sexta-feira, 28 de julho de 2017

Häxan - A Feitiçaria Através dos Tempos

O diretor Benjamin Christensen, ainda na época do cinema mudo, quando convenções de gênero ainda estavam em processo de serem definidas, concebeu esta experiência sensorial que pode-se, em grande medida, ser considerada um filme de terror, embora seja também uma hábil miscelânea de registros fictícios com linguagem documental, o quê, para efeitos dramáticos, contribui para sua atmosfera amedrontadora e realista, um elemento narrativo sempre eficaz para a suspensão de crença do público –não à toa, ao lado de tantos outros ótimos e obscuros exemplares, como “Os Demônios”, de Ken Russell, e "Madre Joana dos Anjos”, de Jerzy Kawalerowicz, “Haxan” foi uma das influências de William Friedkin para conceber seu seminal “O Exorcista”.
Christensen (que, no filme, se deu ao luxo de interpretar o capeta!) monta uma narrativa episódica –são sete segmentos –que passeia pela Idade Média, flagrando casos de possessão demoníaca, de perseguição a supostas ‘bruxas’ e outros acontecimentos sobrenaturais, deflagrados em sua maioria pelo corrosivo medo que o ser humano alimenta pelo desconhecido.
Lançando mão de um elaborado trabalho de cena –e plenamente digno de admiração, onde se percebe as grandes influências dos pintores Hieronymus Bosch e Peter Bruegel (brilhantes estetas da condição humana) na orientação de sua identidade visual –o diretor Cristensen pinça seqüências viscerais envoltas em fabulosa aura de folclore, usando muitos dos fatores narrativos a sua disposição para conduzir uma observação nem sempre óbvia da justaposição perigosa e equivocada do misticismo com a superstição, levando esses flagrantes eficientes de choque a integrar uma analogia que se estabelece com os comportamentos (e as imposições) vistas na atualidade.
Construído de maneira essencialmente subjetiva (e não raro, refletindo em sua narrativa as inclinações ideológicas explícitas de seu diretor), “Häxan” preserva intacta a sua capacidade de intrigar o expectador, no comentário irônico que seu registro desigual consegue obter.

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