sexta-feira, 28 de maio de 2021

Entre Facas e Segredos


 Após a polêmica recepção de “Star Wars-OsÚltimos Jedi” –que apesar de suas elevadas qualidades, dividiu os fãs –o roteirista e diretor Rian Johnson dedicou-se a um projeto capaz de acomodar sem estranhezas suas qualidades como realizador: Um suspense pontuado de enigmas a serem desvendados, no melhor estilo Aghata Christie.

Nele podemos, portanto, notar a grande especialidade de Johnson: Compor uma história cheia de mistérios e guinadas súbitas, onde cada elemento contribui para a manutenção de um suspense ferino, irônico e eficiente.

Uma semana depois que o escritor de best-sellers Harlan Thrombey (Christopher Plummer, sempre maravilhoso) é encontrado morto, sua jovem e dedicada enfermeira, Marta (Ana De Armas, sensacional) é chamada à mansão da família para uma nova rodada de interrogatórios. Desta vez, quem presta consultoria à polícia –já ávida por encerrar o caso dando a morte como suicídio –é o detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig, magnífico com um estudado sotaque do Kentuchi) que fora contratado por um misterioso cliente anônimo.

De imediato, Blanc identifica o ninho de cobras (e a coleção de suspeitos em potencial) que é a família do falecido: A indulgente filha mais velha, Linda (Jamie Lee Curtis), além de casada com o infiel Richard (Don Johnson), tem como filho o almofadinha Ramson (Chris Evans); o filho caçula, Walt (Michael Shannon), despido de qualquer talento, nada mais faz do que gerenciar de modo medíocre a fortuna produzida pelo pai; e a nora, Joni (Toni Collete), viúva do filho do meio, é uma socialite que procura extorquir dinheiro do milionário usando a faculdade da filha (Katherina Langford) como justificativa.

Na noite em que Harlan apareceu morto, todos tiveram seu tapete puxado pelo patriarca –e todos, portanto, tinham razões para matá-lo.

Contudo, o detetive Blanc identifica na humilde Marta uma peculiaridade que pode ajudá-lo em sua investigação: Por uma curiosa condição fisiológica, Marta vomita toda a vez que tenta mentir –entretanto, ainda assim, ela tem lá seus segredos à esconder!

A trama de “Entre Facas e Segredos” é um novelo que o roteiro não se furta de tornar ainda mais intrincado a medida que vai avançando sua narrativa (ou regressando, visto que muito dela se abastece de flashbacks que revitalizam algumas informações e, não raro, oferecem percepções opostas de informações previamente fornecidas); o que só denuncia o talento inquestionável de Johnson no equilíbrio de inúmeros elementos que regem o gênero, e no manejo hábil e esperto de detalhes que num momento parecem meros adereços, para no instante seguinte revelarem-se peças cruciais de suas imprevistas reviravoltas.

Um corpo inusitado no cinema norte-americano por sua inteligência e sagacidade, “Entre Facas e Segredos” faz o expectador vibrar de tempos em tempos com as guinadas magistrais de sua premissa, e com o teor incrivelmente envolvente de sua investigação, além de brindar o público com um elenco vasto, talentoso e estelar.

Um filmaço.

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