O olhar da câmera do jovem diretor Sean Durkin
busca um registro frio de ambientes por meio dos quais a impressão de ar
rarefeito irá igualar o transtorno íntimo da protagonista.
Seu registro passa longe do que se pressupõe
por convencional, e seu propósito é o questionar normas narrativas que damos
como tão certas.
A jovem Martha (a acachapante Elizabeth Olsen),
durante dois anos, perdeu contato com a família (que por motivos trágicos e
nunca devidamente esclarecidos, resume-se a sua irmã mais velha, vivida por
Sarah Paulson).
Nesse tempo, ela esteve no que parece ser uma
espécie de seita ou culto, onde algumas jovens incluindo ela, por livre e
espontânea vontade submetiam-se à uma estranha e totalitária filosofia de vida,
de natureza brutalmente patriarcal, controlada pelo carismático e ameaçador
Patrick (John Hawkes, excelente).
Lá, a rotina de Martha –que ao ser recebida
ganhou outro nome –envolvia submissão forçada, estupros e uma estranha noção de
liberdade.
A verve inteligente, de valores cartesianos, de
Patrick revelou-se convincente a despeito de muitos momentos questionáveis que
ela testemunhou.
Somente após uma tragédia, o discurso de
Patrick soou, para Martha, aquilo que afinal ele era: Uma doutrina demagógica e
torpe, declamada por alguém cuja loquacidade servia apenas para disfarçar o próprio
egocentrismo.
Uma vez livre desse julgo, ela retorna ao
convívio com a irmã, só para descobrir que o período em que esteve distante
deixou profundas e poderosas seqüelas em seu psicológico.
Indo e vindo no tempo e embaralhando a percepção
cronológica tanto para sua protagonista quanto para a platéia, Sean Durkin, a
partir da premissa desigual e intrigante de seu curta-metragem "Mary Lust
Seen", cria um filme igualmente disperso, enigmático e desafiador que
muito lembra Michael Haneke e seu "Código Desconhecido".
Mas seu grande mérito é
mesmo a atuação rica e primorosa da jovem Elizabeth Olsen.
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