É angustiante a vida do protagonista (Jeff
Daniels) deste filme carregado de uma aura onírica: Desesperado à procura da
esposa que não voltou mais para casa, ele, um professor universitário, telefona
para a polícia e para outras pessoas numa noite de madrugada.
Embora paire no ar a possibilidade –sugerida
por terceiros –dela lhe ter abandonado, ele prefere ater-se à alguma esperança,
ainda que o fato de o tempo passar e poucas noticias surgirem indique uma
dedução macabra.
Enquanto a noite avança, ele recebe súbitas
visitas de pessoas que lhe fornecem respostas vagas, pistas falsas ou meras
especulações: um policial sem muito ânimo para investigação; uma aluna atraente
que parece insinuar-se para ele (a bonitinha Emily Bergl); um detetive a lhe
alarmar com estranhas perguntas e alegações (Gil Bellows); o amante de sua
esposa (Julian McMahon); e outros. Existem detalhes nessa estranha rotina que
lhe escapam, ao mesmo tempo em que formam um panorama alarmante de pesadelo:
Não há como discernir sequer o dia em que se encontra, e são cada vez mais
constantes as alucinações que o assombram e o fazem perder a noção de
realidade.
Impressionante o quanto é desconhecido este
filme até bastante satisfatório no clima de suspense psicológico e na
materialização de uma atmosfera incategorizável de sonho a que se propõe, onde
o diretor Michael Walker lança mão de uma premissa na qual muitos cinéfilos
enxergarão grande semelhança com o ponto de partida de um dos mais festejados
trabalhos de David Lynch, o intrigante “A Estrada Perdida”: O personagem
principal cujas percepções, à margem da realidade, vão lhe revelando algo de
macabro –às vezes até acerca de si mesmo –a partir de uma situação banal e
doméstica.
Lynch de fato é uma
influência e tanto para a postura da direção sempre envolvente e inusitada
deste pequeno e interessante conto sobre as armadilhas da psicose –nada medida
do possível em que o inimitável Lynch pode ser uma inspiração. Nessa
comparação, Walker se sai até muito bem, e constrói com correção, habilidade e
propriedade um suspense enxuto e inquietante no qual as elucidações são sempre
desafiadoras, e o real se confunde com a ilusão.
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