras futuras,
transformando em seu grande diferencial, como realizador, esse esforço em
conciliar, em blockbusters nada discretos, essa predisposição autoral e até
intelectual com narrativas escapistas para as massas.
Muitos podem dizer que “O Grande Truque” é
desafiador até demais para as percepções do público: Pra começar, há um esforço
claro de Nolan e dos atores Hugh Jackman e Christian Bale em tornar ambígua a
disputa implacável e incessante entre os mágicos ilusionistas Robert Angier e
Alfred Borden. À despeito dessa disputa –mote central do filme –envolver os
atores que viviam então Wolverine e Batman nas telas (e de ser esse embate uma
clara referência aos olhos do público), não há distinção de bem e mal esboçada
nas caracterizações; um elemento corajoso, mas que pode desanimar uma parte
considerável da audiência.
Angier é frívolo, amargurado e rancoroso.
Borden é arrogante, presunçoso e esnobe. São personagens construídos não para
cativar de pronto o público, mas para enfatizar a ele suas características
humanas e, não raro, reprováveis: Em ambos jaz uma obsessão injustificada de
superar as realizações do outro.
Para cada truque de mágica que Angier elabora,
Borden já tem um novo para arrebatar o público e lhe roubar alguns expectadores
em plena Londres do Século XIX. Entretanto, sabemos que algo deu tremendamente
errado: O filme já se inicia com Borden na cadeia por um crime estarrecedor. Os
propósitos que levaram a esse crime são então esmiuçados num flashback –recurso
que a narrativa de Nolan usa até levar o público a perder o fio da meada –e
dizem respeito aos truques de mágica que, encenados noite após noite nos palcos
londrinos, serviram de duelo entre dois homens dispostos a serem insuperáveis
em seu ofício.
Levando o conceito de disputa às últimas
consequências, Nolan arremessa seus protagonistas num empate que ganha
circunstâncias cada vez mais fantasiosas e imprevisíveis –e, portanto,
trágicas.
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