O período de intervalo entre o longa anterior
de Alfonso Cuarón (o fenomenal e contundente "Filhos da Esperança") e
este "Gravidade" foi de quase sete anos. E para quem, nas duas
últimas décadas viu-se fascinado com as obras brilhantes que ele entregava aqui
e ali, foi uma sentida ausência.
Desde o singelo e emocionante "A
Princesinha" era perceptível que havia algo de muito especial na visão
daquele jovem mexicano, tão interessado em movimentos de câmera pouco usuais,
em uma paleta de cores sempre incomum, de inusitado apelo sombrio, visivelmente
inclinado a planos sequências que pareciam muitas vezes desafiadores em termos
técnicos, e adepto quase sempre, de uma elaborado processo de criação: Essas
características intrínsecas e singulares não foram amenizadas nem quando ele
assumiu a direção do terceiro episódio da série "Harry Potter"; e com
ele terminou fazendo o melhor exemplar da saga.
Era, portanto, promissora a ideia do quê viria
pela frente quando Cuarón não apenas enveredou uma vez mais pelo terreno da
ficção científica, como também sua visão de como a trama se desdobraria era tão
carregada de ineditismo e de audácia visual, que toda uma nova tecnologia
precisou ser aprimorada para viabilizar as cenas.
Há que se honrar, em "Gravidade", não
só o toque artístico de Cuarón nas cenas maravilhosas que se seguem uma a uma,
mas uma sucessão de outros talentos, também eles superlativos: O autor da
trilha sonora, Steven Price; a atriz Sandra Bullock, e sobretudo, o diretor de
fotografia Emanuel Lubenski.
Todos são protagonistas desse esforço
cinematográfico único que proporciona uma dos filmes mais ímpares a surgir nas
telas em muitos anos.
Na trama, devido a uma incauta colisão com
destroços de lixo espacial, a doutora Ryan Stone (Bullock) e o astronauta
Walter Kovalsky (George Clooney, em curiosa e interessante participação)
vêem-se numa situação impossível: Flutuando à deriva no espaço, eles devem
encontrar um meio seguro de voltar para a terra, antes que seu oxigênio se
acabe.
E pronto, a partir do simples e incisivo
roteiro de Cuarón e seu filho, Jonás, está estabelecida a situação em torno da
qual o filme reflete: A vida a tentar prevalecer, a despeito da mais improvável
e inóspita das condições.
Munido de momentos concebidos pela mais alta e
refinada tecnologia, o talentoso diretor mexicano elabora para esse conto
poderoso sobre a fé e a necessidade humana de sobreviver ante as adversidades
extremas uma nova gramática cinematográfica, construindo sua narrativa a partir
de planos longos que nos deixam curiosos sobre como teriam sido feitos, e
instantes de silêncio, intercalados por uma vibração sonora que nos arrebata da
cena. Sua investigação versa de maneira sublime sobre as crenças que norteiam a
alma, e abrem espaço para um sem-fim de possibilidades, neste filme nunca menos
do que fascinante.
Uma obra-prima técnica e
artística agraciada com 7 merecidos Oscars.
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