Na transição das décadas de 1960 para 70, a atriz Carroll Baker curiosamente aderiu a um filão específico na Itália –os sexy gialli –no qual sagrou-se a estrela que ela nunca chegou a ser em terras norte-americanas. Neles, sua presença costumava ser o epicentro que movimentava todo o plot e suas personagens eram escritas com o esmero que os realizadores dedicam à suas musas inquestionáveis.
Belo exemplo disso é o suspense “Tão Doce
Quanto Perversa”, assinado por Umberto Lenzi, um dos diretores mais prolíficos
desse sub-gênero –e que, na verdade, fez de tudo um pouco naquele período,
inclusive infames exemplares do ciclo canibal.
“Tão Doce Quanto Perversa” é um pequeno conto
de traições que, tal como outros daqueles filmes, sacrificava certa lógica e
coerência para entregar reviravoltas em ritmo frequente, beneficiando-se ainda
de outro astro europeu da época, o austero Jean-Louis Trintignant. Ele
interpreta Jean, casado com a bela porém neurótica Danielle (Erika Blanc). O
casamento dos dois já se encontra em fase de deterioração –ele tem seguidos
casos extraconjugais como fica claro já nas cenas iniciais.
Logo, seu envolvimento com a sedutora vizinha
que se muda para a cobertura do andar de cima, Nicole (Carroll Baker,
indiscutivelmente bela), é consequência disso. Todavia, com Nicole as coisas
são diferentes: Jean se apaixona de fato por ela, desenvolvendo um senso de
proteção em relação a ela e ao homem que aparentemente abusou-a, e continua
abusando-a como seu marido, Klaus (Horst Frank).
Certamente os desdobramentos não param por aí,
mas o rumo dado pelos realizadores –sobretudo no que tange ao inspirado roteiro
de Ernesto Gastaldi –é um tanto improvável e desafiador aos mais aficcionados
do gênero; ainda que uma ou outra revelação de ultima hora seja, sim, possível
de ser antecipada. Entretanto, o que vale é que Umberto Lenzi concebeu uma obra
que nunca se acomoda nos expedientes de suspense que constrói oferecendo algo
novo a medida que avança. A partir do seu segundo terço, mal o expectador
assimila uma reviravolta e outra já se anuncia no horizonte. É bastante
interessante e certamente envolvente acompanhar a manutenção dessa proposta –a
de não haver uma certeza plena até o último instante da narrativa –mas, é
justamente esse arrojo que depõe contra o filme de Lenzi. Em determinado
momento não apenas as motivações parecem um tanto improváveis, para não dizer
contraditórias com relação ao modo como foram introduzidas e desenvolvidas,
como também essa atmosfera incerta não oferece ao público um personagem
específico com o qual se relacionar a contendo. Resta assim meramente
acompanhar a trama cujo interesse se esvai pela falta de protagonistas pelos
quais torcer.
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