sábado, 29 de julho de 2017

Alucinado

É angustiante a vida do protagonista (Jeff Daniels) deste filme carregado de uma aura onírica: Desesperado à procura da esposa que não voltou mais para casa, ele, um professor universitário, telefona para a polícia e para outras pessoas numa noite de madrugada.
Embora paire no ar a possibilidade –sugerida por terceiros –dela lhe ter abandonado, ele prefere ater-se à alguma esperança, ainda que o fato de o tempo passar e poucas noticias surgirem indique uma dedução macabra.
Enquanto a noite avança, ele recebe súbitas visitas de pessoas que lhe fornecem respostas vagas, pistas falsas ou meras especulações: um policial sem muito ânimo para investigação; uma aluna atraente que parece insinuar-se para ele (a bonitinha Emily Bergl); um detetive a lhe alarmar com estranhas perguntas e alegações (Gil Bellows); o amante de sua esposa (Julian McMahon); e outros. Existem detalhes nessa estranha rotina que lhe escapam, ao mesmo tempo em que formam um panorama alarmante de pesadelo: Não há como discernir sequer o dia em que se encontra, e são cada vez mais constantes as alucinações que o assombram e o fazem perder a noção de realidade.
Impressionante o quanto é desconhecido este filme até bastante satisfatório no clima de suspense psicológico e na materialização de uma atmosfera incategorizável de sonho a que se propõe, onde o diretor Michael Walker lança mão de uma premissa na qual muitos cinéfilos enxergarão grande semelhança com o ponto de partida de um dos mais festejados trabalhos de David Lynch, o intrigante “A Estrada Perdida”: O personagem principal cujas percepções, à margem da realidade, vão lhe revelando algo de macabro –às vezes até acerca de si mesmo –a partir de uma situação banal e doméstica.
Lynch de fato é uma influência e tanto para a postura da direção sempre envolvente e inusitada deste pequeno e interessante conto sobre as armadilhas da psicose –nada medida do possível em que o inimitável Lynch pode ser uma inspiração. Nessa comparação, Walker se sai até muito bem, e constrói com correção, habilidade e propriedade um suspense enxuto e inquietante no qual as elucidações são sempre desafiadoras, e o real se confunde com a ilusão.

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