quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O Melhor Jogo da História


 Ainda nas primeiras décadas do Século XX, o jovem Francis Ouimet (Shi LaBeouf, despido dos cacoetes que depois comprometeram sua carreira) protagonizou uma circunstância de superação sem precedentes: Filho de um humilde operário (Elias Koteas), imigrante irlandês morador de Boston, ele, que até seus módicos 16 anos havia tão somente trabalhado como carregador de tacos no prestigiado clube de golfe local, inscreveu-se no disputado campeonato aberto de golpe, o U.S. Open, como amador. Até então, o clube e seus associados –abastados que, com frequência, confundiam tradição com elitismo –experimentavam um impasse indigesto: Os últimos campeonatos haviam sido conquistados por ingleses, no entanto, seu competidor, John McDermott (Michael Weaver), estava disposto a quebrar essa hegemonia e não deixar esse título escapar das mãos dos norte-americanos. O problema é que o então campeão mundial, o britânico Harry Vardon (Stephen Dillane, de “As Horas”) e seu parceiro Ted Ray (Stephen Marcus, de “Jogos, Trapaças e DoisCanos Fumegantes”) formavam uma dupla imbatível que não tarda, nas disputas eliminatórias, a deixar McDermott para trás e desclassificá-lo.

É o jovem Francis, subestimado como perdedor certo, quem vai galgando timidamente as posições do campeonato –auxiliado por seu ajudante infantil, e ladrão de cenas do filme, Eddie (o fantástico Josh Flitter, de “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”) –e termina disputando o primeiro lugar diretamente com os campeões do mundo.

Uma história real que parecia predestinada a se converter numa daquelas peças de cinema perfeitas a evocar a narrativa de perseverança e edificação das obras antológicas de Frank Capra –e só um estúdio subsidiário da Walt Disney mesmo, como a extinta Touchstone Pictures, para comprar, em pleno ano de 2005, tal ideia! Coube ao ator Bill Paxton reconhecer tais elementos de gênero tão prontamente identificáveis na história de Francis Ouimet e arregaçar as mangas como diretor (ele havia dirigido um único trabalho anteriormente, o terror “A Mão do Diabo”) para de fato transformá-la em filme.

Como numa atenciosa receita de bolo, todos os ingredientes estão lá, caprichosamente administrados: Junto da trama de superação e obstinação a recompensar a tenacidade dos puros de coração estão o romance de classes sociais distintas entre o protagonista proletário e a mocinha de família rica (Peyton List) –e, como tal, tanto o pai como o irmão dela se opõem firmemente (e vilanescamente) ao romance –a oposição paterna na qual o patriarca não consegue reconhecer o talento do filho e instala drama e conflito na narrativa ao impor sua retrógrada reprovação ao rapaz, e a amizade divertida, cheia de pequenas farpas, que nasce gradualmente, até converter-se em lealdade à toda prova, entre o protagonista e seu jovem escudeiro (carregador de tacos, no caso...).

Aproveitando habilmente alguns recursos cinematográficos à disposição –nos quais os jogos de golfe são convertidos em exercícios de envolvente virtuosismo com a câmera simulando o trajeto da própria bolinha até o buraco, e outros truques visuais interessantes –o diretor Paxton extrai de tudo isso um entretenimento simpático e agradável, cuja provável cumplicidade do expectador é recompensada com instantes de genuíno suspense durante os tensos vinte minutos finais. Seu único tropeço é o fato, um bocado incontornável, de que o golfe é um esporte frequentemente elitista, cujas regras e normas de postura são pouco conhecidas do público médio ao qual, em sua simplicidade, o filme parece se dirigir.

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