Provavelmente o melhor trabalho do diretor
Edward Zwick no terreno dos filmes épicos é, e continuará sendo por muito
tempo, o brilhante drama de guerra “Tempo de Glória”, mas isso não significa
que, nas décadas seguintes, ele não tenha tentado, senão superar sua
obra-prima, ao menos igualá-la; esforços como o pouco conhecido e não muito
eficiente “Coragem Sob Fogo” (com Meg Ryan e Denzel Washington) e este mais
bem-sucedido “O Última Samurai” são indicações de um realizador que conseguiu
conceber uma obra de qualidade espantosa até para si próprio, e que depois
passou a tentar perseguir um novo pico de excelência.
E aqui ele até busca disfarçar bem esse
objetivo: Se “Tempo de Glória” se passava na Guerra de Secessão
Norte-Americana, “O Último Samurai” leva a ação para o Japão –ainda que
partilhe do mesmo período de tempo, final do século XIX.
Nathan Algren, personagem de Tom Cruise, é, por
sinal, um veterano daquela mesma guerra, beberrão e decadente por conta das
agruras que as experiências em batalha lhe proporcionaram, ele é enviado por
iniciativas privadas, como oficial militar norte-americano, ao Japão na
esperança de que use sua habilidade em treinamento para auxiliar na luta contra
samurais insurgentes que se opõem ao monopólio político americano sobre o Japão
Imperial, uma situação que ele encara com o cinismo de quem pouco se importa.
É uma narrativa bastante norte-americana e, por
isso mesmo, conivente, condescendente e dotada de considerável displicência em
relação aos assuntos estrangeiros e da relação de superioridade dos EUA com
eles. Ainda que inegavelmente charmosa.
O envolvimento de um astro como Tom Cruise
promove, claro, uma abordagem respeitosa dessa outra cultura –no que o filme
tem de mais admirável –embora essa percepção, de uma cultura distinta abordada
com exotismo e indulgência jamais se dissipe.
As coisas mudam quando Algren chega ao Japão e,
durante as primeiras batalhas logo é capturado e levado a um longínquo vilarejo
comandado pelo samurai Katsumoto (Ken Watanabe, merecidamente indicado ao Oscar
de Melhor Ator Coadjuvante), um guerreiro devotado ao seu imperador e, por isso
mesmo, líder de um movimento de oposição ao monopólio pernicioso praticado
pelos americanos em sua terra.
Enquanto se recupera, longe do ambiente
militarizado de onde veio, Algren toma contato com o ambiente genuíno do Japão,
refletido naquele vilarejo, onde prevalece o modo de vida dos samurais, um
código de conduta e nobreza ao qual ele resolve aderir (entre os outros
samurais, lá está Hiroyuki Sanada, astro do maravilhoso “O Samurai do Entadecer”).
Livre e redimido, Algren retorna a civilização
ciente de que deve buscar um meio pacifico na resolução do conflito, a fim de
impedir que a cultura dos samurais seja esmagada. Mas em seu retorno um dilema
crucial o aguarda.
O diretor Zwick tira de
letra as facetas de superprodução do filme –leia-se, as belíssimas cenas
coletivas de batalha que se intensificam, sobretudo, nos quarenta minutos
finais, além desta ou daquela seqüência de luta –mas, sua grande
responsabilidade ao abordar este projeto (e que, em parte, foi concluída com
satisfação), é o modo com que se trabalha as complexas motivações de Katsumoto,
um guerreiro que, como tal, só consegue –e só considera apropriado –expressar-se
em meio às batalhas. A política é terreno, supõe ele, para indivíduos mais
desenvoltos e manhosos. Daí, a dramaturgia visceral, traduzida neste ótimo épico
de guerra, com que ele e seus aliados (Algren, incluso) tentam argumentar, por meio
das batalhas que ganham ou que perdem, à sua autoridade maior, o imperador
(mostrado como um jovem relutante e inseguro) e à ele clamar por um profundo
respeito pelas suas culturas milenares.
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