sábado, 29 de julho de 2017

O Último Samurai

Provavelmente o melhor trabalho do diretor Edward Zwick no terreno dos filmes épicos é, e continuará sendo por muito tempo, o brilhante drama de guerra “Tempo de Glória”, mas isso não significa que, nas décadas seguintes, ele não tenha tentado, senão superar sua obra-prima, ao menos igualá-la; esforços como o pouco conhecido e não muito eficiente “Coragem Sob Fogo” (com Meg Ryan e Denzel Washington) e este mais bem-sucedido “O Última Samurai” são indicações de um realizador que conseguiu conceber uma obra de qualidade espantosa até para si próprio, e que depois passou a tentar perseguir um novo pico de excelência.
E aqui ele até busca disfarçar bem esse objetivo: Se “Tempo de Glória” se passava na Guerra de Secessão Norte-Americana, “O Último Samurai” leva a ação para o Japão –ainda que partilhe do mesmo período de tempo, final do século XIX.
Nathan Algren, personagem de Tom Cruise, é, por sinal, um veterano daquela mesma guerra, beberrão e decadente por conta das agruras que as experiências em batalha lhe proporcionaram, ele é enviado por iniciativas privadas, como oficial militar norte-americano, ao Japão na esperança de que use sua habilidade em treinamento para auxiliar na luta contra samurais insurgentes que se opõem ao monopólio político americano sobre o Japão Imperial, uma situação que ele encara com o cinismo de quem pouco se importa.
É uma narrativa bastante norte-americana e, por isso mesmo, conivente, condescendente e dotada de considerável displicência em relação aos assuntos estrangeiros e da relação de superioridade dos EUA com eles. Ainda que inegavelmente charmosa.
O envolvimento de um astro como Tom Cruise promove, claro, uma abordagem respeitosa dessa outra cultura –no que o filme tem de mais admirável –embora essa percepção, de uma cultura distinta abordada com exotismo e indulgência jamais se dissipe.
As coisas mudam quando Algren chega ao Japão e, durante as primeiras batalhas logo é capturado e levado a um longínquo vilarejo comandado pelo samurai Katsumoto (Ken Watanabe, merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), um guerreiro devotado ao seu imperador e, por isso mesmo, líder de um movimento de oposição ao monopólio pernicioso praticado pelos americanos em sua terra.
Enquanto se recupera, longe do ambiente militarizado de onde veio, Algren toma contato com o ambiente genuíno do Japão, refletido naquele vilarejo, onde prevalece o modo de vida dos samurais, um código de conduta e nobreza ao qual ele resolve aderir (entre os outros samurais, lá está Hiroyuki Sanada, astro do maravilhoso “O Samurai do Entadecer”).
Livre e redimido, Algren retorna a civilização ciente de que deve buscar um meio pacifico na resolução do conflito, a fim de impedir que a cultura dos samurais seja esmagada. Mas em seu retorno um dilema crucial o aguarda.
O diretor Zwick tira de letra as facetas de superprodução do filme –leia-se, as belíssimas cenas coletivas de batalha que se intensificam, sobretudo, nos quarenta minutos finais, além desta ou daquela seqüência de luta –mas, sua grande responsabilidade ao abordar este projeto (e que, em parte, foi concluída com satisfação), é o modo com que se trabalha as complexas motivações de Katsumoto, um guerreiro que, como tal, só consegue –e só considera apropriado –expressar-se em meio às batalhas. A política é terreno, supõe ele, para indivíduos mais desenvoltos e manhosos. Daí, a dramaturgia visceral, traduzida neste ótimo épico de guerra, com que ele e seus aliados (Algren, incluso) tentam argumentar, por meio das batalhas que ganham ou que perdem, à sua autoridade maior, o imperador (mostrado como um jovem relutante e inseguro) e à ele clamar por um profundo respeito pelas suas culturas milenares.

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