sexta-feira, 28 de julho de 2017

Encurralado

Steve Spielberg costuma refutar as suposições presunçosas a respeito de seu primeiro filme “Encurralado” (uma delas, dizia, por exemplo, que era uma alegoria sobre a luta de classes) afirmando que quis fazer apenas um bom e envolvente conto de suspense.
À época, Spielberg não sabia em quem viria a se tornar –e nem que “Encurralado” seria um dos poucos títulos de suspense de sua ampla filmografia –entretanto, muito de seu estilo característico já se percebe neste notável trabalho televisivo: O senso de aventura certeiro, a habilidade com os atores e uma visão intuitiva carregada de primor dos meandros técnicos a artísticos (bem como a maneira com que eles convergem) de um filme.
É uma estrada arenosa e deserta. Tão longa é a viagem e tão monótona se torna que o motorista (Dennis Weaver, registrando com excelência a perplexidade do personagem) logo começa a falar sozinho. Percebemos com isso que ele se irrita facilmente com o misterioso motorista de um caminhão que se põe a sua frente.
A irritação, entretanto, será o de menos: Ele tenta fazê-lo colidir com outro carro ainda no início, para depois, tornar-se onipresente na estrada que ele percorre, ameaçando-o com suas dimensões avantajadas em comparação à timidez de seu pequeno carro popular.
Seu poderoso motor, amaciado para andar em estradas, consegue oprimir a pequena condução quando está atrás dele nas subidas e declives, e seu peso descomunal o transforma quase num rolo compressor quando estão em uma descida.
Aos poucos, o caminhão, seja ele dirigido por quem for (e o rosto de seu condutor nunca é mostrado), revela uma sanha inesperada por persegui-lo e, quem sabe, até matá-lo.
A simplicidade e a economia de recursos é, com freqüência, a grande sacada do roteiro de Richard Matheson e da direção de Spielberg. Não tarda para que eles percebam o grande poder visual e magnético (e amedrontador) que o velho caminhão tem na medida em que a narrativa faz dele um personagem; o verdadeiro vilão do filme e não o motorista que o conduz.

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